Capítulo III

8.3K 1.1K 499
                                    


Fazia uma agradável manhã em Hampshire. O ar mantinha-se leve; a brisa balançava os galhos das árvores, arrancando-lhes cuidadosamente algumas folhas da estação; o campo esverdeado era um lindo tapete de odor tipicamente libertador. O campo, deveras, tinha sua aprazível forma de manifestar-se. A paisagem bucólica atraía os poetas, e não era por menos: como não se apaziguar diante de tamanho deleite do paraíso aos olhos do homem?

Naquela específica manhã, o reverendo Stanhope deixara os gêmeos Blackall aos cuidados de sua Ophelia. Após longas quatro horas de estudo árduo, tratando-se de Filosofia, Literatura e um bocado de História, o Sr. George dera aos meninos o aguardado descanso. O mestre orgulhava-se de seus pupilos; de fato, Frederick e August eram crianças fáceis de ensinar. Curiosos e astutos, os pequenos Blackall questionavam o seu professor e discutiam acerca das informações despejadas. O Sr. Stanhope, após quase três semanas aplicando conhecimentos àqueles rapazinhos, sentia-se afortunado por ter sob seus ensinamentos duas criaturinhas de inteligência invejável.

August, o mais orgulhoso dos irmãos, parecia o tempo todo querer competir com o outro gêmeo. Frederick, por sua vez, nada queria além de ter para si um intelecto que tanto almejava; assim como Salomão, o menino sonhava em ser sábio e inteligente.

— Não corra assim, Ophelia — resmungou August ao notar que sua nova amiga de pernas pequenas era muito mais veloz do que ele. — Ninguém está a competir?

— Mas você mesmo quem falou para apostarmos corrida — reclamou a menina.

— Parei de brincar, e você nem havia percebido.

— Parou porque viu Ophelia ganhar de você, August — zombou Frederick, jovialmente. — Não fique bravo, por favor. Sabemos como Ophelia é rápida na corrida.

— Eu sou mais. — O pequeno Blackall, assim como pai, não se permitia errar. — Apenas a deixei ganhar.

— Ora, mas não havia dito que tinha parado de correr?

— Fred, por favor, silêncio!

— Meninos, não briguem — pediu Ophelia, ofegante. — Fred, seu irmão tem razão: pare de chateá-lo, por favor.

Após o pedido de sua amiga, o menino conteve-se e não mais perturbara o caprichoso August. Frederick sempre fazia o que Ophelia lhe pedia, pois a tinha em grande estima. A garotinha, por sua vez, sempre fazia o que August desejava; para ela, ele era o gêmeo mais bonito e mais inteligente.

— Vamos brincar de observar o céu.

— Que graça há nisso? — perguntou o pragmático August.

— É para ver o que as nuvens formam — esclareceu Frederick, disposto a fazer o que Ophelia havia sugerido. — Eu quero!

— Por favor, August, queira também.

— Está certo — concordou, embora não muito convencido. — Mas estejamos atentos ao tempo, pois o Sr. Stanhope aguarda-nos para a segunda parte da aula.

Frederick concordara com a madura exigência do irmão. Depois, os três deitaram-se na grama fresca e ficaram a observar o céu azul, decorado pelas rechonchudas nuvens brancas, sem nenhuma previsão de tempo ruim. Demorou um pouco para a imaginação ser liberta daquelas mentes infantis, mas logo Ophelia iniciara o jogo, detectando uma nuvem igualzinha ao formato de uma galinha. Frederick foi o próximo, encontrando um grande homem de chapéu de palha na imensidão azulada. Ophelia, mais uma vez, visualizou outra forma: uma ovelha. Rindo, Frederick viu o que poderia ser um leão.

— Quanta besteira! — August levantou-se abruptamente.

— O que houve? — indagou Ophelia.

Casamento BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora