Capítulo XXXII

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Nada poderia ser mais surpreendente à Georgiana Young quando Ophelia, ofegante, batera em sua porta para anunciar o pedido de casamento que Frederick Blackall havia feito. Mais surpreendente fora descobrir que a Srta. Stanhope estava disposta a aceitar o pedido. Ainda a ingerir tamanhas informações perturbadoras a ela, viu-se diante de uma novidade extremamente emocional, cujo teor causava-lhe ligeiras dores de cabeça. Georgiana não era uma moça frágil ou simpatizante do drama, porém viu-se muitíssimo abalada por saber que sua Ophelia tinha em mente tornar-se uma Blackall.

— Quando irá respondê-lo? — perguntou, secamente.

— Prometi dar-lhe uma resposta amanhã.

— Mas já a tem, não é mesmo? — sorriu, tristemente. — Irá aceitar e tornar-se membro daquela família deplorável e vergonhosa.

— Georgiana, por favor, eu vim aqui para desabafar.

— Exato! — ralhou a outra. — Não viera para pedir conselhos; está aqui para dizer que sua decisão está tomada, e eu devo preparar-me para o pior.

— Do jeito que fala, parece que estou a cometer um crime — magoou-se Ophelia. — Você não entende e nunca entenderá, Georgiana! Ser pobre é horrível, mas ser uma mulher solteira pobre é muito pior. Você é privilegiada, bonita, tem tudo ao seu alcance. Eu, por outro lado, não posso me dar ao luxo de ser uma solteirona. Em minha posição social — você bem sabe —, é patético.

— Então venha morar comigo, Ophelia! — Georgiana foi ao encontro da amiga e apertou-lhe as mãos, em desespero. — Não se torne uma Blackall, eu lhe imploro! Venha morar comigo, e sejamos duas solteironas unidas. Eu dar-lhe-ei o luxo que você merece. Confesso que essa ideia passa por minha mente há anos, mas sempre soube que você nunca o aceitaria. Mas, agora, é diferente... A situação mudou!

— Morar com você? — Ophelia retirou as mãos da amiga sobre as suas, e afastou-se. — Georgiana, o que iriam dizer? Imagina as atrocidades que o povo inventaria sobre nós duas! Por Deus, minha amiga, essa ideia está fora de cogitação.

— Eu a amo, Ophelia!

— Eu a amo, também — disse, mas não com o mesmo sentimento de Georgiana. — No entanto, não posso aceitar o que me propõe.

— Mas a proposta do Blackall você pode aceitar! — falou a Srta. Young, com amargor.

— Fred está dando-me a oportunidade de mudar minha situação, por favor, entenda. Além disso, quem me garante que daqui algum tempo você mesma não venha a se casar. Eu seria um fardo, independente da situação. Jamais aceitaria receber tamanha caridade.

— Casar-me? Eu? — desdenhou Georgiana. — Se não o fiz até agora, aos vinte e nove anos, nunca o farei, Ophelia.

— Você é bonita e rica — rebateu a outra. — Haverá muitos pretendentes.

— Eu não gosto dos homens!

— Você diz isso porque ainda não encontrou nenhum para amar.

— Eu digo isso, querida, porque nunca poderei amar um — sussurrou Georgiana, perdendo suas forças na poltrona. — Eu jamais poderia amar algum homem.

Sem compreender os reais motivos de Georgiana, Ophelia aproximou-se da amiga e fez-lhe um cafuné na cabeça, na tentativa de consolá-la. Entendia que a notícia havia desestruturado a Srta. Young, a qual mantinha a rivalidade contra os Blackall. Ophelia acreditava entender o que se passava pela mente e pelo coração de sua amiga, quando, na verdade, pouco sabia dos segredos dos quais a mulher tinha receio de revelar, principalmente à Srta. Stanhope, a qual era o principal motivo para Georgiana envergonhar-se de expor suas reais intenções e suas verdadeiras emoções.

— Decidi-me que, quando você se casar, irei mudar-me para as Américas.

Arregalando os olhos, Ophelia espantou-se pela inusitada decisão.

— Por que isso agora, Georgiana?

— Porque não suportarei vê-la casada, ainda mais com um Blackall.

— Você está exagerando... — balbuciou Ophelia. — Por favor, Georgiana, não faça isso! Não me abandone!

— Sinto muito, querida... — Pela primeira vez, Ophelia via sua amiga chorar. — Aqui em Hampshire já perdi o bastante: meus pais, a Srta. Spencer e, agora, você. Talvez, no Novo Mundo — como dizem os sonhadores —, construirei uma vida nova.

— Então, pretende esquecer-se de mim? — magoou-se a outra. — Irá viver sua nova vida, e abandonar completamente a antiga?

— Nunca, querida Ophelia — prometeu a Srta. Young. — Carregarei comigo sempre a sua imagem e os nossos lindos momentos de amizade.

As mulheres abraçaram-se, quase implorando por um retrocesso do tempo, no qual ambas eram apenas duas meninas a conversar trivialidades e rir da pobre Srta. Spencer. Quando tudo havia passado tão depressa? Por que as mudanças, muitas vezes, traziam as separações?

— Deseje-me felicidade, Georgiana — pediu Ophelia, entre soluços. — Abençoe-me diante desse casamento que me espera.

— Farei isso, querida, se você também abençoar a mim.

As bênçãos vieram de cada parte, com uma encostada à testa da outra e os dedos cruzados em uma promessa de que continuariam a se corresponder, não importasse a distância ou as circunstâncias. Para Georgiana, Ophelia tornara-se sua primeira e única amiga da vida; para Ophelia, a Srta. Young era-lhe a amizade feminina que tanto almejava um dia ter, pois, embora amasse os gêmeos, sentia falta de segredar algo que envolvesse o universo das mulheres e suas particularidades. Para a Srta. Stanhope, o início de tudo foi possível graças à gloriosa tempestade que ligara aquelas duas almas. Antes, o desafio tolo de dois meninos que queriam vê-la passar vergonha, mas não imaginavam que causariam uma aliança poderosa e uma parceria por longos anos. A tudo Ophelia revivia e sentia as comoções de uma passagem rápida cujo nome era vida; a tudo Georgiana relembrava, na íntima sensação de que fora feito do jeito perfeito.

Dali a dois meses, Ophelia Stanhope tornara-se Ophelia Blackall. Apesar da novidade assustadora, a noiva encontrava-se sorridente e esperançosa. O noivo, por sua vez, transbordava felicidade, aplicando um beijo casto na testa de sua esposa quando confirmaram a união.

Os únicos desgostosos diante do matrimônio eram o Sr. Richard Blackall, a Sra. Fanny e August. Para os pais, Frederick casava-se com uma moça sem recursos e sem honra para arcar com o peso do nome dos Blackall; para o outro gêmeo, o irmão fracassara em humilhar-se por um casamento que ele bem sabia que era para salvar a amiga de outrora. Frederick e Ophelia poderiam enganar a todos com a conversa de um casamento comum, porém August conhecia os dois o suficiente para saber que faziam isso por acordo.

Quanto à Cassandra e a pequena Ophelia, alegravam-se pela chegada da nova integrante à família, dispostas a recepcioná-la com o excesso carinho a fim de suprir o que faltaria do restante dos Blackall. Thomas e Emma, por sua vez, contentavam-se pela união, embora para o irmão mais velho tenha sido um noivado inusitado; mas, para a esposa, o casamento de Ophelia e Frederick não era uma surpresa.

— Sempre enxerguei amor por parte dele — segredou Emma ao marido, após o casamento. — E, com o tempo, sabia que nossa Ophelia compreenderia seus verdadeiros sentimentos pelo rapaz.

— E eu que pensava que ela gostava de August.

— Ah, mas isso há muito tempo! Ophelia percebeu que precisava amar quem a ama.

— Desejo felicidades ao novo casal e que Deus os abençoe.

— Amém, querido.

A nova Sra. Blackall, em sua nova morada, estranhava cada detalhe de Southfield Park. Por mais que conhecesse a residência, parecia-lhe inédita e assustadora. Como combinado, Frederick permaneceria em um dormitório e Ophelia, em outro. Quando se viu sozinha, suspirou longa e desesperadamente.

— O que será de mim, daqui por diante?

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