Capítulo X

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O outono havia iniciado mais uma vez sua estação. No entanto, em seus primeiros dias, pouco da coloração alaranjada fizera-se presente. Na verdade, ainda parecia uma linda tarde veranil, teimando em permanecer na região. Havia uma briga na Natureza: de um lado, a estação do calor mantendo-se firme com o clima quente e hospitaleiro; do outro, o outono, enxotando a intrometida antecessora, derrubando algumas folhas e despedindo-se totalmente das coloridas flores. Era uma rivalidade tola, principalmente da parte do egoísta verão, que tivera seus três meses, mas queria ficar por mais tempo. Sentindo-se injustiçado, o outono batalhava por seu espaço; dali por um pouco mais de noventa dias, ele reinaria sobre o Norte do globo terrestre.

Consagrando-se do adorável e caprichoso clima do dia, August, Frederick e o Sr. Blackall pegaram a tarde para praticar o croquet². Assistindo aos homens em suas atividades esportivas, Ophelia, na companhia da enfadonha Sra. Fanny e do seu impaciente cãozinho, Stephan, sentia comichões para também se unir ao jogo. Frederick havia convidado a moça para participar de uma partida, mas ela preferiu apenas ficar como expectadora; temia passar vergonha na frente do Sr. Blackall.

Sob a proteção de uma sombra, a Sra. Fanny pouco caso dava ao esporte; tampouco fazia questão de manter uma conversação com a mocinha que tinha como inferior. A enfastiosa mulher segurava Stephan em seus braços, obrigando-o a ter para si uma acolhida indesejada. Como uma enguia, o bichinho revirava-se de um lado para o outro, remexendo-se em um desgostoso frenesi. Ophelia não sabia julgar se a cena era patética ou alvo de compaixão. Indubitavelmente, sentia comiseração para com o pobre cãozinho que vivia sufocado pelos excessos de carinho de sua humana; quanto à Sra. Fanny, Ophelia tentava entender os motivos que a faziam tão insípida. A Sra. Blackall era a mulher que a jovem Stanhope lutava para não ser: vazia, insensível e fútil. Para a mais velha, a vida resumia-se a bailes luxuosos, vestimentas fabulosas e joias de valores inestimáveis. Para a mais nova, a vida não era algo que pudesse esclarecer com palavras singelas, muito menos definitivas; a vida, para Ophelia Stanhope, era um grande aprendizado e uma oferta magnífica de boas venturas.

De súbito, Frederick correu até o local que sua amiga descansava e ofereceu a mão. Surpresa, a garota observou-o sem entender o que ele queria.

— Deixe-me ensiná-la a jogar — falou entusiasmado. — Formaremos uma dupla, e competiremos com papai e August.

— Ora, iremos perder horrivelmente!

— Não me importo — desdenhou Frederick. — O importante é a diversão. Sei que está imensamente curiosa para saber como é o esporte; vi-a com os olhos brilhantes de admiração. Vamos! Levante-se daí e venha comigo.

Como uma criança alegre ao receber seu doce, Ophelia aceitara o convite do gêmeo gentil e foi juntar-se aos outros cavalheiros. Antes de entrar no campo do jogo, ouvira a Sra. Fanny resmungar algo negativo sobre moças que praticavam esportes. Pouco se importando com o comentário da mãe de Frederick e August, Ophelia foi divertir-se na novidade e testar o que poderia trazer uma alegre tarde.

Seu professor não poderia ser mais paciente. Frederick, antes de iniciar a competição, ensinara o principal objetivo do jogo de croquet: acertar o máximo de bolas nos aros. Com o bastão em mãos, o rapaz demonstrou qual o movimento exato para empurrar a bola em direção às argolas.

— Conta-se um ponto quando a bola atravessa um aro; e um ponto quando a bola bate na estaca que fica ali no final do percurso — explicou Frederick, apontando para o campo gramado, decorado conforme a exigência do croquet. — O jogo termina quando uma das equipes, com ambas as bolas, completar o trajeto dos doze aros, até finalmente atingir a estaca. Aqui! — entregou à Ophelia — A bola vermelha é a sua; a minha é a azul; de papai é a verde; e August fica com a amarela. Conseguiu entender o funcionamento?

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