Capítulo XIX

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August Blackall olhava a paisagem sobre a janela de seu aposento, em Londres. O dia fazia-se frio naquele mês de novembro, assim como os pensamentos do rapaz. Inexpressivo, qualquer um teria a certeza de nada intranquilo passar na mente ambiciosa do jovem Blackall. Apenas o mais observador dos seres enxergaria a verdadeira nuvem carrega sobre a cabeça do sujeito, cuja inquietação de seu coração fazia-o ainda mais sombrio. Ideias perturbadoras e maléficas vinham à tona, rapidamente dispersadas. Mas elas insistiam, como se o demônio conhecesse um dos seus e quisesse levá-lo ao mal, junto consigo. Nebuloso, August cogitava hipóteses não tão impossíveis, porém que poderiam causar tragédias de resultados amargos à sua família.

— Maldição — praguejou entre os dentes. — Garota estúpida!

Há cinco meses, August Blackall cortejava Cassandra Harcourt a fim de satisfazer seu velho pai. Agradava-se, de fato, de ter o afeto da moça, visto que um casamento com ela não seria desvantajoso. Acontece que, há três meses, August conhecera uma mulher cuja beleza despertara muito mais interesse do que o dinheiro. A Sra. Emily Amstrong não era de família rica; na verdade, era uma viúva sem grandes fortunas, quase dez anos mais velha do que o gêmeo cobiçoso. August havia a conhecido em um baile de Londres e lá tiveram um caso amoroso. Não que o cavalheiro tivesse se apaixonado pela mulher, tampouco pensava em casar-se com ela. No entanto, divertia-se na companhia da dama e tinham suas noites de luxúria.

O plano de August era cortejar a Srta. Harcourt até a maioridade da moça, e, depois, selavam a fatídica aliança — tudo para agradar ao velho Blackall. Enquanto isso, continuaria em seus momentos pecaminosos com a viúva Amstrong, beldade de cachos loiros, olhos acinzentados e nariz perfeitamente ornamentado. Todavia, para seu desapontamento, as circunstâncias foram contra seus planos. Extremamente desalentada, Cassandra insistiu para a antecipação do casamento.

— Precisamos casar o quanto antes — desesperou-se a jovem, duas semanas antes da viagem do cavalheiro a Londres. — É caso de honra, August!

O caso de honra o gêmeo Blackall bem entendia o que era. Desapontado, concordou e deixara a promessa de um casamento em dezembro. Havia viajado a Londres, com o pretexto de tratar de negócios. Na verdade, tinha como objetivo despedir-se de Emily, ao menos, por um tempo.

De súbito, seus devaneios cessaram diante da batida em sua porta. O serviçal viera informar a visita aguardada, e teve como tarefa chamá-la ao andar de cima, pois ficariam na intimidade. O discreto criado já havia presenciado momentos como aqueles de mulheres adentrando o quarto do Sr. August Blackall; era-lhe comum tais visitas de jovens promíscuas ou estúpidas o bastante para acreditarem nas promessas romanescas de seu patrão. E, para não se meter em assuntos alheios e não se comprometer, o empregado era sempre o mais circunspecto possível.

— Finalmente — disse August assim que a mulher fechou a porta atrás de si. — Está atrasada, Emily, como sempre.

— Oh, querido, atrasei-me para ter-me apresentável diante de você. — A Sra. Amstrong aplicou-lhe um beijo e sorriu, sedutoramente. — Gostou do vestido que o senhor me deu?

— Não me recordo de tê-la presenteado.

— Bem, é melhor não ter problemas com a costureira. — Sentando-se no divã, Emily serviu-se de licor. — Quando partir, não se esqueça de pagar a pobre mulher.

— Já pedi para não fazer gastos excessivos em meu nome.

— O que é excessivo para um Blackall?

Apesar de uma mulher adulta, Emily Amstrong tinha o jeito infantil de portar-se que, muitas vezes, irritava a August.

— Não importa — desdenhou. — Eu pedi que viesse aqui, pois temos que conversar.

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