Capítulo 23

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O silêncio se esticava como cola entre nós. Thamy estava roendo a unha e balançando o pé sem parar, me impressionou ela não ter dado um surto e disparado a falar. Ela parecia travar uma guerra consigo mesma, e eu senti que por alguma razão eu estava lá envolvido nisso.

Queria saber o que passava na sua cabeça, e eu rezava para que eu não estivesse feito nada de errado ou comprometedor dessa vez. Esperava que o motivo não envolvia eu ter ido falar com ela mais cedo, já que nesse caso eu é quem tenho que ficar irritado.
A menos se ela estiver com vergonha de mim, e que nossa amizade precisar ser escondida do público chamado escola. Minha última e mais sustentável teoria é que ela não queira ser vista comigo.

Eu sou o esquisitão e ela é a patricinha. Para eles há uma razão para existir uma vala entre esses dois "grupos", mas para mim o que importava era a explicação da Thamy. Porque pra mim estava tudo perfeito de mais para acabar assim. E eu iria acabar surtando se ela — a responsável por ter começado isso — não desse um jeito.

— Está pensando em quê? — pergunto a mesma que observava atentamente a chuva forte caindo do lado de fora.

— Nada importante — responde baixo. — Posso te fazer uma pergunta? — me encara pela primeira vez. 

— Se precisa — dou de ombros e vejo ela dá uma leve mordida no lábio inferior. 

— Você gosta de mim? Tipo, você sente alguma coisa por mim?

— Tá bom, eu não esperava que essa fosse a pergunta, mas sim. Eu gosto muito de você! Eu sei que é estranho e a gente se conhece a cinco dias, mas o que eu sinto quando eu estou com você é diferente. E... eu acho que estou apaixonado por você! — as palavras saíram tão rápido, que eu não sei se ela conseguiu entender.  — Por quê me perguntou isso?

— Eu só queria saber, curiosidade. Eu tenho outra pergunta.

— Tá — ela coloca uma mecha do cabelo atrás da orelha e se vira pra mim. 

— De onde você conhece a Ângela?

Pego de surpresa outra vez. Que perguntas são essas? Eu é quem deveria estar fazendo.

— O quê ela te falou? — Sinto meu humor mudar, eu não gosto de falar sobre ela. 

— Ela não me disse nada e você não respondeu a minha pergunta — respiro fundo. 

— Não quero falar sobre isso.

— Por quê? — altera sua voz. — Quando você vai me contar a verdade? Eu sei que tem alguma coisa de errado com você e sei que a Ângela está envolvida nisso. Então se você realmente gosta de mim você tem que me contar a verdade. O que aconteceu com a Ângela? Por quê ela te protege tanto? 

Ela me protege? O quê essa garota têm com tantas perguntas que não diz respeito à ela?

— Você não tem nada haver com o que aconteceu. E eu não vou falar disso.

— Então o que você tem? Me conta Téo, me conta alguma coisa. Eu não quero ficar com uma pessoa sem saber quem ela é. 

— Caramba Thamy  — meu coração fica acelerado e sinto uma dor dentro do meu olho, sem pensar aperto o meu olho com a ponta dos dedos  sentido doer ainda mais, abro meu olho com calma e estava tudo embaçado. Não tinha certeza se era por causa da chuva ou se havia algo errado comigo.

— Téo, fala — olho pra ela por um segundo e ela também estava completamente embaçada, então cheguei a conclusão que não era a chuva e sim a minha visão. 

Comecei a ficar preocupado e meu coração acelerava ainda mais, eu precisava me acalmar ou algo ruim iria acontecer. A Thamy não parava de gritar e fazer perguntas, ela queria uma explicação, queria que eu falasse alguma coisa, mas não dava, eu estava assustado e preocupado com cada segundo.

— Thamy para de gritar por favor
— imploro.

— Não Téo, eu não vou parar, quando você vai parar de se esconder? Tudo bem você se esconder das outras pessoas, mas não se esconda de mim — tava ficando insuportável, aperto os meus olhos novamente e ainda continua embaçado e tudo branco devido a chuva forte. Que merda, eu estava ficando nervoso e minha cabeça começava a doer. Seguro com força no volante e ela não parava de falar, tudo estava agitado dentro da minha mente como se um monte de pessoas falasse ao mesmo tempo, e quando eu estou nervoso eu não aguento barulho ou alguém falando na minha cabeça. Me assusto quando algo que julgo ser um carro passa ao meu lado buzinando alto.

— Téo você quase bateu naquele carro — a chuva caía cada vez mais forte. — Téo qual é o seu problema? Você está na contra mão — grita.

— Thamy você não está ajudando. 

— Não estou ajudando? Se você continuar desse jeito vai acabar matando a gente. Diminui a velocidade — grita ao meu lado.

Eu não fazia mais ideia em qual direção o carro estava, só sei que eu estava completamente apavorado. Maldita hora...

— Qual é o seu problema? Parece que você não está enxergando.

— Não parece. EU NÃO ENXERGO — grito nervoso. — AGORA CALA ESSA DROGA DE BOCA QUE PRA MIM JÁ É ALGO ÚTIL.

— Aaaaaaaaaaaaa! — é a última coisa que escuto antes de sentir o impacto do carro, eu não sabia no que ele havia batido. Só sei que capotou, capotou e capotou caindo violentamente com as rodas pra cima.

Sinto fisgadas em minha cabeça e vontade de vomitar. Tudo girava e eu não conseguia focar meus olhos em nada, percebo que o vidro ao lado onde eu estava havia quebrado, tento olhar para Thamy e não consigo enxergar muito bem, mas parece que ela está desmaiada.

Saio me arrastando pela janela quebrada do carro sentindo alguns pedaços de vidro perfurar a minha pele. Assim que sinto o cheiro da chuva, misturada com pneu e sangue começo a vomitar desesperadamente, parecia que as minhas tripas estavam sendo colocadas pra fora. Aperto meus olhos para ver melhor e era sangue. Com muita dificuldade tento me levantar, minhas pernas não firmavam e doíam muito. Eu dava pequenos passos e caía, mas apoiando no carro consigo chegar do lado onde a Thamy estava e com o resto de força que havia em mim, arrasto-a pra fora do carro. Eu sabia que não podia fazer aquilo, eu aprendi uma vez que quando uma pessoa sofre acidente, você não pode toca-la. Caso ela tenha quebrado alguma parte do corpo pode ser bem arriscado você levanta-la. Só que eu queria muito saber se estava tudo bem com ela.

— Tha...my, Thamy — minha voz sai trêmula e em um sussurro. — Me des...culpa... me descul...pa Thamy — tento chamá-la, mas ela não movia um músculo. Sinto minha cabeça doer tanto que parecia que alguém havia dado várias pauladas nela.

— Socor...ro, soc...orro! — me levanto e grito, mas não aparece ninguém. Tento localizar aonde eu estava, mas a minha visão não estava ajudando, sem contar que tudo ainda girava e girava. Sinto meu corpo cambalear e se chocar com força no chão... e daí não vejo mais nada, só o breu.

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Você Me Deu OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora