Pela manhã, me encontrei com Morgana. Ainda estava preocupada com o seu novo estado, e havíamos nos falado pouco nos últimos dias. Tentei entrar no assunto com ela algumas vezes, mas ela sempre desviava, com uma sensação de pesar. Resolvi então falar seriamente com ela, para tentar descobrir o que estava acontecendo.
- Então, como estão as coisas? - perguntei.
- É estranho. Um pouco difícil, pra ser honesta. Mas nada que eu não consiga tirar vantagem. Pelo menos eu consegui te encontrar naquele dia. - ela respondeu.
- Se não fosse você, eu provavelmente nunca teria achado o caminho. Obrigada.
Ela sorriu. Sem conseguir esperar pelo momento certo, perguntei:
- Morgana, você sabia quem era essa mulher?
- Não precisa se preocupar, Nimue. Merlin está procurando alguma explicação, dia e noite.
- E ele não me conta nada. Eu quero muito te ajudar a voltar ao normal, mas eu preciso entender o que está acontecendo.
- A única coisa que você precisa saber é que eu fiquei cega por amor e tomei atitudes que colocaram à mim e à você em perigo. Talvez esse castigo seja merecido.
- Não, não é. - disse, balançando negativamente a cabeça - Vamos dar um jeito nisso o mais rápido possível. Você não vai ficar assim para sempre.
- Que assim seja. - ela disse, sorrindo.
Eu já via um barco se aproximando a certo tempo por uma das janelas, mas não me alarmei. Foi quando ouvi pessoas correndo de um lado para o outro que percebi algo de errado. Rapidamente saí da cabine, e me deparei com grande parte da tripulação carregando armas.
- Arthur, o que está acontecendo? - perguntei, correndo até ele.
- Estão nos atacando. Fique naquela sala, não saia de lá. Nenhum de nós sabe o quanto as coisas vão ficar sangrentas por aqui.
E ele não deveria me conhecer direito para pedir que eu ficasse fora de uma batalha. Eu poderia estar processando muitas coisas ao mesmo tempo, mas sentia a necessidade de lutar pelo meu povo. Me culpava um pouco por não ter feito isso antes, mas agora não seria o momento para eu me acovardar.
Corri até meus aposentos, peguei a espada e subi até o convés. Eram muitos inimigos em relação ao nosso número, e tudo parecia acontecer muito rápido: mal eu conseguia derrubar alguns e outros já vinham na minha direção. Parecia que estávamos lidando com ervas daninhas, que quanto mais cortávamos, mais apareciam. Já era impossível de tão poucas pessoas darem conta.
Percebi que o sangue se espalhava cada vez mais, os gritos eram mais frequentes, e cada vez menos piratas vinham para cima de mim. Saí de onde estava, procurando a fonte dos gritos, e encontrei uma figura familiar no meio do tumulto. Sorri, talvez de certo orgulho. O combate pareceu então acabar rápido, e as pessoas se perguntavam quem era a nova figura que tinha levado tantos corpos ao chão. O Monge guardou suas armas e olhou ao redor, parecendo procurar algo. Quando seus olhos se encontraram com os meus, ele veio na minha direção, mesmo com todos ali observando. Não pude conter o sorriso e desviei meu olhar, um pouco constrangida. Ele parou na minha frente e nos entreolhamos por um tempo.
- Obrigada. Você não precisava ter feito isso, mas... nos ajudou demais. - disse.
- É o mínimo que eu poderia fazer, considerando tudo que vocês já fizeram por mim. Você está bem? - ele perguntou, visivelmente preocupado.
- Sim. Todo esse sangue aqui definitivamente não é meu. Espera, onde está Percival? - perguntei aflita, me lembrando de não checar o menino.
- Está seguro. Posso te levar até ele, se quiser.
Assenti com a cabeça e o segui, com os nervos à flor da pele. Eu confiava nele, mas eu também sabia como o garoto gostava de aventuras. Caminhamos rápido até chegarmos em uma cabine afastada, onde estava Merlin e Morgana. Minha apreensão não passou até encontrá-lo no canto, sentado em uma cadeira. Apoiei minhas costas na parede, suspirando de alívio em vê-lo bem.
- Tomamos conta do garoto por você, mas foi ele quem o trouxe até aqui. - Morgana disse, apontando com a cabeça para o Monge. Agradeci, e saímos em direção aos nossos aposentos.
- Eu deveria treinar com você, assim como você treina Esquilo. O jeito que você acabou com tantos piratas lá em cima foi fenomenal.
- Seria uma honra. Mas por que vocês chamam o garoto de Esquilo? - ele perguntou.
- É uma longa história... eu posso te contar mais tarde, se você não tiver nada para fazer.
- Te vejo mais tarde, então. - o Monge disse, se despedindo.
Olhei para o outro lado do corredor, de onde ouvia risadas. Eram Arthur e Guinevere, que vinham se dando muito bem desde que eu havia chegado. Eu ficava feliz pela amizade de ambos, mas estranhava um pouco terem se tornado tão próximos em tão pouco tempo. Não queria interromper, mas eles perceberam minha presença e Guinevere foi para outra direção. Em seguida Arthur veio em minha direção, e me deu um beijo.
- Se feriu durante o combate? - ele perguntou.
- Não, eu estou bem.
- Que bom... o que o Monge disse, quando se aproximou de você?
- Nada demais.
- Para onde ele te levou, depois?
- Está com ciúmes? - perguntei, um tanto quanto incrédula.
- Não, não. - ele disse, ficando vermelho - Eu só... fiquei preocupado.
Sorri, achando um pouco de graça na situação.
- Não precisa se preocupar, só estávamos procurando por Esquilo.
- Nimue, você precisa ser mais cautelosa...
- E eu estou sendo. Mas eu também preciso confiar nos meus instintos, às vezes. Não posso me prender o tempo inteiro no que as pessoas falam. Nós dois tivemos segundas chances e tiramos bom proveito delas.
- Em situações completamente diferentes. Mas faça o que achar melhor. - ele disse, se despedindo e seguindo seu caminho.

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Hurricane | Nimulot
FanfictionLancelot, antes um guerreiro dos Paladinos, se junta à Nimue e seus aliados. Mas, será que a ligação de ambos poderá sobreviver à guerra que libertará os feéricos? Atenção: é necessário ter terminado de assistir a série "Cursed - A Lenda do Lago" p...