Capítulo XXV

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Os Collins realizavam um baile. Phillip, o mais moço da família, estava noivo de uma jovem de nome Sophia Morgan. Para comemorar a união, o cavalheiro convidara a todos os amigos de Hampshire para fazer parte daquele dia glorioso.

A convidada que Phillip mais sentia prazer em ter em sua festa era a Srta. Georgina Young. Ainda despeitado pela recusa da dama em seus insistentes pedidos de casamento, o Sr. Collins sentia prazer em mostrar sua fictícia superação àquela que um dia o rejeitara de forma hostil e desrespeitosa. Por mais que dissesse o contrário, Phillip Collins ainda mantinha em seu coração a paixão tola pela herdeira Young. Gostava muito da sua futura esposa, mas esta nunca seria a tempestuosa e original Georgiana Young.

Georgiana, por sua vez, apenas observava tudo, controlando-se para não fazer escárnio da situação. No fundo, estava contente por Phillip ter encontrado sua esposa e selar o matrimônio que tanto almejava. Dali por diante, a Srta. Young não o teria mais como um aborrecimento.

Quanto à Ophelia, também se fazia presente no baile, dançando com um dos primos do Sr. Phillip — o Sr. Benjamim Collins. Ele era um cavalheiro educado e cortês, mas nada que saltasse em Ophelia o sentimento de alguém para ser amado por ela. No entanto, uma nova amizade era sempre bem-vinda, e a conversa do Sr. Benjamim era muitíssimo interessante. Os diálogos vinham com bastantes conhecimentos, mas sem a pompa de pretensões arrogantes. O sujeito de inteligência invejável, de fato, tornara-se uma excelente companhia, e Ophelia não pôde dizer outra coisa a não ser um sincero sim para uma segunda dança. Por fim, quando despediu-se momentaneamente do Sr. Benjamim Collins, Ophelia retornou ao lugar que ocupava, ao lado de Georgiana — esta apenas dançara uma única vez, com o pai.

— Divertindo-se, querida? — zombou a Srta. Young. — Será que um dos Collins a fisgou?

— Que bobagem, Georgiana! O Sr. Benjamim é extremante cativante, e ofereceu-me diálogos excepcionais. É uma amizade a ser cultivada.

— Ao menos um Collins inteligente.

— Não fale assim, querida — ironizou Ophelia, tomando o tom da outra. — Irão achar que está com ciúme.

— Poupe-me — desdenhou. — Se é para ter ciúme, que eu tenha de você.

— De mim?

— Exato — confirmou, indiferente. — Deixou-me sozinha, enquanto divertia-se no salão de dança.

— Muitos cavalheiros a convidaram; poderia muito bem tê-los aceitado — defendeu-se a Srta. Stanhope. —Além disso, deixei-a na companhia de Fred. Onde está meu amigo?

— Agradeço a gentileza por ter-me deixado com um Blackall — ironizou Georgiana. — E seu querido amigo encontra-se a bailar com uma dama muitíssimo encantadora. Aliás, é a segunda dança dos dois.

— Qual moça? — questionou Ophelia, curiosa.

— Agatha Churchill — respondeu a Srta. Young, após puxar da memória o nome da desconhecida. — Apenas sei que é de família muito amiga dos Collins. Vieram de Bath.

— Seria uma moça rica?

— Realmente, não sei dizer-lhe. Mas, por quê? Acha que seu querido amigo quer dar um golpe? Conscientizou-se de que nenhum Blackall escapa da ambição do lobo?

— Ora, Georgiana, basta! — irritou-se Ophelia. — Lembre-se de que há uma Blackall com o meu nome, agora.

— Desperdício de um lindo nome para um Blackall.

— Você é impossível!

Desta vez, quem ficara a sós fora Ophelia, pois Georgiana aceitara dançar com o Sr. Firth, um homem de meia-idade que o Sr. Young simpatizava. Para não fazer desfeita, aceitou-o como companheiro de baile. Ophelia mirou o local que seu pai encontrava-se, sorrindo ao vê-lo dialogando com os outros senhores; o reverendo George era sempre benquisto por todos em Hampshire. Thomas e Emma não puderam marcar presença, porquanto o bebê necessitava de cuidados; o mesmo ocorria com Cassandra. Por outro lado, August gargalhava na mesa de cartas, vitorioso em suas jogadas certeiras. Ophelia lamentava a postura daquele que ainda tinha como amigo, embora sentia que muitas coisas haviam mudado entre os dois. Já não era a amizade de outrora; pareciam recentemente apresentados, sem muito tato para lidar um com o outro. Estranhos momentos corriqueiros que as transformações causavam.

— A senhorita dar-me-ia a honra de tê-la como parceira de dança?

Uma mão estendera-se à frente dos olhos de Ophelia, assustando-a por tê-la tirado de seus devaneios. Ao fitar o responsável de voz amistosa, deparou-se com o largo sorriso de Frederick. Ele sempre estendia a mão à ela.

— Não quero interromper a dança com a jovem Agatha — provocou-o.

— Agora é a vez de dançar com minha melhor amiga — rebateu o rapaz. — É hora de ter Ophelia Stanhope sob meus braços e rodopiá-la até ela perder o equilíbrio.

— Nunca perco o equilíbrio, meu caro Frederick Blackall.

— Tenho o meu sim, então?

Levantando-se, Ophelia riu acompanhada pelo amigo. Frederick adorava os momentos de provocações entre os dois, pois mostrava a enorme intimidade e leveza entre eles; tudo se construía naturalmente; nada parecia ser penoso ou constrangedor quando estavam juntos. Ophelia também pensava assim, e regozijava-se por não ter acontecido com Frederick o que havia ocorrido com o outro gêmeo. Detestaria ter perdido a pura amizade com os dois. Frederick era a força que ela necessitava para suportar as mudanças. Afinal, ainda algo do passado vivia no presente; e Ophelia pedia a Deus que assim fosse no futuro.

No salão, os jovens amigos dançavam no ritmo da música melódica. Tinham o prazer de movimentar os corpos de acordo com a suave sintonia; pareciam flutuar na hipnótica concentração de gestos compassados e adornados pelas trocas de mãos. A todo momento, os olhos penetravam uns nos outros; o toque leve levavam-nos à perfeição da arte. Tudo surtia o efeito sincronizado, de um compasso celestial.

Ao finalizarem a dança, Ophelia e Frederick cruzaram o saguão e esconderam-se em uma sacada do salão de festas, cuja vista era a paisagem do jardim iluminado pela lua e decorado pelas estrelas.

— Prometa-me uma coisa, Ophelia? — indagou o cavalheiro, distraidamente.

— O quê? — Ela tinha a estrela mais brilhante como ponto fixo.

— Prometa-me que jamais deixará de ser minha amiga? Independente do que ocorrer, prometa-me ser-me sempre zelosa e companheira?

— Não gosto de prometer algo que não tenho certeza estar em meu poder — refletiu Ophelia. — A vida é repleta de oscilações, as quais nos levam a caminhos completamente opostos àqueles que havíamos planejado — ou prometido. Mas prometo-lhe, Fred, lutar fortemente para cumprir seu pedido; irei esforçar-me para mantermos nossa amizade e que esta dure até a nossa morte. Pois, assim como você, é o que mais quero que aconteça.

— Você é uma boa amiga, Ophelia — sorriu Frederick.

— Você também o é, Fred.

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