Hurricane | Nimulot

Capítulo 33

- Vossa Majestade, chegou uma carta. - ouvi uma das servas falar.

- Pode deixar em cima da mesa. Já vou dar uma olhada.

- Ela é do nosso Rei.

Me virei rapidamente, agradeci e peguei a carta. A abri rapidamente, mesmo me tremendo um pouco e com a mesma emoção de sempre. Sabia que até chegar em mim as cartas já tinham sido escritas há muito tempo, mas ainda era como uma garantia que ele estava bem e ainda se lembrava de mim.

"Nimue, meu eterno amor, Rainha e chama eterna,

Os dias passam e não aliviam a saudade que eu sinto de você. Talvez isso esteja ficando repetitivo, se o serviço postal for menos bagunçado do que parece e realmente entregar todas as cartas que escrevi.

O início é o mesmo, mas o conteúdo dessa é diferente. Eu preciso te dizer coisas que talvez nunca tenha dito em voz alta.

Estava ferido de todas as maneiras possíveis quando nos encontramos, e pelas pessoas que eu achava que podia confiar. O único que não havia me deixado até então era Percival, mas mesmo assim eu só esperava pelo alívio da minha morte. Sem ser chamada ou avisada, você veio.

Era impossível de acreditar que a pessoa que eu estava destinado a matar estava salvando a minha vida. E a sua voz era macia, falava com tanta delicadeza que me deixava hipnotizado. Não posso negar que seu jeito me fascinou desde o nosso primeiro contato.

Foi difícil de lidar com os meus próprios demônios no início. Passava o dia e noite sendo consumido pela culpa, e só a esquecia quando você vinha por perto. Aos poucos você me mudava por dentro, de uma forma que eu não entendia, mas que simplesmente acontecia. De repente, eu queria lutar ao seu lado e sentir a sua pele contra a minha.

Mas você era linda, doce, pura, e queria poupar todos enquanto eu já estava acostumado à banhos de sangue e carnificinas. Acima de tudo, eu não queria te perder. Preferia te manter distante do que te assustar, o que foi um erro. Te ver chorando por uma decisão egoísta minha quebrou meu coração em inúmeros pedaços.

Não tinha certeza do que você sentia sobre mim, mas quando descobri que sentíamos o mesmo, foi mágico. Depois que nos juntamos, foi como se eu tivesse aprendido a apreciar a vida novamente. De todos os lugares que passei, só consegui me reencontrar quando olhava nos seus olhos, e eu nunca vou conseguir te agradecer o suficiente por isso. Você viu e entendeu a escuridão dentro de mim, o que ninguém nunca tentou fazer.

E então você encarou a morte de perto, duas vezes, e era como se um pedaço meu estivesse indo junto com você. Lembro que na primeira sua pele estava tão gelada que parecia até queimar, mas você melhorou muito rápido. Na última eu estava pronto para dar minha vida por você, se fosse necessário.

Depois de uma aflição tão grande, nos casamos em menos de uma semana, e aquele foi um dos dias mais felizes da minha vida. Os mais de quatro anos que passamos juntos desde então foram o paraíso. Por mais que ainda não tivéssemos filhos, eu tenho certeza que quando estivermos juntos novamente, podemos tentar.

Você pode se perguntar porquê eu estou te dizendo isso tudo só agora. Essa Caçada não desgasta só os nossos corpos, mas também as nossas mentes. É como se lentamente eu estivesse enlouquecendo. Às vezes tenho visões no meio da noite, e em outras sinto meu coração bater tão rápido que parece que não vai dar conta. Alguns dizem que é tudo o que está acontecendo, e outros dizem que é simplesmente a bebida daqui. Não importa o que seja, eu só quero que saiba tudo o que sinto por você.

A Caçada está longe de terminar, provavelmente mais do que quando começou. É como se estivéssemos andando em círculos: cada pista que encontramos nos leva à uma cidade, que nos remete à alguma que já passamos, e sempre saímos de mãos vazias. Percival jura que viu o cálice em uma procissão, mas estava sozinho e não conseguiu pegá-lo. Estamos averiguando isso nesse momento.

Por falar nisso, Percival diz que sente a sua falta. Também diz que espera que você ainda o reconheça quando voltar. Desde que finalmente criou uma barba descente, se sente um homem muito respeitável.

Eu mal posso esperar para te ver novamente, e espero que você esteja bem.

De todo o meu coração,

Lancelot."

Devo ter relido pelo menos umas cinco vezes, como sempre fazia. Se a sua intenção era não me preocupar, já tinha falhado miseravelmente. Mas o jeito que ele escrevia, era como se estivesse na minha frente, falando comigo. Conseguia até ler como se ouvisse sua voz, me lembrando das vezes em que ele afagava meus cabelos e dizia essas coisas românticas.

Guardei a carta dentro de uma caixa de madeira, junto com todas as outras que tinha recebido até então. Sempre que a saudade era insuportável, eu tirava alguma e lia de novo.