Arthur havia concordado em reivindicar o trono de Uther Pendragon, o que havia me tranquilizado num nível extremo. Esse plano ainda era arriscado, mas soava como se tivesse mais chances de dar certo. Eu, Arthur e Lança Vermelha havíamos criado um plano, e agora eu o repassava para Lancelot.
- Arthur entrará no castelo e se apresentará como filho bastardo de Uther. Os guardas, dentro do esperado, não vão levá-lo até o Rei, e sim até a masmorra, onde ele vai conseguir abrir a sua cela com uma chave que Merlin fez especialmente para isso. Então ele libertará outros presos, que vão causar um tumulto no castelo, afastando os guardas de suas posições iniciais, e aqui é onde entramos: Arthur nos lançará uma corda e entraremos por uma das janelas, abrindo o caminho até o Rei. Vamos coagi-lo a nomear Arthur como Príncipe e primeira pessoa na linha de sucessão, sob a ameaça de revelar quem realmente matou a sua mãe. Para não ver seu reino e reputação destruídos, ele vai concordar. Depois de algum tempo ele cometerá um suposto crime terrível, e Arthur tomará seu lugar. É assim que esperamos que aconteça. Se algo não sair dentro do previsto, vamos improvisar.
- É no mínimo impressionante. - ele disse, assimilando o plano aos poucos.
- Se funcionar... significa que vamos recuperar os instrumentos e grimórios de Merlin, e depois de um tempo, poderíamos nos instalar lá. Uther vai se tornar um mero fantoche, enquanto destruímos o seu reinado de dentro para fora. O que você acha?
- É ambicioso, e foi bem planejado. Tem grandes chances de dar certo, mesmo se precisarmos mudar algo na hora.
Pensava que suas palavras pudessem me acalmar, mas nada afastava o furacão de pensamentos na minha cabeça. Eu provavelmente não estava preparada psicologicamente para ser Rainha. Só conseguia pensar em quantas coisas e pessoas eu deixaria para trás se morresse em combate, ou quantas pessoas eu precisaria enterrar no fim do dia. Olhar a guerra com compaixão nos olhos é a pior coisa a se fazer: você nunca sai com algum pensamento leve. E agora eu não me preocupava mais só comigo, já que meus amigos e minha família estavam juntos, todos correndo o mesmo perigo. Se eu falhasse, levaria todos comigo.
- Você parece preocupada. - Lancelot disse, colocando uma mecha de cabelo solta atrás da minha orelha - O que está passando pela sua cabeça?
- Fazer um plano é pior do que atacar de surpresa. Os pensamentos simplesmente começam a vir e... - procurei em vão alguma palavra para descrever o que sentia - ...eu queria poder salvar todos. Se eu falhar novamente, eu levo todos juntos.
- Somos sortudos de ter uma Rainha que se importe tanto assim. Você não pode salvar todos, é verdade. Mas você está fazendo tudo o que pode para não derrubar sangue do nosso lado. É o que todos se importam, no fim do dia.
- Eu nem sei se nós mesmos vamos sobreviver à isso, e eu nem estou falando de depois de amanhã, que já está quase ganho. Esse dia vai ser só o início do período mais insano das nossas vidas. Podemos durar semanas ou meses. Eu acabei de quebrar o clima de esperança com todo o meu pessimismo, né?
Ele soltou um riso, me deixando hipnotizada com aquele sorriso tão maravilhoso. Em seguida olhou nos meus olhos novamente, levando uma de suas mãos até meu rosto.
- Então vamos fazer dessas as melhores semanas da nossa vida.
Começamos um beijo lento, que ficou mais feroz e quente com o tempo. Afastei alguns papéis que estavam sobre a mesa, me sentei e cruzei as pernas ao redor do seu corpo. Ele distribui alguns chupões no meu pescoço, enquanto eu abria a sua blusa, até sermos interrompidos por... Pym?
- Ahh... eu não vi nada... continuem... - ela disse sem jeito, fechando a porta rapidamente.
Rimos de nervoso, e eu ficava indignada mentalmente. Ninguém nunca vinha nessas malditas salas, exceto quando eu estava fazendo algo importante.
- Devíamos arranjar um lugar com tranca da próxima vez. - ele disse, arrumando sua camiseta.
- Meu quarto. - sussurrei em seu ouvido.
*
Lancelot se deitou ao meu lado, com a respiração ofegante. Me estirei na cama, ainda me recompondo da sensação maravilhosa que tinha experimentado. Se isso era um pecado, eu não conseguia imaginar o que era um paraíso. Contemplei seu corpo escultural, finalmente em minhas mãos.
Ele ainda me fascinava muito, e agora estava completamente vulnerável ao meu lado. Então, me olhou e me trouxe para mais perto de seu corpo. Encostei minha mão em seu peito, e deitei no seu ombro.
- Você sente falta do seu antigo lar? - perguntei.
- Meu primeiro e último lar foi o castelo dos meus pais. Desde então, foram todos lugares para passar a noite. - ele respondeu.
- Você morava em um castelo?
- Só por alguns anos. Meu pai era Ban de Benoic, e minha mãe, Helena de Benwich. Eles tinham um pequena castelo.
- Eu ouvi histórias sobre eles durante a minha vida inteira!
- O que diziam deles?
- Que Helena era justa e compassiva, e Ban era corajoso e misericordioso.
- Só erraram na parte do misericordioso. Ele era a pessoa que mais guardava rancor dentro de casa. Depois da morte da minha mãe, tudo só piorou. Você sempre me perguntou das cicatrizes nas minhas costas. Ainda quer saber?
Fiz que sim com a cabeça. Não sabia se ele responderia, de qualquer forma. Mas se ele quisesse contar, eu estaria pronta para ouvir.
- Eu tinha contraído uma febre horrível, e era minha mãe quem cuidava de mim. Depois de muito tempo eu me recuperei, mas ela caiu doente. Meu pai não aceitou a sua morte, e eu lembro como se fosse ontem das chicotadas que ele me deu naquele dia. Eu mesmo passei a me culpar. Sempre que eu sentia culpa, pegava uma navalha e fazia cortes nas minhas costas. Aliviava. E isso me perseguiu ao longo da minha vida.
Beijei seu ombro, e escondi meu rosto no seu pescoço, para que ele não visse meus olhos cheios de lágrimas. De todas as suposições que eu tinha feito, essa tinha superado todas as outras em nível de tristeza. Eu não imaginava como ele fazia aquilo consigo mesmo. Não imaginava como um trauma tinha trazido consequências tão graves para a sua vida.
- Eu não estou te contando isso para você sentir pena, Nimue. É algo que você merece saber, parte da minha vida. Desde a primeira vez que nos vimos, eu sabia que você tinha curiosidade. Mas ainda não era o momento de você saber. Agora é.
- Se um dia você se sentir culpado novamente, fale comigo. Somos um só a partir de agora. O que doer em você, vai doer em mim também.
Ele beijou minha testa, e passou seus dedos pelas minhas costas.
- E o que é essa marca super charmosa na suas costas? - ele perguntou.
- Foi do dia em que eu lutei com um urso. Era noite, talvez madrugada, e eu ouvi alguma voz me chamando para a floresta...

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Hurricane | Nimulot
FanfictionLancelot, antes um guerreiro dos Paladinos, se junta à Nimue e seus aliados. Mas, será que a ligação de ambos poderá sobreviver à guerra que libertará os feéricos? Atenção: é necessário ter terminado de assistir a série "Cursed - A Lenda do Lago" p...