Capítulo XI

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— Papai, você acredita que existem outras vidas em outros lugares, no universo?

A noite fazia-se serena e propícia para um deslumbre ao céu. Apesar do frio outonal, Ophelia e o reverendo George acomodaram-se no jardim da residência e ficaram a contemplar a noite. Desde pequena, Ophelia tinha esse momento com o pai, que mostrava a beleza ofertada do mundo e as peculiaridades na imensidão desconhecida.

— Acredito que nada é impossível — respondeu, após refletir sobre a pergunta. — De fato, é muita prepotência achar que o universo pertence apenas a nós, da Terra.

— Sabe em que acredito, papai? Acredito que exista uma outra Ophelia, a observar um céu muito semelhante a este; acredito que ela seja muito parecida comigo, mas que não pertence ao mesmo modo de vida. Aposto que essa Ophelia tem objetos desconhecidos a nós, e que vive em uma sociedade que à nossa limitada imaginação seja utópica. O que temos agora, neste exato momento, deve ser extremamente arcaico aos olhos dessa Ophelia; ou, quiçá, no mundo dela nunca chegou a existir essas coisas que a nós é comum. As roupas devem ser extremamente distintas. Será que mulheres usam calças? Já escutei falar que em Paris há algumas mulheres que se arriscam a usar esses trajes pertencentes apenas aos homens. Talvez, no mundo da outra Ophelia — ou outras — as calças sejam comuns a todos, assim como os vestidos.

— Você acha que nesse mundo os homens trajam vestidos? — riu o Sr. Stanhope, achando graça na imaginação da filha.

— Por que não? — deu de ombros. — Vestidos, calças, casacos: tudo não passa de roupas para escondermos nossas vergonhas. Na Bíblia diz que, quando Adão e Eva foram expulsos do Éden, queriam cobrir suas vergonhas; mas nunca especificou com o quê.

Divertindo-se com sua perspicaz menina, o reverendo George balançou a cabeça, em concordância.

— Deveras, nada fora especificado — concordou. — Só gostaria de ver a expressão de Thomas ao escutá-la dizendo tais coisas.

— Thomas não tem fertilidade na mente. — Fora o veredicto de Ophelia. — E quanto ao senhor, papai, o que pensa quando vê toda essa grandiosidade estrelada?

O Sr. Stanhope suspirou longamente e fixou seus analisadores olhos sobre o céu repleto de pontinhos brilhantes e um sorriso chamado Lua.

— Eu percebo o quanto somos pequenos e frágeis — disse, por fim. — Somos tão insignificantes, e, ao mesmo tempo, acreditamos ter tamanha fortaleza de importância. Decerto, já fizemos muitos progressos, já passamos por muitas revoluções e evoluções. Mesmo assim, ouso dizer que não é nada comparado à magnificência do universo. E, como você mesma apontou, Ophelia: outros mundos devem existir para participar dessa maravilha.

— Certamente que sim, papai.

No outro dia, Ophelia havia resolvido fazer um passeio, desacompanhada. Os gêmeos tinham ido a Londres, a fim de visitar uma tia muitíssimo doente. Não que os dois fossem muito apegados à irmã mais nova da Sra. Fanny; mas, como os pais não permitiriam que os rapazes permanecessem sozinhos em Southfield Park, acharam o mais adequado levá-los àquela inusitada viagem.

Então, para passar o sábado tranquilo, Ophelia Stanhope aventurou-se por Hampshire, crendo que sua caminhada seria plena. No entanto, logo uma inesperada nuvem cinzenta resolvera visitar o céu daquela região; não tardou para uma forte chuva cair e fazer a pobre moça amedrontar-se com os enfurecidos trovões.

Ophelia havia caminho o bastante para estar a quilômetros de distância de sua casinha. O único local perto o suficiente para ela se proteger era Gardenfield Park. Então, sem nenhum orgulho, apressou-se até a fabulosa residência; porém, quando chegou, acovardou-se diante da ideia de pedir abrigo à uma família que não fazia nenhuma questão de ser amigável. Sob a proteção de uma árvore — justamente aquela em que os gêmeos a assistiram bater à porta dos Young, no inapropriado jogo do "Desafio" —, Ophelia orou para a tempestade passar o quanto antes. Encharcada e trêmula, agachou-se e encolheu-se no intuito de proteger seu molhado corpo daquele frio.

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