Capítulo XIII

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Há muito tempo, dois amigos de infância uniram-se em uma linda aliança, alimentada com respeito, confiança e reciprocidade. Eram amigos de nascimento igual: dia, mês e ano. Podia-se afirmar que se tratavam de gêmeos, mas de mães distintas. Inseparáveis e extremamente confidentes, cresceram e formaram cada qual sua própria família. O primeiro a se casar teve como fruto do amor uma menininha de belos olhos astutos; o segundo, cultivara o amor por mais um ano, até conceber seu varão — primeiro e único herdeiro. Destes nascimentos, surgira uma aliança ainda maior do que a amizade: os bebês deveriam casar-se, e, assim, unir a família. Destinados ao casamento, os pequenos, assim como os pais, tiveram uma auspiciosa amizade. Na mocidade, ainda viam-se apenas como bons amigos; quiçá, irmãos separados pelo sangue. No entanto, o acordo dos patriarcas mantinha-se firme, e, anos depois, os jovens casaram-se para firmar a confederação das duas casas mais poderosas de Hampshire. O casal, inicialmente, não consumaram o matrimônio. Tal casamento por conveniência não permitira que a intimidade fosse maior do que a que eles já possuíam. Todavia, os pais insistiram na procriação; um herdeiro deveria ser gerado para dar seguimento ao processo da ascensão familiar. Tamanha pressão fizera o jovem casal ceder; e, dali, nascera o fruto daquele processo biológico cujos detalhes devem ser poupados. Mas, não apenas o fruto fora semeado e concebido; o amor, enfim, transbordara no coração da moça e do rapaz. Da amizade, conclui-se, também pode surgir um grande amor.

— E essa, Ophelia, é a história dos meus pais — contou Georgiana, seguindo a narrativa religiosamente. — Minha mãe é da família dos Spofford. Meu avô materno e meu avô paterno eram grandes amigos, sonhadores e joviais. Insistiram nesse casamento entre os filhos, por parte, para formarem uma única família; por outra, para aumentar ainda a fortuna. O caso é que casamentos por conveniência também podem trazer o amor.

Ophelia, visitando costumeiramente sua nova amiga, ensinava-a a sovar pão naquele dia. Enquanto as meninas amassavam, espancavam e batiam na pobre massa, Georgiana havia relatado a magnífica história de sua família. A conversa iniciara-se porque Ophelia havia confidenciado seu asco por casamentos tratados como negócios. Ao lado das moças, a Srta. Spencer, a governanta e preceptora da Srta. Young, escutava e via a bagunça farinhenta que as jovenzinhas faziam.

Ao escutar a história, Ophelia pôs-se em um momento de reflexão, antes de dizer:

— É uma bela história, Georgiana, mas, convenhamos: a raridade deste fato não diminui a insensibilidade do casamento por conveniência. Seus pais, no início, não eram a favor do casamento, certo?

— Sim — concordou a outra, sujando o angelical rosto com a farinha. —, mamãe segredou-me que chorou copiosamente para que o pai desfizesse o acordo. Ela disse: "não me obrigue a odiar meu melhor amigo".

— Uma súplica de uma típica heroína de romances.

— Oh, muitíssimo! — suspirou a anfitriã. — Mas nem choro, tampouco ameaças fizeram meus avôs recuarem. O importante é que, no final, deu certo; hoje meus pais são extremamente afetuosos e apaixonados um pelo outro.

— E quanto a você, querida? — rebateu Ophelia. — Pensa em casar-se por amor ou por conveniência?

— Não idealizo o amor como você o faz, Ophelia. Se eu tiver ao menos respeito pelo meu futuro marido, já é o bastante. Detestaria casar com um homem cujos defeitos seriam meu alvo constante de julgamentos.

— Seu jeito de pensar lembra-me muito a de August.

— Ah, sim, o gêmeo Blackall do mal.

— Por que diz isso?

— Ora, você sempre diz coisas muito bondosas a respeito de Frederick. Por outro lado, embora tente consertar desastrosamente, August está sempre recebendo avaliações não muito favoráveis. A única coisa que não compreendo, Ophelia, é por que August é seu gêmeo favorito?

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