Capítulo XXX

3.9K 680 181
                                    


O Sr. MacBrayne havia convidado Ophelia a um passeio. Da janela, Thomas e Emma — responsabilizados em cuidar do reverendo George — observavam os dois a distanciar da residência, no contentamento de que, ao retornarem, trariam boas notícias merecedoras de comemoração.

Enquanto isso, Ophelia suspeitava do semblante mais ansioso de seu acompanhante. De soslaio, notava sua inquietude diante de palavras calculadas. Tentou manter a conversação costumeira, mas parecia que William tinha em mente planos para dialogar sobre outros assuntos, no qual organizava as frases em sua cabeça para não saírem embaralhadas. Por tanto suspense, Ophelia preparava-se para a surpresa cuja comoção saberia não causar os efeitos almejados pelo cavalheiro. Estranhamente, por mais que desconfiasse do que seria tratado dali por diante, a moça não estava nervosa ou assustada; na verdade, parecia bem tranquila, certa de quais seriam suas respostas.

— Percebo que o senhor não quer falar sobre as frutas da estação — brincou Ophelia, ao perceber que estava sozinha em uma discussão maçante.

— Perdoe-me — riu William. — Estou tentando controlar-me para não estragar o momento.

— O senhor nunca foi de controlar-se. Sempre falou o que lhe convinha, algo que eu aprecio muito em seu caráter.

— Fico muitíssimo feliz em saber que minha conversa lhe agrada.

Esfregando as mãos, o cavalheiro respirava prolongado e fortemente. Ophelia não tinha certeza se achava graça ou apiedava-se do sujeito. Assim, tentou encorajá-lo:

— O que o senhor precisar contar-me, por favor, faça-o quando estiver mais à vontade. Percebo que é algo sério, que talvez não esteja disposto de compartilhar comigo, neste instante.

— Não, precisa ser neste momento! — empolgou-se o Sr. MacBrayne. — Querida Ophelia, caso venha a alongar o processo, temo não fazer da forma correta. Estou aqui — mesmo nervoso — disposto a dizer o que precisa ser dito, na incerteza de sua resposta. E é justamente esta incerteza, querida Ophelia, que mais me corrói.

Enternecendo-se pelo homem, Ophelia já não tinha mais a convicção de suas atitudes futuras.

— Agora basta — censurou William a si mesmo. — Ophelia, querida! — Pegando as mãos da moça e protegendo-as sob as suas, o rapaz olhou-a fixamente, sorriu-lhe, então desatou a falar: — Quando eu percebi, minhas intenções para com a senhorita eram as mais sinceras disposições de fazê-la feliz; senti que meu objetivo de homem era formar uma família na qual a senhorita faria parte; quero-a como minha amiga, minha esposa, minha companheira para toda a vida. Aceita casar-se comigo, Ophelia?

Atônita, Ophelia suspirou. Ter em mente o que possa ocorrer é muito diferente quando de fato acontece; ter a ideia materializada é muito mais impactante do que quando está apenas na mente, sugerindo muitas histórias com o mesmo fim. Engolindo em seco, Ophelia Stanhope sentiu sua língua enrolar na garganta; parecia ter desaprendido a falar.

— Então, querida Ophelia, o que me diz?

Após formular a reposta em sua mente, Ophelia decidiu expor aquilo que já havia decidido, antes mesmo do pedido oficializado:

— O senhor tinha tudo para ser o meu amor idealizado, mas acho que, com a idade, tornei-me mais exigente; exigência esta que me torna uma tola — riu, tristemente. — Apenas uma mulher tola não aceitaria a proposta que o senhor faz a mim. Mas sigo firme em minha decisão, pois sei que não seríamos felizes. Poupá-lo-ei de uma infelicidade causada por mim; poderei dormir tranquila por saber que não decepcionei um excelente homem ao mostrar-me como mulher e esposa. Estou fadada à solidão, William.

— Não precisa estar fadada à solidão — beijou-lhe as mãos. — Eu posso dar-lhe a felicidade merecida; prometo ser-lhe um homem decente cujo companheirismo será harmonioso para ambos. Deixe-me fazê-la feliz, Ophelia!

— Sinto muito, William, eu não posso. Por favor, não fique assim — disse, ao vê-lo acanhado de decepção e tristeza. — Eu poderia tê-lo amado, William. Seria muito fácil.

— Então, por que não tentar?

— Porque sei que tentar não seria o bastante.

O Sr. William MacBrayne, ainda ressentido, virou as costas à dama e ficou encostado a uma árvore, observando a paisagem do lago. De forma dramática, questionou-a:

— O que você quer fazer com a sua vida, Ophelia?

Também a mirar o lago, controlando as lágrimas, ela respondeu:

— Espero que não seja colecionar arrependimentos.

À noite, Ophelia refugiou-se no leito de seu pai, dando-lhe a janta antes de ele dormir. Thomas, ao partir para sua casa com a família, repreendeu a irmã por sua atitude imprudente e irresponsável; parecia que o despeito de Thomas era maior do que a do Sr. MacBrayne. 

Vendo sua menina entristecida, o Sr. George Stanhope pediu-lhe para ajudá-lo a chegar até o jardim.

— Vamos ver as estrelas — pediu.

— O Senhor tem certeza, papai? Não irá fazer-lhe mal?

— Não me restrinja dos prazeres de uma vida cujo fio está sendo cortado.

Assentindo, Ophelia fez seu bondoso pai apoiar-se nela. Levou uma coberta a fim de protegê-lo do sereno. Por fim, cada qual acomodou-se em sua cadeira e puseram-se a fitar o estrelado céu.

— Acha que fiz certo, papai? — perguntou Ophelia, por fim.

— Só você é capaz de medir seus sentimentos, querida. Sente remorso por tê-lo recusado?

— Eu sinto remorso por tê-lo magoado.

— O Sr. William é um cavalheiro justo; entenderá os motivos que a levaram à recusa.

— Não sei se para uma alma magoada a justiça se adéqua.

— Se uma alma é justa, será justa em qualquer circunstância — sorriu o Sr. Stanhope. — A única coisa a preocupar-me é deixá-la sozinha neste mundo, querida. Sei que terá a Thomas, mas partiria mais tranquilo caso estivesse casada com um homem à sua altura.

— O senhor não precisa ficar preocupado comigo, papai.

— Pode dizer isso, mas não tornará realidade — disse, por fim. — Apenas gostaria que você fosse feliz, com alguém merecedor de seu afeto. Sempre sonhei com você a casar-se com um sujeito cortês e honroso, assim como Frederick o é.

— Frederick? — riu a moça. — Por que o menciona?

— Apenas um exemplo de bom rapaz.

Uma leve brisa soprou pelos rostos de pai e filha. Ambos fecharam os olhos para sentir a Natureza sussurra-lhes segredos e acalentá-los com sua magia excepcional. Ophelia segurou a mão do pai, apertando-a carinhosamente; o reverendo fizera o mesmo. Aos poucos, a moça sentiu que a mão do Sr. Stanhope vacilava, até, por fim, amolecer-se entre a sua. Abrindo os olhos, mirou-o para ver se ele havia adormecido. De fato, havia. Para sempre.

Estática, observando o rosto petrificado em um sorriso esperançoso, a moça deixou lágrimas escorrerem pela face, sem a dramaticidade que a ocasião exigia. Depois, abraçando o corpo imóvel do pai, a jovem soluçou, despedindo-se do seu maior amor.

— Oh, papai! — sussurrou a chorosa Ophelia. — Se eu soubesse que esta era a nossa despedida, teria feito um discurso melhor. Perdoe-me se o decepcionei, meu querido pai! Perdoe-me se não fui a filha perfeita!

Beijando-lhe a face e as mãos, Ophelia Stanhope não queria sair dali; não queria acreditar no já esperado. O ciclo vicioso de seu pai havia fechado: nasceu, cresceu e morreu. Mas, no meio do caminho, o vício não acontecera de forma enfadonha: o amor havia proporcionado — mesmo que em um período curto — uma vida mais colorida e alegre. O Sr. George Stanhope vivera como um homem envolto no amor.

— Adeus, meu amado pai.

Despedidas são sempre impactantes em um adeus silencioso no qual a escuridão da morte não permitirá um reencontro breve.

Casamento BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora