Capítulo 18

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Acordei sentindo a forte luz do sol no meu rosto. Era definitivamente mais tarde do que eu acostumava acordar. Me sentei e olhei ao redor, percebendo Lancelot deitado ao meu lado. Ele dormia serenamente, com um pequeno sorriso em seus lábios, completamente diferente da expressão angustiada que eu tinha visto no dia anterior. Se dormirmos juntos outras vezes, devem ter sido apenas uma ou duas, além de ele sempre se levantar antes.

Me arrumei, esperando que ele acordasse. Já tinha uma ideia em mente para hoje, que estava muito menos frio do que os outros dias. Senti seu corpo se aproximando do meu, e seus braços enlaçando a minha cintura.

- Bom dia. - ele disse, ainda numa voz sonolenta.

- Bom dia. Tem algum plano para hoje? - perguntei.

- Não mesmo.

- Então se arrume, vamos comer alguma coisa e partir.

- Para onde?

- Um lugar. Tenho certeza que você vai gostar. - disse, sorrindo.

Em pouco tempo, já estava montando em um dos cavalos do estábulo. Mesmo precisando levar uma espada extremamente pesada nas costas, ainda me sentia livre. Adorava sentir o vento no meu rosto, a sensação de não estar presa à um castelo, o barulho dos cascos no chão... tudo tornava isso perfeito. Na floresta o ar era puro, a sombra refrescante, e tinha até uma sensação de segurança. Diria até que me lembrava a minha infância, com a diferença que agora eu estava do lado de pessoas que realmente gostavam da minha companhia. Ou aturavam, dentro do possível.

Amarramos nossos cavalos em certa árvore, e andamos seguindo o som da água. Finalmente chegamos em uma cachoeira esplendorosa, que só tinha conhecido a partir de um dos mapas que encontrei no castelo. Toquei a água gelada e comecei a me despir, com a certeza de que ela esquentaria em pouco tempo. Olhei para trás, percebendo que Lancelot percorria seu olhar por cada curva do meu corpo.

Entrei na água, e ele logo me acompanhou, trazendo meu corpo para perto de si. Nos beijamos intensamente, na mais perfeita sintonia, exalando desejo. Senti suas mãos descendo pelo meu corpo e apertando minhas coxas com força, e me separei antes que fôssemos longe demais.

- Eu não escolhi vir aqui por isso. Não só por isso, pelo menos... - disse.

- Pelo que, então? - ele perguntou, levando uma de suas mãos até meu rosto.

- Você quase morreu em meio às chamas mas saiu completamente são. Desde então, aprendeu a controlar o fogo. Acha que eu consigo fazer o mesmo?

- Possivelmente... mas precisava me tentar tanto apenas para perguntar isso?

- Eu prometo te recompensar muito bem depois. Desejo isso tanto quanto você. Mas primeiro, me ensine a manipular um elemento.

- Vai precisar de tempo até conseguir grandes feitos. Mas é simples: mentalize o que você quer que a água faça. Se concentre. Pense em algo que você ama ou odeia, para te ajudar.

Devo ter passado vários minutos me focando, mas nada acontecia. A água nem sequer mudava seu fluxo, ou sua velocidade, ou qualquer coisa. Me sentia estúpida tentando aquilo.

- Talvez respirar embaixo d'água seja meu poder mais notório. - disse, claramente decepcionada.

- E é incrível. Mas eu tenho certeza que você também consegue manipular algum elemento. Tente fechar os olhos e se conectar mais.

Segui a sua indicação, mas passava a maior parte do tempo pensando o quão trouxa eu estava parecendo. Senti então sua mão segurando a minha, e me arrepiei. Ele me despertava sensações que ninguém mais conseguia. Senti a água fazendo cócegas na minha outra mão, e quando abri os olhos, vi uma espécie de espiral se formando. Deve ter durado segundos no ar antes de voltar à água, mas eu mal conseguia conter minha alegria.

- Você conseguiu! - ele disse, fascinado. Seus olhos brilhavam, como se tivesse visto algo extraordinário.

- Graças à você.

- O crédito é todo seu. Agora podemos pular para a parte divertida?

Suas mãos pararam na minha cintura, e o puxei para mais perto. O sol parecia deixar seu corpo ainda mais escultural do que já era, me despertando um desejo selvagem. Em alguns minutos, já estava com minhas pernas ao redor do seu quadril e sentindo o maior prazer que poderia sentir.

*
Voltamos ao castelo um pouco contra a nossa vontade, mas cientes da nossa posição. Eu só desejava que pudéssemos escapar assim com mais frequência.

Quanto mais nos aproximávamos, mais ouvíamos uma gritaria incessante. Paladinos estavam atacando o castelo, e rapidamente nos separamos para enfrentá-los. Assim que saquei a espada, senti minha mão queimar um pouco. Imaginei que fosse por segurar muito firme, e não liguei. A sede de vingança que eu sentia toda vez que a utilizava era maior que qualquer outro sentimento.

Sangue manchava as minhas roupas e atrapalhava a minha visão. Sentia minha mão queimando cada vez mais, mas não me importava. Só pensava em levar tantos corpos ao chão que não conseguisse contá-los.
Cada corte que eu levava na batalha parecia se regenerar rapidamente, mas contraditoriamente, me sentia cada vez mais fraca. Ao derrubar o último Paladino, caí de joelhos, extremamente tonta.

Olhando para a minha mão, percebi que a queimadura já estava muito pior do que das outras vezes. Agora, sangue escorria por ela em algumas partes. Todos esses sintomas e queimaduras ficavam mais difíceis de esconder com o passar do tempo, e eu não poderia deixar que todos soubessem. Se soubessem, eu temia o que aconteceria comigo e com a espada, considerando que eu deveria protegê-la. Eu precisava encontrar um novo destino para ela, e rápido.

Hurricane | NimulotOnde histórias criam vida. Descubra agora