Capítulo 10

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Quando tive a idéia de irmos ao meu quarto, eu não pensei em todas as pistas que eu havia espalhado por ali. Também não imaginei que seria interrogado detalhadamente sobre cada elemento que descrevia tão bem a minha pessoa. Thamy indiretamente entendeu que aquelas pinturas me definiam, quando sentiu o impacto das legendas. Ela passou uns vinte segundos só olhando fixamente para mim, seus olhos clamavam desesperadamente encontrar o poço daquelas conspirações. Ela começou olhar de um canto a outro, talvez juntar as pinturas ou frases, alguma coisa ela estava tentando extrair dali.

— Quem tirou essas fotografias? — se levanta da cadeira e se aproxima do quadro, ele ficava na lateral da minha cama, porque eu precisava olhar cada imagem e guarda-las na minha memória.

— Eu.

— Você tem um olhar artístico sensacional. Tem mais alguma coisa sobre você que eu não saiba?

— Com certeza. Existe milhões de coisas sobre mim que você não faz ideia.

— E eu vou descobrir qual é o mistério escondido por trás desses seus lindos olhos — ela estreita os longos cílios negros.

Acho melhor não querer saber o que está escondido dentro deles, ou melhor, o quê os escondem.

— Melhor não querer descobrir — acabo falando o quê não deveria.

— É tão ruim assim?

— Depende de qual mistério você está falando.

— Então tem outros mistérios?

— Provavelmente. 

— Então porque não me conta? — eu não gosto desse jeito curioso dela.

— Um artista nunca revela os seus segredos.

— Então o que ele faz com os segredos? — me fita.

— Conta na arte, se a pessoa que está apreciando conseguir decifrar o que ele está querendo dizer, talvez ela consiga descobrir seus segredos.

— E você é assim?

— Fez essa pergunta só pra tentar descobrir meus segredos, não é?

— Eu não disse isso Sr. Waller — se defende, ela é trapaceira de mais.

— Nem precisa. 

— Você já expôs alguma obra? 

— Não. Eu não gosto de compartilhar a minha história. 

— Então os quadros e as fotografias é a sua história? — ela é bem esperta, mas adora fingir demência e me encher de perguntas.

— Talvez. Eu amo o que faço, e gosto de ter isso só pra mim. Mas eu tentei uma vez, o Dereck Stroc um amigo da minha mãe que trabalha na Tate Modern viu uma obra que eu fiz e ficou louco, aí eu concordei em expor. 

— Como você se sentiu? —  se senta em minha cama.

— Como se eu estivesse mostrando a minha vida pro mundo. E como você notou, eu não gosto de mostrar a minha vida pra ninguém.

— É eu notei. Mas e aí? O que você fez?

— Não quis mais expor, o cara até me ofereceu um emprego, porém houve um incidente e eu não fui — a verdade foi que eu fiquei cego da visão esquerda e não rolou, eu não quis ir. Não podia fingir que a deficiência não prejudicaria minha carreira.

— Devia ir mesmo assim, você é muito talentoso. Eu com certeza compraria uma obra sua. 

— Valeu, mas não dá.

Você Me Deu OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora