Capítulo XXXI

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Desde a morte do Sr. Stanhope, uma nova fase da vida de Ophelia iniciou-se. A moça passara a morar na residência de seu irmão, Thomas, com sua esposa e os três filhos do casal — George; e as duas novas, Lydia e Jane —, deixando para trás as lembranças de uma infância e de uma mocidade na casa paroquial pertencente aos Blackall. O tempo foi-se passando: as crianças cresciam, os adultos envelheciam, os velhos morriam. Aos vinte e nove anos, Ophelia Stanhope sentia-se um fardo sob a responsabilidade da família de Thomas; com a idade da condição vergonhosa de solteira, a mulher não mais acreditava em um futuro promissor. Da maturidade, surgiu-se o pessimismo.

As mudanças também estavam a acontecer nas residências de Southfield Park e Gardenfield Park. Na primeira, alguns furtos ocorriam periodicamente. No começo, foram furtos discretos e pequenos; com o avançar dos acontecimentos, os objetos e as quantidades eram ainda maiores. Ophelia recordara-se da história da então falecida Sra. Smith — na qual o Sr. Richard era o protagonista —, e já tinha um veredicto: August Blackall era o responsável por causar tamanhos tormentos e desgostos. Além dessa decepção, há três anos Frederick enviuvara; a silenciosa Agatha pegara uma doença tão quieta quanto ela, e, aos poucos, foi-se definhando até não mais suportar viver. Fora uma perda prematura e inesperada; o pobre amigo de Ophelia abalara-se pela perda da esposa. Frederick Blackall e Agatha estavam, aos poucos, fortalecendo os laços do casamento; cogitavam ter um filho, mas tudo se interrompera pelas decisões divinas.

Do outro lado, em Gardenfield Park, também houvera perdas. Georgiana Young tornara-se a única herdeira da fortuna de sua família. Primeiro, seu pai adoeceu e morreu alguns meses depois; acreditava-se que contraíra tuberculose. Dois anos depois, fora a vez da mãe, com a mesma malévola doença. E até a Sra. Spencer, sua governanta e preceptora de toda a vida, havia-a deixado sozinha. Foram tempos difíceis para Georgiana; seus pais eram seus maiores companheiros. No entanto, quando se recuperou dos lutos, cobriu-se da armadura de uma pessoa rica e independente, tornando-se a mulher mais poderosa de Hampshire, alvo de cobiças, intrigas e invejas. Ao contrário de Ophelia, Georgiana tinha orgulho por nunca ter-se casado; e, ao contrário de Ophelia, tivera muitos pretendentes a tentar mudar sua situação.

Por mais que as diferenças e o avançar da vida pudesse separar Ophelia de seus amigos de outrora, tudo permanecia do jeito que sempre fora. Exceto August — que Ophelia há anos não sabia como mais dialogar com o cavalheiro —, os amigos eram-lhe queridos e estavam à sua disposição. Georgiana era muito parceira e confidente de Ophelia; quanto a Frederick, houve um tempo em que se afastara da filha do falecido reverendo a fim de manter seu casamento. Todavia, tudo em vão, pois, principalmente na doença de Agatha, Ophelia fez-se ainda mais presente. Frederick nunca soubera como retribuir tamanha fraternidade e carinho.

Em uma notável manhã em Hampshire, e, à convite de Frederick Blackall — amigo fiel —, Ophelia Stanhope achou que o dia fazia-se propício para um passeio matinal. Os dois caminhavam lado a lado, rindo de lembranças nostálgicas e agradáveis de compartilhar; ambos sorriam um ao outro com a mesma afortunada facilidade da infância, sem as cerimônias tediosas ou os acanhamentos descomedidos. Eram duas almas adultas diante da personalidade da juventude. Como chegaram a carregar tantos anos nas costas? Como haviam chegado até ali?

De um lado, Frederick analisava sua bela amiga, que ainda mantinha o charme de dantes. Do outro, Ophelia a mirar as vaidosas rugas quando seu amigo sorria, deixando-lhe um ar mais maduro e experiente. Os olhos de Frederick carregavam tristezas, disso Ophelia bem sabia; mas ainda existia o antigo escritor romântico, que estava a retornar à pena, manuseando-a com a destreza de tempos passados. A criatividade e o talento de Frederick Blackall nunca o abandonaram; o único problema fora o escritor decidir-se interromper sua arte, algo que procuraria reverter, dali por diante.

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