Hurricane | Nimulot

Capítulo 7

O feriado de Lughnasadh tinha chegado, para a alegria de todos. Não comemoraríamos como nos anos anteriores, mas ainda teríamos uma fogueira e alguns instrumentos improvisados. Talvez isso fosse o suficiente para levantar o astral de todos, pelo menos por uma noite. Já havíamos atracado em um lugar afastado, onde era fácil conseguir suprimentos e treinar sem levantar muitas suspeitas.

- Espera, falta só um toque final. - Pym disse, enquanto arrumava meu cabelo.

Com o tempo, ela tinha abaixado a guarda. Arriscava até dizer que ela e Lancelot estavam começando a se dar bem. E, em todo tempo em que estávamos sem nos falar, eu sentia falta de ter uma amiga de infância que pudesse me aconselhar e me fazer rir de vez em quando.

- Agora sim, ficou perfeita. - ela disse, depois de enfeitar meu cabelo com algumas flores.

- Uau... eu adorei. - disse, olhando o reflexo - Quer que eu te ajude a arrumar o seu?

- Não precisa, ele com certeza já vai estar todo bagunçado depois da primeira dança. Por que não vai chamar seu par?

- Que par?

- Não se faça de sonsa, Nimue. - ela disse, descontraída - É óbvio que estou falando do Monge. Vocês andaram juntos todos os dias na última semana.

- Ah... boa ideia.

- E é melhor já preparar um discurso, eu tenho certeza que as pessoas vão querer te ouvir falando algo.

- Vou pensar. Até daqui a pouco!

Segui até o quarto de Lancelot, pensando em como o convenceria a participar das cerimônias. Com certeza não era o tipo de festa que o agradava, mas mesmo assim, eu queria tê-lo por perto. Bati em sua porta, e ele rapidamente a abriu.

- Nimue, que surpresa... - ele disse, percorrendo os olhos pelo meu cabelo e vestido.

- Posso entrar? - perguntei.

- Claro...

Me sentei em sua cama, e ele se sentou ao meu lado.

- Hoje é Lughnasadh. Queria que você viesse para a celebração. - disse.

- O que é Lughnasadh? - ele perguntou.

- É a celebração da Primeira Colheita. Não plantamos e nem colhemos nada, considerando que raramente paramos em algum lugar, mas é uma tradição nossa. Também agradecemos por tudo de bom que acontece nas nossas vidas.

- Eu adoraria... mas eu não sei se as outras pessoas gostariam de me ver por lá. É uma tradição de vocês.

- Elas estão ansiosas para te conhecer. Ainda se perguntam quem era o homem misterioso que lutou do nosso lado durante o ataque.

- Tudo bem. - ele disse, sorrindo - Eu já estou indo.

Saí do seu quarto e esperei do lado de fora. Percebi que a porta não estava completamente fechada e o vi de costas, trocando a camiseta. Agora eu conseguia ver melhor o quão definidas eram suas costas... e também via suas cicatrizes, algumas mais recentes que outras. Mas ele já havia chegado há muito tempo, e todas elas já deveriam estar cicatrizadas... A não ser que elas fossem mais recentes do que eu imaginava.

Me virei novamente, esperando que ele viesse até mim. Seguimos até a grande fogueira, onde muitos já estavam dançando, tocando, ou fazendo oferendas no mar e no bosque em nossa frente. Algumas pessoas vieram até nós, pedindo que eu fizesse algum discurso e perguntando quem era meu acompanhante misterioso.

- Bom... boa noite à todos vocês. - comecei a dizer - Eu espero que essa noite sirva para vocês descontraírem do estresse de ultimamente. Não tem sido fácil para nenhum de nós, mas ainda temos muito o que agradecer: estamos em segurança, não passamos falta de nada e estamos em terra firme novamente. Esse é o espírito de Lughnasadh. Também quero apresentar à vocês uma pessoa muito especial, que já está conosco há algum tempo. Seu nome é Lancelot. Ele provou ser um dos nossos guerreiros de maior confiança, resgatando Percival e lutando ao nosso lado durante aquele ataque pirata. Acho que vocês deveriam conhecê-lo.

Percebi somente nesse momento que nossas mãos estavam entrelaçadas. Não era à toa que eu estava tão calma fazendo aquele discurso. Todos aplaudiram e brindaram em nossos nomes, e então nos separamos para cumprimentar todos.

- Você foi ótima, até me lembrou das festas de Lughnasadh da nossa aldeia. - Pym disse.

- Obrigada. Nem acredito que consegui me manter calma no puro improviso. - respondi.

- Ei, aqueles não são Arthur e Guinevere? - ela disse, apontando para duas sombras perto das árvores.

- Ele é rápido no gatilho, pelo jeito.

- Foi mal, eu não queria te lembrar disso...

- Não esquenta. - disse, a interrompendo - Já fazem tempos que terminamos. Acho que foi melhor para nós dois assim, e eu fico feliz por ele. Os dois combinam demais.

- E eu fico ainda mais feliz por você ter superado, essa é a minha garota!

Nos despedimos e segui até Lancelot, que conversava com algumas pessoas. Assim que terminaram, me aproximei dele.

- O que está achando do seu primeiro Lughnasadh? - perguntei.

- É incrível. Me lembra das festas de Florença. - ele respondeu.

- Como são as festas de lá?

- Costumam servir vários vinhos, e dançam até a madrugada.

- Poderia me ensinar as danças de lá. - pedi.

- Seria uma honra. - ele disse, sorrindo.

Levei minhas mãos até seus ombros, como ele instruiu. Então, ele levou suas duas mãos até minha cintura. Eu estranhava já começarmos tão próximos, mas eu estava gostando daquilo.

- E agora? - perguntei.

- Só se deixe levar. Eu te guio.

Era diferente de tudo que dançávamos por aqui, e eu gostava de ter alguém me guiando. Olhando nos seus olhos azuis, era como se todas as minhas preocupações desaparecessem. Tudo parecia bom e certo.

- Você está linda. Parece um anjo na terra. - ele disse.

Senti um arrepio enorme, e minhas bochechas corarem.

- Obrigada. - disse, num sussurro.

Era o suficiente para eu esquecer de todos que estavam em volta e de todas as minhas obrigações. Ele já era alguém diferente. Nunca havia imaginado que seu toque pudesse ser tão suave, e que suas palavras se tornassem tão doces. Olhava para seus lábios, desejando que viessem de encontro aos meus. Já estava totalmente rendida à ele, nesse ponto. Deitei minha cabeça em seu peito, e ficamos assim por mais algum tempo.

- Está ficando tarde. Precisamos entrar. - ele disse.

Quando olhei ao redor, pouquíssimas pessoas estavam por ali, e as que estavam, não desviavam os olhos da nossa direção. Tudo tinha passado tão rápido!