Capítulo XXXVII

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A primeira noite de uma mulher com seu marido traz sensações nunca dantes acometidas. É uma situação inusitada que, dali a um tempo, fará parte do comum da vida do casal. Dormitar em um mesmo leito no qual se encontra a pessoa por quem prometeu fidelidade, respeito e devoção — tudo até Deus os separar —, é, deveras, algo que causa uma ansiedade descomunal, mas que não é de modo algum maléfica aos nervos. Se, por ora, o casal envolveu-se em uma união estável, seja por amor ou por simples contrato, a primeira noite traz os sentimentos verdadeiramente avassaladores.

No entanto, aquela noite, Ophelia e Frederick não cumpriam o ritual matrimonial. Ela, ainda tímida após trocar-se e colocar sua roupa de dormir, sentava desconfortavelmente à beira da cama, mordiscando o canto do lábio em um constrangimento ansioso. Frederick, no outro canto do dormitório, arrumava desastrosamente o sofá que serviria de cama por tempo indeterminado. Assim como sua esposa, encontrava-se acanhado pela situação.

Desajeitado, o rapaz tentava estender os lençóis e os cobertores, mas atrapalhava-se, deixando sempre um canto dobrado. Ophelia o observou e riu discretamente; foi ao encontro do marido, ajudá-lo naquela árdua tarefa. Ele, assim que a viu à frente da atividade, envergonhou-se por ser tão desastrado com as tarefas simples. Depois, mirou longamente sua esposa salvá-lo de uma noite mal dormida, e notou que, após tantos anos, via Ophelia de cabelos soltos. A última vez que a presenciou daquela forma fora na juventude, por volta dos catorze anos da moça. E, assim como outrora, ela continuava bela aos olhos do romântico Frederick.

— O que foi? — perguntou ela, assim que cobriu perfeitamente o sofá. — Por que me olha assim?

— Seu cabelo... Está solto... Está bonito — balbuciou.

— Queria que eu dormisse com ele preso? — zombou Ophelia.

— Não, não... Deve ser extremamente incômodo dormir com os cabelos presos.

Ophelia riu por Frederick ser tão cativante em sua timidez espontânea.

— Bem... — pigarreou ele, coçando a nuca. — Então, desejo-lhe uma boa noite de sono, Ophelia.

— Ainda me sinto péssima por ter-lhe roubado a cama.

— Não se sinta. Eu jamais a deixaria dormir no sofá.

— Amanhã irá amanhecer com as costas doloridas.

— Toleimas — disse, descontraidamente. — É um sofá de estofado bem aconchegante. Dormirei como um anjo.

— Você é realmente um anjo.

Ao dizer isso, Ophelia aplicou um beijo terno na face de Frederick, o qual ficara escarlate diante da ação amistosa da esposa amiga. Para disfarçar, virou-se para fingir que afofava os travesseiros, balbuciando coisas sem sentido.

— Boa noite, Fred.

— Boa noite, Ophelia — sorriu, acanhado. — Uma pergunta: você se importa de eu ficar com uma vela acesa? Gostaria de escrever um pouco antes de ir dormir.

— Fique à vontade. Estou feliz por ter retornado a escrever.

— Não sei se é definitivo, mas estou com ótimas ideias para criar histórias.

— Mostrará a mim, quando finalizar?

— Mostrarei amanhã o que já produzi.

Feliz pela promessa, Ophelia, enfim, foi-se para a cama, retirou o robe e acolheu-se na maciez dos lençóis, ainda pensando no quanto Frederick havia sido cortês por tê-la deixado no conforto, enquanto ele se ajeitava no sofá.

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