Capítulo XXIII

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O chá da tarde parecia não ter feito bem à Sra. Cassandra Blackall, porquanto a expressão que tentava disfarçar diante dos presentes era de alguém extremamente incomodada por dentro. Fazia um caloroso dia, e todos preferiram tomar refrescos no lugar do chá, exceto Cassandra. Estavam no jardim de Southfield Park: o Sr. e a Sra. Blackall — com Sebastian no colo; Ophelia; Frederick; August e sua jovem esposa. Esta última, enquanto os outros conversavam, massageava a barriga e escondia uma perturbação em seu ventre. A Sra. Fanny, mimando seu Cocker, nada percebera; o Sr. Richard e August tampouco, pois dialogavam sobre negócios auspiciosos. Apenas Ophelia que, ao interromper educadamente Frederick sobre sua fala em relação à literatura, aproximou-se discretamente de Cassandra e perguntou-lhe:

— Está tudo bem?

A moça, assustada, não quis mais disfarçar seus tormentos, então, em uma chorosa súplica, falou:

— Sinto dores estranhas... Sou capaz de desmaiar a qualquer instante.

— Irei levá-la ao seu aposento.

— Eu também vou — apontou Frederick, ciente do ocorrido.

Os três levantaram-se, com Cassandra a apoiar as mãos em cada um de seus ajudantes. August, ao fitá-los, questionou-os para onde pretendiam levar sua esposa.

— Não me sinto bem, querido.

— Certamente foi o chá — observou a Sra. Fanny, despreocupadamente. — Neste calor do verão, é estúpido tomar algo tão quente. Aconselhei-a beber o chá apenas à noite, querida.

— Será a criança nascendo? — levantou-se o Sr. Blackall, interrompendo sua mulher.

— Ora, Richard, ainda faltam dois meses para essa criança nascer — ridicularizou a Sra. Blackall. — Provavelmente, é apenas uma indisposição de nossa Cassandra.

— Sim, provavelmente isso, senhor...

A jovem Sra. Blackall não conseguiu finalizar sua frase, visto que uma dor atingiu-a aguda, forçando-a a gemer levemente. Ophelia a encarou e, talvez, o Sr. Richard estivesse certo: o bebê estava prestes a nascer. A filha do reverendo, então, olhou Frederick que, ela supôs, pensar o mesmo. Ambos encaravam-se aflitos, até, por fim, caminharem unidos à Cassandra para levarem-na aos seus aposentos.

Estranhamente, August não parecia preocupado. Na verdade, estava sério e meditativo; parecia arquitetar planos em sua mente a fim de amenizar algo que poderia lhe causar problemas.

Em seu leito, Cassandra era acomodada em sua cama, ajudada por Frederick. A jovem grávida começou a gemer de acordo com o aumento das dores. Apreensiva, Ophelia pediu ao amigo para ausentar-se por um instante, a fim de poder examinar a gestante. Assim que ficaram a sós, Ophelia pediu licença à Cassandra para levantar-lhe as saias. A vergonha era o menor dos problemas da moça, então pouco se importou com o gesto da Srta. Stanhope. Assim que esta enxergara as intimidades da esposa de August, assustou-se pela teoria ter-se tornado fato: o bebê estava a caminho.

— Frederick, precisamos de uma parteira! — alertou-o assim que o encontrou no corredor dos aposentos.

— O que está acontecendo aqui? Onde está minha esposa?

August subira as escadas como uma flecha, de semblante irritado.

— O bebê está a nascer! — avisou-o Frederick. — Irei chamar a parteira.

— Corra, Frederick! — alarmou-se Ophelia. — Um parto prematuro pode ser arriscado.

— Não precisa — interrompeu-os August. — Eu irei buscar a parteira.

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