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O silêncio se esticava como cola entre nós. Thamy estava roendo a unha e balançando o pé sem parar, me impressionou ela não ter dado um surto e disparado a falar. Ela parecia travar uma guerra consigo mesma, e eu senti que por alguma razão eu estava lá envolvido nisso.
Queria saber o que passava na sua cabeça, e eu rezava para que eu não estivesse feito nada de errado ou comprometedor dessa vez. Esperava que o motivo não envolvia eu ter ido falar com ela mais cedo, já que nesse caso eu é quem tenho que ficar irritado.
A menos se ela estiver com vergonha de mim, e que nossa amizade precisar ser escondida do público chamado escola. Minha última e mais sustentável teoria é que ela não queira ser vista comigo.Eu sou o esquisitão e ela é a patricinha. Para eles há uma razão para existir uma vala entre esses dois "grupos", mas para mim o que importava era a explicação da Thamy. Porque pra mim estava tudo perfeito de mais para acabar assim. E eu iria acabar surtando se ela — a responsável por ter começado isso — não desse um jeito.
— Está pensando em quê? — pergunto a mesma que observava atentamente a chuva forte caindo do lado de fora.
— Nada importante — responde baixo. — Posso te fazer uma pergunta? — me encara pela primeira vez.
— Se precisa — dou de ombros e vejo ela dá uma leve mordida no lábio inferior.
— Você gosta de mim? Tipo, você sente alguma coisa por mim?
— Tá bom, eu não esperava que essa fosse a pergunta, mas sim. Eu gosto muito de você! Eu sei que é estranho e a gente se conhece a cinco dias, mas o que eu sinto quando eu estou com você é diferente. E... eu acho que estou apaixonado por você! — as palavras saíram tão rápido, que eu não sei se ela conseguiu entender. — Por quê me perguntou isso?
— Eu só queria saber, curiosidade. Eu tenho outra pergunta.
— Tá — ela coloca uma mecha do cabelo atrás da orelha e se vira pra mim.
— De onde você conhece a Ângela?
Pego de surpresa outra vez. Que perguntas são essas? Eu é quem deveria estar fazendo.
— O quê ela te falou? — Sinto meu humor mudar, eu não gosto de falar sobre ela.
— Ela não me disse nada e você não respondeu a minha pergunta — respiro fundo.
— Não quero falar sobre isso.
— Por quê? — altera sua voz. — Quando você vai me contar a verdade? Eu sei que tem alguma coisa de errado com você e sei que a Ângela está envolvida nisso. Então se você realmente gosta de mim você tem que me contar a verdade. O que aconteceu com a Ângela? Por quê ela te protege tanto?
Ela me protege? O quê essa garota têm com tantas perguntas que não diz respeito à ela?
— Você não tem nada haver com o que aconteceu. E eu não vou falar disso.
— Então o que você tem? Me conta Téo, me conta alguma coisa. Eu não quero ficar com uma pessoa sem saber quem ela é.
— Caramba Thamy — meu coração fica acelerado e sinto uma dor dentro do meu olho, sem pensar aperto o meu olho com a ponta dos dedos sentido doer ainda mais, abro meu olho com calma e estava tudo embaçado. Não tinha certeza se era por causa da chuva ou se havia algo errado comigo.
— Téo, fala — olho pra ela por um segundo e ela também estava completamente embaçada, então cheguei a conclusão que não era a chuva e sim a minha visão.
Comecei a ficar preocupado e meu coração acelerava ainda mais, eu precisava me acalmar ou algo ruim iria acontecer. A Thamy não parava de gritar e fazer perguntas, ela queria uma explicação, queria que eu falasse alguma coisa, mas não dava, eu estava assustado e preocupado com cada segundo.
— Thamy para de gritar por favor
— imploro.— Não Téo, eu não vou parar, quando você vai parar de se esconder? Tudo bem você se esconder das outras pessoas, mas não se esconda de mim — tava ficando insuportável, aperto os meus olhos novamente e ainda continua embaçado e tudo branco devido a chuva forte. Que merda, eu estava ficando nervoso e minha cabeça começava a doer. Seguro com força no volante e ela não parava de falar, tudo estava agitado dentro da minha mente como se um monte de pessoas falasse ao mesmo tempo, e quando eu estou nervoso eu não aguento barulho ou alguém falando na minha cabeça. Me assusto quando algo que julgo ser um carro passa ao meu lado buzinando alto.
— Téo você quase bateu naquele carro — a chuva caía cada vez mais forte. — Téo qual é o seu problema? Você está na contra mão — grita.
— Thamy você não está ajudando.
— Não estou ajudando? Se você continuar desse jeito vai acabar matando a gente. Diminui a velocidade — grita ao meu lado.
Eu não fazia mais ideia em qual direção o carro estava, só sei que eu estava completamente apavorado. Maldita hora...
— Qual é o seu problema? Parece que você não está enxergando.
— Não parece. EU NÃO ENXERGO — grito nervoso. — AGORA CALA ESSA DROGA DE BOCA QUE PRA MIM JÁ É ALGO ÚTIL.
— Aaaaaaaaaaaaa! — é a última coisa que escuto antes de sentir o impacto do carro, eu não sabia no que ele havia batido. Só sei que capotou, capotou e capotou caindo violentamente com as rodas pra cima.
Sinto fisgadas em minha cabeça e vontade de vomitar. Tudo girava e eu não conseguia focar meus olhos em nada, percebo que o vidro ao lado onde eu estava havia quebrado, tento olhar para Thamy e não consigo enxergar muito bem, mas parece que ela está desmaiada.
Saio me arrastando pela janela quebrada do carro sentindo alguns pedaços de vidro perfurar a minha pele. Assim que sinto o cheiro da chuva, misturada com pneu e sangue começo a vomitar desesperadamente, parecia que as minhas tripas estavam sendo colocadas pra fora. Aperto meus olhos para ver melhor e era sangue. Com muita dificuldade tento me levantar, minhas pernas não firmavam e doíam muito. Eu dava pequenos passos e caía, mas apoiando no carro consigo chegar do lado onde a Thamy estava e com o resto de força que havia em mim, arrasto-a pra fora do carro. Eu sabia que não podia fazer aquilo, eu aprendi uma vez que quando uma pessoa sofre acidente, você não pode toca-la. Caso ela tenha quebrado alguma parte do corpo pode ser bem arriscado você levanta-la. Só que eu queria muito saber se estava tudo bem com ela.
— Tha...my, Thamy — minha voz sai trêmula e em um sussurro. — Me des...culpa... me descul...pa Thamy — tento chamá-la, mas ela não movia um músculo. Sinto minha cabeça doer tanto que parecia que alguém havia dado várias pauladas nela.
— Socor...ro, soc...orro! — me levanto e grito, mas não aparece ninguém. Tento localizar aonde eu estava, mas a minha visão não estava ajudando, sem contar que tudo ainda girava e girava. Sinto meu corpo cambalear e se chocar com força no chão... e daí não vejo mais nada, só o breu.
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Você Me Deu Olhos
Romance"A gente precisa aprender abrir mão das coisas que amamos" Para Teodoro Waller um jovem inglês de dezessete anos, isso era uma bobeira. Até ele ser diagnosticado com melanoma ocular quando tinha apenas doze anos de idade. Porém aprender a conviver...