Capítulo 22

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O dia estava terrivelmente corrido, com as pessoas andando de um lado para o outro levando armas e outros artefatos para colocar no navio. O ataque ao acampamento de Cumber, o Rei do Gelo, aconteceria dentro de dois dias. Todos estavam agitados nessa manhã, tanto quem permaneceria no castelo como quem embarcaria para um ataque tão sangrento.

Tínhamos muitos guerreiros conosco, o suficiente para protegerem o castelo enquanto estivéssemos fora e também nos acompanhar na batalha. As habilidades de cada um já estavam muito melhores do que no início. Eu queria me sentir confiante, e me dizia a cada cinco minutos que tudo daria certo, mas nada me convencia que passaríamos intactos por esse ataque. No fundo da minha cabeça, eu ouvia algo me dizendo o quanto as coisas poderiam dar errado.

Tentei afastar esses pensamentos da minha cabeça e me despedi demoradamente de todos que ficariam. A possibilidade de ser a última vez em que eu os veria me assombrava a cada passo que eu dava para longe do castelo.

Assim que a chuva começou a cair, andei até a margem de terra. Dessa vez não cometeria o mesmo erro de entrar de cabeça na água e quase morrer afogada ou de frio. Coloquei a espada na grama, em direção ao mar, e me ajoelhei. Entoei alguns cânticos que Merlin tinha me ensinado, e em alguns momentos, senti um vento forte batendo no meu rosto. Ao abrir os olhos, a entidade que havia me tornado protetora da espada estava lá, materializada como um vulto muito escuro.

- Arthur é o escolhido? - perguntei.

- Pode vir a se tornar. - ela respondeu.

- Como assim?

- Ele pode rapidamente se tornar o escolhido. Até que você tenha certeza que o dia chegou, a responsabilidade ainda é sua.

E parecia que todas as vezes em que eu entrava em contato com ela era apenas para ser relembrada de que eu deveria proteger tal artefato até o último dia da minha vida. Chegava até a me perguntar, às vezes, se minha mãe era tão cobrada quanto eu durante a sua vida.

- Devo levar a espada para a batalha?

- Definitivamente. O seu sucesso depende disso.

Antes mesmo que eu pudesse agradecer, a entidade já havia desaparecido, provavelmente como forma de mostrar quem detinha maior poder. Me levantei, com a espada em mãos, e finalmente entrei no navio.

O cheiro de madeira e água salgada era extremamente familiar. Podia não ser tão confortável, mas eu tinha passado momentos marcantes ali dentro, que nunca se perderiam na minha memória. Tudo era muito simples, longe dos luxos do castelo de Camelot, mas talvez eu sentisse falta dessa simplicidade.

Guinevere recordou o plano da maneira mais delicada possível, e assim que terminou, todos se dispersaram. Através de uma janela, conseguia ver o pequeno pedaço de terra desaparecendo cada vez mais em meio ao oceano.

Voltei até meu antigo quarto, estranhando um pouco a cama tão dura. Fechei meus olhos tentando dormir, até sentir Lancelot se deitando lentamente ao meu lado, trazendo para si uma ponta do cobertor. Me virei então, para conseguir contemplar seu rosto.

- Te acordei? - ele perguntou.

- Não... acho até que estava esperando você. Eu não consigo dormir.

Seus olhos me traziam paz, mesmo em meio à toda aquela bagunça. Sentia seus dedos correndo pelos meus cabelos, já me dando um pouco de sono.

- Se eu bem te entendo, deve estar preocupada com a batalha. Acertei?

- Eu estou aterrorizada, Lance. Nos últimos dias eu tenho tido sonhos e mais sonhos horríveis sobre a batalha, tão assustadores que tenho medo deles se repetirem durante a noite. Sei que você não acredita nesse tipo de coisa, mas é um mau pressentimento horrível.

- Pode ser apenas o estresse. Você parece exausta, talvez nem sonhe com nada hoje. E, mesmo que sonhe, vamos todos ficar bem. Tente não pensar nisso, querida.

Sorri, tentando acatar o que ele tinha dito. A verdade era que o tempo todo, eu não conseguia tirar da minha cabeça a ideia de que algo terrível estava se aproximando, que faria nossas vidas desmoronarem completamente.

Hurricane | NimulotOnde histórias criam vida. Descubra agora