Capítulo XIV

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O tempo tem contagens específicas. Um minuto pode parecer pouco quando se pratica algo muito formidável; mas, se for exigido um minuto da paciência de uma pessoa que a possui pouco, o tempo é lento e doloroso. Um ano da vida de alguém muito simplório é insignificante comparado a um ano da vida de um grande aventureiro. Uma década não é nada para quem já viveu quase um centenário. Um século é o bastante, porém, não tanto para quem o observa aos olhos da História. O tempo é racional, e, na sua racionalidade, transporta-nos aos períodos determinados, sem interrupções, sem retornos, sem progressos apressados. O tempo quem determina sua velocidade dos passos; é ele quem conduz a humanidade ao seu momento ideal. E, nessa dança contínua, a vida segue sua música e envolve-se na performance específica. A música é uma tiquetaquear absoluto e ininterrupto; é um badalar de emoções e expressões; é um grito do cuco para mostrar a existência do ser. Horas, minutos, segundos: filhos do tempo que controlam o mundo.

No final do inverno, Frederick e August despediam-se de Hampshire e saudavam a Universidade de Oxford. Os rapazes, garbosos, inteligentes e elegantes, estavam a caminho de tornarem-se verdadeiros cavalheiros; honrariam a família Blackall e seguiriam os passos da família. Os gêmeos Blackall eram a sexta geração a frequentar Oxford. Orgulhavam-se, deveras, pela responsabilidade atribuída a eles. Antes mesmo de estarem em local universitário, já se sentiam homens.

Antes de partirem, foram à casa dos Stanhope para despedir-se de sua melhor amiga, do reverendo George e de Thomas. Despedidas costumam ser terríveis, até mesmo quando há a certeza do reencontro. Ophelia, ao abraçar os dois gêmeos de seu afeto, não se permitiu chorar. Prometera ser forte quando o momento viesse a tornar real; não gostaria de demonstrar infelicidade pela evolução dos amigos. Embora tentasse controlar a comoção, era nítida sua expressão de tristeza. Como poderia ser forte sabendo que não teria a companhia de Frederick e August por um longo período?

— Você estará sempre em nossa memória, Ophelia — prometeu Fred, esforçando-se para não chorar. — Prometemos escrever-lhe sempre que possível.

— Eu escreverei sobre minhas aulas de esgrima — assegurou August. — E descreverei a biblioteca de Oxford nos mínimos detalhes.

— Vocês são anjos abençoados — sorriu a encantada menina. — Eu escreverei também, muitas cartas! E, por favor, prometam que estarão em meu baile.

— O amigo do seu irmão entregou-lhe o dinheiro destinado ao baile? — perguntou Frederick.

— Ainda não, mas comecei a preparar meu vestido. Comprei os tecidos e pedi à costureira começar a trabalhar, na promessa que em breve iria pagar cada centavo.

— Não acha que o sujeito está a demorar?

— Acho que é normal essa demora, August. Arthur dissera na carta que o Sr. Antony Taylor demoraria alguns meses.

Por fim, Frederick e August Blackall partiram, e Ophelia permitiu-se chorar no ombro do pai. A jovem havia guardado tantas lágrimas, que estas caíam aos montes no rosto avermelhado da moça.

— Lá se vão os meus amigos, papai.

— Para uma nova jornada de suas vidas, querida. — O Sr. George Stanhope aplicou um beijo terno no topo da cabeça da caçula. — Um dia, você terá também a sua jornada na qual as despedidas serão necessárias.

— Será que Frederick e August esquecer-se-ão de mim? Oh, temo perdê-los para sempre.

— Não se aflija por algo que ainda não aconteceu.

— Além do mais — intrometeu-se o frio Thomas. —, nada é para sempre. Se a amizade acabar, é porque Deus está planejando algo novo a vocês três.

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