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— Eu amo essa praça — comenta enquanto andávamos pela praça que fica no centro da cidade.
— Sério?
— Sério, eu gosto de vim aqui quando eu não tenho nada pra fazer com as minhas amigas, quando eu não quero ficar em casa ou quando tenho algum dever de casa e preciso me consentrar. Aí eu venho pra cá e me sento nesse banco — puxa meu braço me fazendo sentar no banco ao seu lado —, e aí eu fico a maior parte do tempo observando as pessoas, a maneira que elas se interajam. Fico observando os carros, ônibus e toda a barulhada da cidade. Isso me acalma, aqui se tornou o meu segundo lugar favorito.
— Qual é o primeiro?
— A London Eye — fala olhando com admiração o céu azul acima de nós.
— Por quê a London Eye? — pergunto curioso.
— Eu não sei exatamente qual foi o motivo por lá se tornar o meu lugar. Só sei que eu e minha irmã Liza íamos muito lá, ela amava estar lá, era como se ela tivesse alguma conexão com o lugar. Era incrível a maneira que os olhos dela brilhava quando ela via aquela roda gigante. Acho que o motivo de eu ser tão apaixonada pela London Eye é a minha irmã. Quando eu vou lá, é como se tivesse alguma parte dela perdida por ali e isso... é muito importante pra mim — sua voz saí com pesar.
— O que houve com sua irmã? Eu soube quando ela se foi, mas nunca fiquei sabendo o motivo. O que aconteceu? — me fita por longos segundos — Não precisa me contar se não quiser.
— Há dois anos atrás ela ficou muito doente e aí os meus pais pensaram que era apenas uma gripe forte, só que aí se passaram dias e semanas, e ela só piorou — observo atentamente. — Então, houve um dia que eu, ela e o meu irmão Pitter estávamos brincando e zuando um ao outro, sabe? Estava sendo um dia muito divertindo entre irmãos. E aí do nada ela começou a colocar sangue pelo nariz, muito, muito, sangue — fecho os meus olhos já imaginando o que ela iria dizer — A gente ficou muito assustado e não sabíamos o que fazer. Então meus pais chegaram e chamou uma ambulância que a levou para o hospital, demorou exatamente vinte quatro horas e aí tivemos o diagnóstico.
— Leucemia? — ela aperta os olhos.
— Sim... — sua voz saí embargada —. Um dia estávamos felizes e no outro estávamos no funeral dela. Foi uma droga, minha família perfeita foi embora por água abaixo. Ela era o maior orgulho dos Kingston e quando se foi, o resto de nós fomos destruídos. Meu pai começou a beber muito e minha mãe ficou viciada em trabalho, acho que a vida deles giravam em torno da Liza, ela saiu e tudo desabou.
Teve uma pausa, aquele momento que ninguém sabe o quê dizer. Talvez o silêncio necessário. Eu sentia muito pela Liza, principalmente por toda dor que ela sentiu. Porém eu sentia ainda mais pelo impacto que a família sentiu.
— Quando a família se reunia os dois começavam a brigar e a culpar eu e o Pitter pela morte dela. O papai ficava tão bêbado que começava a bater no Pitter e minha mãe não fazia nada. Então ele juntou as coisas e foi morar em Toronto, no Canadá. Ele queria me levar porque sabia que quando fosse embora eu seria a culpada, mas meus pais não deixaram.
— Eu lamento. Eu nem consigo imaginar como deve ter sido difícil pra sua família, e nem imagino como é pra você.
Nesse momento eu comecei a pensar, o que vai acontecer com a minha mãe depois que eu morrer?
Há uns meses atrás, eu não tinha certeza se eu realmente iria partir, mas agora que o câncer avançou eu tenho certeza que o dia está perto. E vendo a Thamy contar a história da família dela, me fez refletir e minha mente começa a fazer tantas perguntas que as respostas estava me deixando nervoso e assustado.Eu nunca tive medo de morrer, temo deixar as pessoas que eu amo pra trás, principalmente a minha mãe. Temo desesperadamente por ela porque depois que eu for, o que ela vai fazer? Vai começar a beber que nem uma louca? Ou em uma noite trágica ela vai ficar tão bêbada, drogada e embreagada com a sua própria decepção que vai acabar tirando a sua própria vida? Eu nunca havia de verdade parado pra pensar nessas coisas, também acho que nem adianta muito, porque não há nada que eu possa fazer. Mas essas perguntas e previsões me deixa em pânico.
— Essa maldita doença destruiu a nossa família Téo, destruiu a vida dela e destruiu a minha vida. Ela tirou a nossa alegria. Tudo de bom que a nossa família tinha, ela fez o favor de destruir , — ela enxuga as lágrimas —. Ela tirou a Liza que era a minha melhor amiga, a pessoa que eu mais amava no mundo inteiro. O câncer varreu tudo e me deixou sem nada, eu perde tudo e ainda eu estou perdendo. Aos poucos eu vou perdendo tudo que eu amo — fala entre soluços. Automaticamente eu passo meu braço atrás da suas costas e ela se aconchega em meu peito, segurando firme a minha camisa.
— Não, Thamy você tem a mim e não vai me perder. Eu vou sempre estar aqui, com você — digo com meu rosto apoiado sobre a cabeça dela.
— Você promete? — se afasta para olhar nos meus olhos. Gotas de lágrimas abriam caminho no seu rosto corado.
— Só se você prometer que não vai se afastar de mim.
— Eu não vou — diz certa.
— Então eu prometo que não vou a lugar algum — falo com determinação. Ela sorri e volta a aconchegar no meu abraço.
O que eu estava fazendo? Realmente não sei. Eu sei que fui um tolo em prometer uma coisa dessas sabendo que eu não posso cumprir. Esse era o momento em que eu deveria contar a verdade, o que o nosso inimigo está fazendo comigo. Mas eu não conseguia, eu travei e senti as palavras desaparecerem dos meus lábios feito fumaça.
Eu não tinha por onde começar. Os pais dela agora é uma droga, o irmão mora longe e a irmã já era. O que eu podia dizer? Sinto muito Thamy, mas eu também tenho câncer? Não caramba. Eu não quero que ela pense que também vai me perder assim. Não quero que ela sofra tudo novamente. E eu não sou estúpido o bastante pra pensar que seremos eternos, mas gosto de pensar que talvez seremos alguma coisa.
Não estou criando expectativas, colocando fé onde não existe. Só estou dizendo que o futuro é um grande e infinito talvez. Talvez hoje ela pense que eu ficarei sempre aqui; talvez amanhã ela só pense diferente. Talvez eu morra hoje, talvez viveremos para certificar o milagre. Independente do que aconteça, eu sou o Téo e continuarei sendo. Não vou estragar o que temos e nem fantasiar. Vai ser difícil eu sei, principalmente porque meu coração pulsa para que a verdade venha a tona, porém eu só relaxo e deixo rolar. Porque na real, eu não quero deixar ir a única pessoa da escola que se aproximou de mim. Isso é ridículo? Sim. Mas tudo mundo tem um pouco disso dentro de si.
No final da tarde eu não quero que o dia acabe. Quero que os ponteiros do relógio pare de girar para eu ter mais tempo com a Thamy. Tempo pra desperdiçar o tempo, pra rir, para ser seu ombro pra chorar. Tempo para olhar pra ela e vê-la balançar os cabelos e cantar desafinado, assistir de perto sua melhor versão...
Cara agora eu sei, eu viro um imã e prendo-me à pessoas que escolhem passar um tempo comigo.
— No que você está pensando? — pergunta me despertando de meus desvaneios.
— Hã? Ah! É, você sabe... em nada, nada importante — me atrapalho todo, nada constrangedor, ela sorri e me abraça.
— Eu tive uma idéia — se levanta estendendo a mão direita pra mim.
— Qual idéia? Devo me preocupar?
— Vem comigo — puxa meu braço me obrigando a ficar em pé. Ela pega o celular e coloca pra tocar a música "Kiss Me" do Ed Sheeran.
— O que você está fazendo? — pergunto sem acreditar no que estava prestes a acontecer.
— Você não vai me deixar dançando sozinha, né?
— O quê? Você está de zueira comigo?
— Qual é Téo, a música já começou. Anda, não me deixa dançar sozinha — droga.
— Mas tá cheio de gente aqui, Thamy — falo observando o pessoal que nos olhava ao redor, mas sem sucesso. Essa garota vai acabar me matando.
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Você Me Deu Olhos
Romance"A gente precisa aprender abrir mão das coisas que amamos" Para Teodoro Waller um jovem inglês de dezessete anos, isso era uma bobeira. Até ele ser diagnosticado com melanoma ocular quando tinha apenas doze anos de idade. Porém aprender a conviver...