Capítulo XXXVIII

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O desjejum da residência dos moradores de Southfield Park costumava ser especialmente pleno, no qual os habitantes trocavam poucas e necessárias palavras. Normalmente, apenas Ophelia e Frederick cultivavam o hábito social da conversação entre as refeições a fim de dissipar um momento de silencioso constrangimento. Todavia, naquela específica manhã, os Blackall não imaginavam o tumulto que uma visita imprevista ocasionaria na pacata comodidade da abastada família. 

De súbito, a figura de uma mulher alta, e vestida no mais elegante traje, surgira à reunião matinal. Atrás, o serviçal desesperado, tentando impedir a invasão.

— O que está a acontecer aqui? — levantou-se o Sr. Blackall de seu assento, nitidamente irritado. — Quem é essa senhora?

— Desculpe-me, senhor, ela foi entrando...

— Eu vim falar com Cassandra Blackall — interrompeu a mulher o pobre lacaio confuso, em um tom seriamente arrogante. — Não saio daqui antes de conversar com a esposa de August.

— Quem é a senhora? — interrogou-a Cassandra, intrigada com a figura daquela esguia mulher.

— Essa é a pequena Blackall? — apontou a intrusa para a criança Ophelia, assustada diante da cena exposta logo pela manhã. — Prefiro falar-lhe a sós, de preferência, longe da menina, pois não é assunto para a faixa etária dela.

A governanta imediatamente levara consigo a criança para evitar mais pânico na garotinha amedrontada. O Sr. Richard encarava a intrigante visita, julgando-a em suas suposições. O mesmo passava na mente de Ophelia e Frederick, compreendendo quem poderia ser aquela inapropriada senhora. A Sra. Fanny, alimentando Cassy com pedaços de frutas, assustara-se, mas preferiu não se intrometer, visto que não era ela alvo daquela injúria feminina. Cassandra, em sua estrutura rígida e polida, ergueu o queixo para examinar aquela que sabia ser sua adversária. Quanto a August, este não se encontrava na residência, pois havia acordado cedo para cavalgar.

— Bem, senhora, se quer conversar comigo, não vejo por que não falar na presença de todos — desafiou a esposa de August. — Tenho certeza de que é um assunto interessante à família.

— Está ciente dessa decisão, querida? — zombou a dama. — Pela sua expressão, você sabe quem sou eu. Quer mesmo humilhar-se perante todos os seus familiares?

— A humilhação será apenas sua e da outra pessoa envolvida — rebateu Cassandra. — Passei anos lamentando essa ocorrência, mas hoje sou adulta o bastante para importar-me apenas com quem mais amo: minha filha.

— Por favor, o que está havendo aqui? — exasperou-se o Sr. Blackall. — Por acaso você a conhece, Cassandra?

— Eu não — respondeu a mulher mantendo a segurança e a firmeza na voz. — Mas seu filho, sim.

— O que quer dizer com isso? — interveio a Sra. Fanny em um tom maçante.

— Digo, senhora, que seu filho, August, há anos peca no adultério. — Cassandra rebelou-se, mas sem desfazer a compostura. — Essa senhora à nossa frente nada mais é do que a amante daquele que não está aqui para explicar-se e desculpar-se por toda essa cena patética e lamentável.

Ophelia, ao perceber que a amiga tinha as mãos trêmulas, confortou-a pedindo para sentar-se novamente. No entanto, agradecida pelo auxílio, Cassandra preferiu enfrentar a sujeita na mesma altura que ela, não se permitindo fraquejar. Sempre desconfiara do romance extraconjugal de seu marido, mas nunca imaginou um dia ter que encarar a amante de perto. Ali, perfeitamente em pé, havia uma senhora muito mais velha do que Cassandra, ainda a manter uma beleza descomunal. Seu traje, extremamente exagerado, mostrava que a mulher era rica ou que August a mimava muito bem. As joias brilhavam, demonstrando seu ostensivo valor. Os cabelo loiros reluziam em um penteado extravagante, muito inapropriado para uma visita à uma família bucólica. Tudo era descomedido e fútil naquela senhora, a qual Cassandra apenas lamentou por seu marido ter sido tão crápula em conviver com alguém de estirpe duvidosa. Provavelmente, pensou Cassandra, August fosse da pior estirpe.

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