Capítulo XXVIII

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Nada mais singelo e hospitaleiro do que um piquenique primaveril. Enquanto as crianças, Ophelia e George, colhiam amoras do pomar, supervisionados por suas respectivas mães, os adultos sentavam-se à sombra de uma árvore, desfrutando o encantador momento. Cassandra e Emma comiam as amoras ofertadas por suas crias, e conversavam amigavelmente sobre o cotidiano maternal. O Sr. Stanhope, um pouco mais recuperado pelo mal-estar de meses, tomava seu banho de sol ao lado de sua caçula e de seu amigo, Frederick Blackall. Agatha encontrava-se ao lado do marido, mas por ser uma personalidade quieta e acatada, apenas observava as ações alheias. Thomas e o Sr. William MacBrayne dialogavam animadamente em outro canto da paisagem pitoresca de Hampshire. O único a não confirmar presença fora August Blackall, que, como havia se tornado rotina, fugia dessas reuniões e escondia-se em Londres, na desculpa de negócios a serem tratados. Acostumada, Cassandra não mais questionava o marido, tampouco choramingava pela ausência paterna; conformava-se, à medida do possível, mesmo diante das especulações de August estar a encontrar-se com uma amante.

Naquela manhã, todos os pensamentos penosos foram dispersados para darem lugar à diversão e ao contentamento. Os reunidos pareciam muito descontraídos e alegres, receptivos às conversar oferecidas.

— Agatha, gostaria de mais um pedaço de bolo? — perguntou Ophelia, tentando uma amizade com a esposa de Fred.

— Obrigada — limitou-se a recusar.

Era extremamente difícil à Ophelia Stanhope lidar com alguém tão retraída como Agatha o era. A filha do reverendo até supôs que a esposa de Frederick, na verdade, não gostava de sua figura, o que deixara Ophelia abalada. Além de não querer uma inimizade com a mulher do seu melhor amigo, Ophelia também não se agradava com a ideia de alguém desgostar de sua pessoa. Era — ela bem sabia — muita vaidade de sua parte achar que o mundo todo iria amá-la e adorá-la; era muita presunção acreditar não ser alvo de intrigas por parte de alguém. Se ela própria detestava ficar perto de algumas pessoas, por que elas não poderiam sentir o mesmo por seu ser?

Por mais que fosse incômodo, Ophelia sabia muito bem da impossibilidade de agradar a gregos e troianos. Agatha, portanto, estava em seu direito de formular seus próprios julgamentos quanto à Srta. Stanhope — gostando esta ou não.

— Agrada-se desta manhã, Agatha? — tentou mais uma vez. — O piquenique está divertido para você?

— Muitíssimo — respondeu, sem convicção.

Desistindo da tarefa de ser amigável com a Sra. Blackall, Ophelia juntou-se à Cassandra e à Emma nas brincadeiras com as crianças.

— Vejo que Agatha a entediou, não foi? — caçoou Cassandra. — Desculpem-me ser indiscreta e até maldosa, mas é que Agatha, sempre que estou em sua companhia, nada tem a acrescentar nos diálogos que ofereço. Ela é muito monossilábica.

— Pensei que fosse apenas comigo — aliviou-se Ophelia.

— Notei que é uma moça bem tímida — falou Emma.

— Não gosto de vê-la pouco sociável. O pobre Fred tenta não deixá-la sozinha, mas meu amigo é muito comunicativo e agradável para com todos; não consegue ser indiferente às conversas.

— Fred é um ótimo rapaz e esforça-se para ser um bom marido — concordou Cassandra.

Já no final do piquenique, Thomas e sua família acompanharam o Sr. Stanhope à casa e prometeram cuidar do velho reverendo. Agatha e Frederick caminharam ao lado de Cassandra e sua filha, de Ophelia e de William. O Sr. Blackall media o estrangeiro, enciumado por Ophelia ter um novo amigo para poder dedicar-se. Atentando-se aos jeitos da Srta. Stanhope, Frederick percebeu que os olhos da moça brilhavam e seu sorriso era fácil quando estava perto do Sr. MacBrayne. Por parte do cavalheiro, Fred não tinha dúvidas: estava deveras enamorado por Ophelia Stanhope. Apenas um tolo para não se encantar pela dama, pensou o rapaz. Quanto à sua esposa, sempre tão silenciosa e aguada, Frederick esforçava-se para conquistar um sentimento mais rico por alguém que faria parte da sua vida por um longo tempo. No entanto, era difícil quando os esforços partiam apenas de uma parte do casal.

Quando, enfim, Frederick, Agatha, Cassandra e a pequena despediram-se de Opehlia e de William, os últimos continuaram a caminhada, prolongando-a um pouco mais. A moça, então, teve a ideia de irem ao lago, pois achava o dia lindo e propício para fazer um passeio assim. Sem pestanejar, William aceitara ao convite, oferecendo o braço para a dama apoiar-se.

Os dois andaram e, quem estivesse alheio à situação deles, acreditaria tratar-se de um belo casal há muito tempo formado. Ao chegarem à beira do lago, Ophelia apontara para os gansos que ali nadavam; mostrou ao amigo a beleza do horizonte; e suspirou longamente para devorar aquele ar purificado por Deus.

— Não me imagino morando em outro lugar — disse Ophelia, fechando os olhos para apreciar a brisa.

— Nem mesmo se tivesse a oportunidade de viajar pelo mundo? — indagou o Sr. MacBrayne, encantado pela beleza de sua companheira.

— Desse sonho, já não mantenho mais esperanças — sorriu, tristemente. — Sei que nunca acontecerá. Como iria eu, uma mulher, a viajar sozinha pelo mundo?

— Casando-se com um aventureiro.

De súbito, Ophelia percebera o olhar sugestivo de William, enrubescendo pela proposta indireta. Fingindo ingenuidade, a moça recompôs-se e apenas riu.

— Ora, William, seria sonhar alto demais!

— Por que diz isso?

— Porque seria perfeito amar justamente um aventureiro que me proporcionaria muitas viagens.

— Nada é impossível para quem crer — piscou o Sr. MacBrayne, caminhando faceiramente à frente de Ophelia.

A moça andava a passos lentos, escutando o assobio do cavalheiro e vendo-o marchando com alegre desenvoltura de um homem apaixonado e convicto de ser correspondido. O semblante de Ophelia fez-se preocupado e indagador: seria o Sr. MacBrayne o homem por quem ela viria a amar? A jovem tentou escutar seu coração, mas este vacilava na resposta. E, se de fato, William investisse nela, seria Ophelia capaz de aceitar uma suposta proposta? Ela ainda não sabia, mas prometera pensar a respeito.

Seria o amor finalmente a acontecer em sua vida? Seria o início de sua nova jornada?

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