Capítulo 11

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Assim que o raio atingiu Morgana, ela começou a se debater e revirar os olhos. Se não fosse tarde demais, teria pedido para Merlin parar o ritual para ela me explicar como, e em que universo Arthur era filho de Uther - afinal, ele já tinha me contado anteriormente histórias sobre seu pai. Por outro lado, ela não teria motivos para mentir sobre isso.

Merlin permanecia estático e paciente, como se já tivesse praticado aquela magia antes. De repente, o corpo de Morgana parou de se mexer, e eu não conseguia mais sentir sua respiração.

- Vocês duas tem um vínculo, então você precisa guiar a alma dela de volta para esse mundo. - ele disse.

- Como eu faço isso? - perguntei.

- Se concentre. Ela vai te chamar e quando vocês se conectarem, ela vai vir até você.

Fiz o que ele pediu. Segurei em sua mão e a ouvi me chamando. Cogitava que fosse a minha cabeça me pregando peças, mas mesmo quando eu tentava silenciá-la, eu ainda ouvia Morgana me chamando. Comecei a chamá-la em voz alta, e em alguns segundos, ela se levantou como se acordasse de um enorme pesadelo.

- Funcionou? - ela perguntou, ansiosa.

Nada havia mudado. Nada. Parecia que todo o ritual tinha sido feito sem motivo, e tudo que fizemos pareceu ilógico. Então ela percebeu que nada havia mudado... e a decepção tomou conta do seu olhar.

- Você precisa me contar sobre essa história de Arthur ser filho de Uther. - disse.

- Não aqui. Vamos para outro lugar. - ela respondeu.

Pelo que ela havia me contado, o pai de Arthur era casado com uma mulher, mulher essa que o traiu com o Rei Uther. O Rei, por sua vez, não assumiria a criança pela mulher não trazer conexões para ele. Então, Arthur foi criado por quem acreditava ser seu pai, mas que na verdade não era.

- Precisamos contar isso para Arthur. Pode ser a melhor forma de salvar o nosso povo! - disse.

- De jeito nenhum! Ele vai ficar enfurecido por eu nunca ter dito nada, e isso não vai nos ajudar de forma alguma. Acredite, é melhor que ele não saiba. - ela respondeu.

- Ele tem direito de saber quem é o seu pai de verdade.

- O pai de verdade é quem o criou, e não quem o concebeu.

- Morgana, você não pode esconder essa informação dele. Não é questão de uma intriga de família, estamos no meio de uma guerra, qualquer coisa que possa poupar nossa vida é útil.

- Nem sabemos como ele vai reagir!

- Espero que da melhor forma, mas não podemos mais esperar. Se você não contar, então eu vou.

Ela me encarou em silêncio, com fúria em seus olhos, até me responder:

- Se sair da sua boca, é capaz que ele me odeie menos.

Fui até a sala de reuniões, onde Arthur tinha alguns mapas espalhados e rabiscados. Contei a história, tentando não apavorá-lo. Ele ficou confuso, andou em círculos por algum tempo, e então finalmente pedi sua ajuda:

- Você pode exigir o trono como descendente dele. Garantiria o mínimo de estabilidade à todos nós.

- Ele tem alianças com os Paladinos e o Rei do Gelo agora. Não mudaria muita coisa, e eu só acredito nisso ouvindo dele mesmo.

- É um plano menos suicida do que libertar presos e tentar atacar um acampamento com o dobro de pessoas. Você pode revogar essas alianças à qualquer momento ou fazer outras negociações que nos beneficiem. Pense nisso.

- Precisaríamos formular um novo plano e atrasar o ataque.

- Não vejo problema nisso. Quando decidir, me avise. Está nas suas mãos.

*

- O clima não ajuda. Vai ser péssimo batalhar durante as chuvas. - Merlin disse, observando o céu.

- E você não pode parar a chuva? - perguntei, na inocência.

- Claramente não. Existem alguns fenômenos em que eu simplesmente não posso interferir. É o que traz o equilíbrio para o mundo.

De onde eu estava, eu conseguia ver Lancelot. Acompanhava cada movimento seu, esperando que ele não olhasse de volta e me achasse louca por permanecer fixada nele.

- Você gosta dele. - Merlin disse.

- Eu gosto de todos do navio. - disse, tentando evitar o assunto.

- Você sabe que não é bem disso que eu estou falando. Os olhares entre vocês dois no Lughnasadh não enganaram ninguém.

Suspirei. "Gostar" ainda era pouco para descrever o que eu sentia por ele. Mas eu sentia receio. Não sabia quanto tempo duraríamos em meio à uma guerra.

- Não é sábio se apaixonar durante a guerra. - disse.

- Não é sábio se apaixonar em momento algum. Mas ele pode te dar força nos piores dias, e você precisa de alguém para poder confiar. É necessário dividir o fardo, às vezes.

A verdade é que tínhamos nossas próprias lutas internas. Por enquanto, qualquer momento em que ficássemos juntos era o suficiente para esquecê-las, mas eu me perguntava se as coisas seriam assim para sempre. E quando não fossem, eu queria saber se ele permaneceria ao meu lado. Eu esperava que ele ficasse.

- Ele pode cuidar de você melhor do que eu. Se eu acreditasse em bênçãos, ele teria a minha.

- Obrigada, pai. - respondi pensativa, voltando a observar o oceano.

Hurricane | NimulotOnde histórias criam vida. Descubra agora