Capítulo XXXIII

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Adaptar-se a um ambiente já conhecido é desconfortável e demorado. A acomodação em um lugar incomum far-se-ia de forma muito mais satisfatória, pois o novo, embora assustador, é a chance de grandes e auspiciosas realizações; o desconhecido é a forma da vida mostrar que há muitas oportunidades a serem seguidas. 

Para Ophelia, as primeiras semanas em Southfield Park foram muitíssimo exaustivas e estressantes, porquanto, infelizmente, boa parte da família Blackall não aceitava com contentamento o novo matrimônio de Frederick. Para piorar, Georgiana Young, cumprindo — como de costume — a sua palavra, mudara-se para Nova Iorque, três dias após a cerimônia de casamento, deixando apenas uma carta como despedida.


"Querida Ophelia,

A mim, as despedidas são extenuantes e embaraçosas. Sabe muito bem que não sou mulher de ir aos prantos, sendo que a primeira vez que me vira chorar fora quando me comunicou seu fatídico noivado com um Blackall — quanto desgosto! Para poupá-la de mais cenas patéticas como aquelas — e para livrar-me da humilhação das fraquezas —, despeço-me vergonhosamente através de uma missiva. Sei o que está a pensar; deve estar-me julgando e magoando-se por minha insensibilidade. Saiba, querida, que não há insensibilidade alguma de minha parte; saiba que o contrário ocorre, e, mediante este fato, meu sentimentalismo devora-me e consome-me as energias, desencorajando-me a abraçá-la em um adeus. Por mais que queiramos acreditar em um suposto até logo, nada mais certo do que o adeus nesta minha viagem para todo o sempre. Juro que gostaria de tê-la por perto mais uma vez; almejo-a, quiçá, em uma despedida da vida eterna. No entanto, creio que não mais retornarei às nossas terras, ocupando um pequeno espaço de longínquos lugares que um dia nos pertenceu. Gosto de como os americanos desafiaram-nos e venceram-nos perante uma guerra de libertação. Agora é a minha vez de libertar-me daqui.

Por favor, Ophelia, não me odeie! Você é e sempre será minha melhor amiga; a única que tive o privilégio de manter por tantos anos. Os motivos que me levam a mudar-me vão muito além de uma rivalidade entre Young e Blackall; vão muito além de minha aversão por ter-se tornado justamente um daqueles que repudio. Por mais que tenha o nome deles, nunca seria capaz de rejeitá-la. Em meu coração, sempre será a filha do reverendo Stanhope. Todavia, amada amiga, parto-me por motivos que não serei capaz — não agora — de justificar-lhe. Um dia, quem sabe, você compreenderá e perdoará essa sua amiga repleta de caprichos.

Agora, sobre o seu casamento, devo confessar que repensei e prometi a mim mesma olhá-lo de forma otimista. Cá entre nós: melhor casar-se com Frederick ao invés de August. Convenhamos que o gêmeo do mal nunca seria o homem merecedor de seu amor, e fiquei muito feliz quando você convenceu-se disso. August Blackall sempre foi e sempre será a imagem e semelhança dos seus antepassados; é um sujeito a ter-se cuidado, Ophelia. Quanto à Frederick, embora seja um Blackall, tem seu valor. Não o idolatro ou simpatizo com o rapaz, mas sei que ele não permitirá que nenhum mal ocorra a você enquanto estiver sob o teto de Southfield Park. Creio que, se ele a propôs, é porque a manterá segura.

Por fim, despeço-me de uma vez, antes que as lágrimas — as odiosas lágrimas — comecem a manchar o meu rosto e o papel. Aqui, ficam os meus mais sinceros desejos de felicidade; qualquer felicidade que valha o sacrifício de tê-la poupado de um casamento sonhado; qualquer felicidade que seja convincente para descartar o amor e corromper-se pela conveniência; qualquer felicidade que não a carregue para o arrependimento tardio.

Agradeço os lindos momentos, e que Deus a abençoe, minha amada Ophelia.

Com amor,

Casamento BrancoOnde histórias criam vida. Descubra agora