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Finalmente chegou, o dia de voltar pra escola eu estava completamente apavorado. Precisava me preparar para tolerar todos aqueles adolescentes me encarando e cochicho entre si pelos corredores. Eu seria o centro de suas línguas não pararem quietas, e os olhos virando sempre em minha direção.
Já fazia uns dias que eu não dava as caras no colégio, e já estou sentindo um tremor só de me imaginar sendo observado. Eu odeio ser o centro das atenções, e é notório que não vai importar o quê eu faça; vai ter alguém olhando de estreita.
Levanto-me da cama com calma, e diferente de ontem hoje chove. O dia não estava alegre e nem aconchegante, trazia para mim uma vontade de ficar deitado o resto do dia lendo alguma história bizarra de Nicholas Sparks enquanto tomo chocolate quente. Eu queria andar de meia pela casa e acender a lareira, mas precisava voltar pra escola. Os trabalhos e deveres de casa que a Thamy andou fazendo pra mim durante as últimas semanas foi de bastante ajuda. Porém eu precisava aprender alguma coisa pra poder fazer as provas finais. Talvez eu nunca tenha uma vida como todo mundo vai ter após a formatura, mas eu ainda queria adquirir conhecimento. Quero segurar aquele diploma sabendo o quanto foi difícil chegar até ele, quero me despedir dos professores e ao menos terminar como alguém normal.
— Bom dia amor! — a mamãe saúda assim que chego na cozinha e me sento pra tomar o café. — Tem certeza que quer voltar pra escola hoje? Você sabe que pode continuar estudando em casa.
— Está tudo bem mãe, só que eu quero terminar. Quero me formar como todo mundo — me sirvo com um pouco de leite.
— Tudo bem. Então come rápido pra gente ir, hoje eu tenho bastante trabalho pra fazer e preciso chegar cedo.
— Eu quero ir de ônibus!
— O quê? Téo a vida toda você nunca andou de ônibus, porque quer andar agora? — ela me olha surpresa.
— Eu não sei, deu vontade de saber como é — dou de ombros.
— Ok! — minha mãe me encara como se eu estivesse dizendo uma coisa tola.
— Eu vou nessa! — termino de tomar meu leite e deposito um beijo em sua testa. Depois tive que prometer duas mil e quinhentas vezes que eu ficaria bem.
A parada de ônibus ficava na esquina da minha rua com a avenida principal, então logo eu já estava espremido entre tantas pessoas dentro daquele automóvel. Sentei na última poltrona e encostei minha cabeça no vidro observando tudo que se passava do lado de fora, olho em volta e não deixo de reparar nenhum mísero detalhe. Não entendia o que estava acontecendo comigo, era como se eu sentisse a necessidade de documentar tudo em minha memória. As pessoas estavam diferentes, sorriam diferente, se comprimentavam diferente.
Eu estava diferente ou era mesmo elas?
O vento forte vindo da janela aberta fazia meus braços se arrepia. Não importava! Eu só queria sentir a brisa suave soprar em meu rosto. Minutos depois chego ao meu destino, e a escola também estava diferente.
Começo a andar pelos corredores e parecia que eu estava vestido de palhaço, mesmo com o gorro de lã ganhado pela minha avó a uns dez anos atrás — que por incrível que pareça ainda servia em mim—, as pessoas conseguiam notar algo diferente em mim, conseguiam perceber que eu estava careca. Era ruim, mas não importava.As aulas foram um tédio e em nenhum momento desde que eu cheguei não vi a Thamy. Não sei se faltou a aula hoje, mas eu sentia sua falta. Alguns professores estavam sendo legais comigo, o que me deixou surpreso. Mesmo eu sendo um bom aluno eles não eram legais. Hoje até a Sra. Collie estava sendo legal. Quando você é ruim com uma pessoa e do nado você nota que ela está morrendo, acredito que automaticamente nós sentimos a necessidade de fazer aquela pessoa se sentir melhor. Pelo menos era nisso que eu acreditava.
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Você Me Deu Olhos
Romance"A gente precisa aprender abrir mão das coisas que amamos" Para Teodoro Waller um jovem inglês de dezessete anos, isso era uma bobeira. Até ele ser diagnosticado com melanoma ocular quando tinha apenas doze anos de idade. Porém aprender a conviver...