Capítulo IV

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As flores haviam desabrochado; as folhas já haviam caído, morrido e nascido das árvores; o campo já havia ficado coberto pela brancura da neve, mas fazia-se verde, naquele adorável dia. Toda a Natureza dançava conforme a docilidade da melodia divina, efetuando suas tarefas conforme as ordens do Criador.

Quatro transformações das estações ocorreram para aquele dia acontecer. Ophelia, sob a sombra da árvore naquela belíssima manhã primaveril, lia os antigos filósofos com afinco. Ao seu lado, Frederick, escrevendo as passagens mais importantes para memorizar; do outro, August, sempre sisudo, relendo pela terceira vez o conteúdo que tanto lhe fascinava. Os três amigos, agora jovens adolescentes, permaneciam em silêncio, absorvidos pelos estudos. Os gêmeos, dali um ano, iriam à Universidade: August como senhor das leis, como gostava de mencionar; Frederick como homem das Letras, para o desapontamento do Sr. Blackall.

— Qual o significado da vida? — interpôs Ophelia, subitamente. — Eu ainda estou cogitando a hipótese de que a vida é um caminho cuja estrada pode levar a qualquer lugar; cabe a nós escolhermos. Infelizmente, a maioria das pessoas procuram o comodismo da estrada mais bonita e iluminada, o que leva à uma vida monótona e repetitiva, como o é de quase todos os seres humanos que habitam a Terra. Por exemplo, o casamento. Há algo mais simplório do que o matrimônio, principalmente para a vida de uma mulher? Resume-se a vida em algo tão palpável e insignificante, no qual encaixa o homem em um ciclo vicioso: nasce, cresce, casa e morre.

— E quais outros caminhos, senhorita falastrona? — questionou o sério August. — Ainda mais a uma mulher?

— De fato, August, você tocou em um ponto interessante sobre a existência humana. De fato, amigo, há duas formas de viver: uma, como homem; outra, como mulher. A primeira as estradas são muito mais numerosas; a última, uma limitada caminhada para uma vazia liberdade. Uma mulher só tem sua independência após cumprir matrimônio, certo? Caso contrário, estará fadada a uma vida miserável como fardo nas costas dos homens da família ou como governanta de um terrível lar habitado por duvidosos moradores. A verdade, meus amigos — concluiu a mocinha, levantando-se para palestrar com mais elegância. —, é que uma mulher jamais conquista sua independência. O casamento é apenas outra submissão do sexo feminino.

— Ora, Ophelia, mas não é você quem sonha com seu casamento? — questionou o metódico August.

— Sonho com um casamento por amor, August. O que estamos acostumados a presenciar são os vazios matrimônios tratados como um negócio das Índias.

— Eu concordo contigo, Ophelia — apontou Frederick, também se colocando em pé. — Os caminhos de uma mulher são realmente limitados. As mulheres possuem uma capacidade intelectual igual ou maior do que a dos homens, mas não a vemos em uma Universidade. Se para os homens o ciclo vicioso da vida é monótono, imagina para uma mulher!

— Você sempre concorda com o que Ophelia diz, Fred — desdenhou August, permanecendo sentado, com os olhos fixados no livro. — A vida é assim, ponto final. E o significado dela não deve ser questionado de uma forma filosófica de tamanha complexidade. A vida é simples, e o funcionamento dela é assim: homens são mais beneficiados, pois as mulheres devem comprometer-se com as tarefas domésticas e com a criação dos filhos.

— Seu comentário muito me entristece, August. — Ophelia sempre ficava chateada quando seu gêmeo predileto tratava a vida com tanto amargor. — Mulheres são muito mais do que donas do lar e mães. Eu os invejo por estarem prestes a ingressarem à Universidade, pois sei que tenho tanta capacidade de ser uma aluna destaque tanto quanto vocês. Aliás, ouso dizer que poderia ser melhor.

— Não me faça rir!

Desta vez, August Blackall levantou-se. Limpou-se, sacudindo das calças a sujeira da grama; depois, fechou o livro que ainda tinha sob sua custódia e fixou um olhar desafiador à sua amiga pensadora.

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