Capítulo 20

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Sentia uma enxaqueca horrível, provavelmente uma soma de beber muito vinho e dormir tarde. Morgana não havia aparecido ontem em meio à celebração, o que havia me preocupado um pouco, então resolvi falar com ela.

Chegando até a torre de Merlin, comecei a ouvir uma gritaria ensurdecedora:

- Então por que diabos você não consegue me trazer de volta? - uma voz feminina perguntou, aparentemente muito irritada.

- Eu recuperei cada escrito, li cada grimório, e todos os processos são arriscados! Você entrou em colapso total ontem à noite, e você não pode morrer nas minhas mãos. Seu irmão não aguentaria. - uma voz, que reconheci ser a de Merlin, respondeu em alto e bom tom.

- Então era melhor ter continuado naquele convento e morrido naquele incêndio.

- Morgana, espere. Morgana!

E a garota saiu furiosa, causando um enorme estrondo ao bater a porta de madeira. Ela não havia me visto, então segui para a sala de Merlin, o encontrando com as mãos na cabeça, aparentemente esgotado.

- Oi, pai... o que está acontecendo?

- Já é a quinta tentativa de trazer Morgana de volta, mas é impossível. Arthur não sabe de nenhuma delas, mas ontem ela quase morreu de madrugada. Pensei que tinha partido de vez.

- Por quê? - perguntei, me sentando ao seu lado.

- Ela estava coberta com um pano, e quando eu tirasse, seu corpo deveria voltar ao normal. Porém, quando eu tirei, ela se tremia, seus olhos reviravam e saía espuma de sua boca. Eu me recuso a continuar com essas experiências, ela está cada vez mais fraca e perto da morte. Não conte comigo. - ele disse, se levantando e andando para longe.

- Mas você é o maior mago que eu conheço. Você é o único que consegue se comunicar com entidades e divindades. Todos conhecem os seus feitos lendários. Não tem nada que você possa fazer?

- O problema é que eu posso fazer tudo, mas ela não pode resistir a quase nada. Ela te contou por que ganhou essa forma? Foi um acordo, e enquanto eu não posso quebrá-lo, ela não resistiria à qualquer feitiço alternativo.

- Mas ela está desesperada. Qualquer coisa seria melhor do que o que ela sente agora, não podemos parar de tentar!

Ele suspirou, finalmente se virando para mim. Como habitual, bebeu um copo de hidromel e o deixou em uma mesa ao lado.

- Não sou mais eu quem faço as regras. Morgana é a única figura familiar ao lado de Rei Arthur, e por mais que a morte do pai dele esteja distante, ele não me pouparia novamente. Se alguém perto dele morresse pelas minhas mãos, ele com certeza cortaria a minha cabeça.

Em seguida, o mago saiu da sala, e comecei a procurar por Morgana. Percorri vários corredores e salas, finalmente a encontrando na masmorra, perto do local onde eu havia guardado a espada. Fiquei um pouco apreensiva pela proximidade entre as duas, mas me sentei ao seu lado, tentando ignorar essa apreensão.

- Por que está aqui? - ela perguntou, com uma voz embargada.

- Fiquei preocupada com você, depois de descobrir o que aconteceu ontem.

-Não foi nada demais. A única coisa que me impede de dizer que estou bem é saber que eu vou estar presa à essa droga de corpo até o dia em que eu morrer.

- Morgana... você já tentou desfazer o contrato?

- Foi a primeira coisa que eu tentei, mas eu não consigo.

- Por que você ficou tão desesperada em voltar ao seu corpo de uma hora para outra? Nem no início você parecia tão desesperada...

- Talvez por que esse corpo não pertence à mim? - ela perguntou em um tom irônico, me interrompendo - Talvez por que eu ouço vozes dia e noite que parecem nunca sair da minha cabeça?

- Eu não sabia...

- E com o tempo eu ainda parei de sentir o toque, Nimue. Imagine você não conseguir sentir o toque de quem você ama. É como se eu fosse somente um espírito que tem como única função guiar Arthur.

Fiquei sem palavras, ainda processando tudo o que ela tinha dito. Eu tinha menosprezado o que se passava pela sua cabeça, e agora eu me sentia péssima por isso.

- Você, Pym e Arthur ainda tem seus companheiros, gente em quem se apoiar, mas a única pessoa que eu realmente amei além da minha família está morta. Ainda estou pensando se não seria melhor me juntar logo com ela.

Assim que abri a boca para responder, ouvi um grupo de pessoas se aproximando, o que me fez congelar. Levantando, percebi que eram homens da Trindade, provavelmente tentando entrar escondidos no castelo. Meu primeiro instinto vendo aquilo foi remover as pedras da entrada da masmorra para recuperar a espada. Porém, por mais que eu tentasse a alcançar, meus dedos mal encostavam nela.

- O que você está fazendo? Corra! - Morgana disse.

- Não estou alcançando a espada...

Ela me empurrou levemente para o lado, e conseguiu alcançar a espada. No entanto, assim que a puxou para o lado de fora, percebi que sua mão também havia ficado marcada pelo cabo.

Corremos até Arthur, Morgana por estar desarmada e eu por ter certeza que não tinha forças o suficiente para usar a espada novamente. Os homens da Trindade provavelmente nos ouviram, e agora corriam rapidamente atrás de nós, quase nos alcançando.

Encontramos Arthur passando por um corredor, e ele rapidamente percebeu que estávamos sendo perseguidas. Em um ato de desatenção, deixei que ele pegasse a espada das minhas mãos e partisse para cima daqueles homens.

E ele lutava contra eles de forma inigualável. Eu não via em seus olhos a sede de matança que tinha visto nos de Merlin, apenas um instinto de proteção. A espada não parecia o guiar da mesma forma que me guiava. Era algo inacreditável, na minha visão.

Ele derrubou cada um dos homens e se virou para nós, pronto para me devolver a espada. Assim que a peguei com o pano, percebi que não havia nenhuma marca em sua mão. Ele também não parecia mudado, e era como se tivesse manipulado uma espada comum, mas que o tornava invencível. Apenas uma pessoa conseguir derrotar oito guerreiros de elite era algo extraordinário. Seria possível que ele fosse o escolhido?

- Por que está me encarando desse jeito? - ele perguntou, um pouco confuso.

- Você é o escolhido.

***

Oi galerinha! Queria muito agradecer vocês por toda a interação com o livro, ela me inspira e me motiva muito!

Já estamos no meio da história, e como eu não quero deixar ninguém passando vontade, fica aqui a enquete: vocês gostariam de um capítulo um pouquinho mais hot? Não tão explícito por não ser o foco do livro, mas também não tão subjetivo como os anteriores.

Comentem aí, e se for para a satisfação de todos e felicidade geral daqui dos leitores, futuramente eu escreverei :)

Hurricane | NimulotOnde histórias criam vida. Descubra agora