Capítulo 8

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Acordei com algumas dores no corpo, possivelmente por ter passado tanto tempo dançando. Eu lembrava daquilo como um sonho, um momento mágico. Passava por um corredor reprisando a cena, até Merlin me chamar e me trazer de volta para a vida real.

- O que aconteceu? - perguntei, percebendo sua agitação.

- Shelley e a filha já estavam doentes há muito tempo, mas agora estão piorando. - ele respondeu.

- O que elas têm? - perguntei, preocupada.

- Não param de tossir sangue e estão com muita febre. Precisam de um remédio específico, mas não temos nada.

Ele me entregou uma lista com vários itens, sendo que eu não conhecia a maioria.

- Eu não posso sair, preciso cuidar delas para que aguentem até o fim do dia. Todos esses itens vendem em um mercado depois do bosque, alguém precisa trazer até o entardecer - ele disse.

- Eu mesma vou. - disse.

Merlin me passou as direções, e em seguida chamei Lancelot para ir comigo. Já estava de volta às preocupações diárias, lembrando que as vidas de várias pessoas estavam nas minhas mãos. Foi bom enquanto o meu momento mágico durou.

As horas se arrastavam enquanto caminhávamos pelo bosque. Parecia que andávamos eternamente em círculos, de tantas árvores parecidas que víamos. Felizmente conseguimos chegar ao mercado antes do meio-dia. Não haviam Paladinos por lá, mas mesmo assim, tentávamos nos esconder por baixo das nossas capas.

- São sete moedas de prata. - o vendedor disse, olhando a lista.

Entreguei-as e ele me deu uma sacola com tudo o que precisávamos. Seguimos nosso caminho de volta ao navio, mas surpreendentemente não estávamos sozinhos.

- Não olhe para trás. Tem um homem nos seguindo desde o mercado. - Lancelot sussurrou.

Gelei. Por qual motivo alguém estaria nos seguindo? Quem seria aquele homem?

- Acelere o passo, vamos entrar naquela casa abandonada. - ele disse, indicando uma casa no fim da rua.

Entramos, e logo desembainhei a espada ao seu lado. Estava preparada para lutar contra o desconhecido, se necessário.

- Se esconda. - ele pediu.

- Eu não quero te deixar sozinho. - disse.

- Eu consigo dar conta. Talvez seja apenas um ladrão, então se esconda. Precisa manter os itens intactos.

Mesmo contra a minha vontade, me escondi atrás de alguns móveis, para que ainda conseguisse ver o que estava acontecendo. O homem entrou, fazendo meu coração disparar.

- Finalmente nos reencontramos... mas onde está a bruxa? - o homem perguntou.

Meu coração batia acelerado, e eu já imaginava o pior acontecendo. Ambos partiram um para cima do outro, e eu ficava espantada sobre como eles lutavam bem. Aquele homem não poderia ser um simples ladrão, tinha muita técnica. Ambos acabaram por perder suas espadas e o homem apanhou uma tocha que iluminava o local, partindo para cima de Lancelot, que apenas estendeu a sua mão.

E foi nessa hora que eu vi algo assustador: a chama foi contra o rosto do desconhecido, e eu ouvia seus gritos, o vi rolando no chão e sendo totalmente consumido pelo fogo. Tive que levar as mãos à minha boca para não gritar, mas não consegui conter as lágrimas. Era horrível assistir aquela cena.

Eu não sentia mais medo do homem que já estava morto. Estava assustada por encontrar alguém com poderes tão aflorados na minha frente. Ele estava me protegendo e fazendo apenas o necessário, mas eu estava em choque com tudo que tinha acontecido.

Saí do esconderijo e fui até o corpo sem vida, completamente desfigurado. Me ajoelhei, observando o corpo. Senti a mão de Lancelot no meu ombro, e a toquei.

- Precisamos sair daqui, não é seguro. - ele disse.

Ele percebeu que eu estava tremendo, e me ajudou a levantar. Deitei minha cabeça em seu ombro, e ele me abraçou. Eu estava assustada, porém sentia que seus braços ao redor do meu corpo me acalmavam. Era uma cena que eu jamais queria ter visto, mas sabia que continuava viva graças à ele.

- Está com medo? - ele perguntou, olhando nos meus olhos.

- Não. Eu só fiquei um pouco assustada.

- Eu não queria que você tivesse visto aquilo. Foi brutal.

- Pelo menos estamos bem. É o que importa.

Sorrimos e saímos daquela casa, fazendo o possível para voltarmos antes do anoitecer.

Hurricane | NimulotOnde histórias criam vida. Descubra agora