Com algum esforço, consegui esconder a espada em um lugar que eu julgava seguro, entre algumas pedras da entrada da masmorra. Era difícil de encontrar, mas de fácil acesso, caso precisássemos levá-la durante alguma invasão.
Apenas eu sabia do esconderijo. No entanto, Lancelot me pressionou sobre o motivo de minhas mãos sempre ficarem atadas depois das batalhas, e acabei contando a verdade. Sua reação foi uma mistura de compreensão e preocupação: ele entendia que eu tinha uma missão, mas receava meu futuro em relação à ela. Eu estava disposta a morrer pelo meu povo se fosse necessário, mesmo que sentisse meu coração pesar sempre que pensava em todos que eu amo. E ele entendia isso.
Se eu conseguia me regenerar durante a batalha, era porque tinha a espada em mãos; se eu sentia sede de vingança, era pelo mesmo motivo; se minhas técnicas eram boas o suficiente, não pareciam vir de mim, e sim da espada. Ele dizia que eu tinha boas técnicas, e que não precisava de nenhuma arma especial para isso, mas eu não conseguia aceitar. Contei que havia escondido a espada, apesar de não revelar a localização, e isso pareceu diminuir sua preocupação no momento.
Hoje era um dia especial para mim, o meu aniversário. No início de tudo, eu esperava que esse fosse um dia em que eu não precisasse fazer nada e que não fosse julgada por isso. Mas, mesmo que eu decidisse não contribuir com nada, era impossível afastar completamente todas as preocupações da minha cabeça. Era um dia que fazia me sentir mais leve, mas ainda poderia ser como outro qualquer.
A corte planejou um banquete enorme, e designou algumas pessoas para que tocassem músicas a noite inteira. Usei um vestido verde, que pertencia à antiga rainha, com uma longa cauda e a pele de algum animal ao redor do pescoço. Era quente o suficiente para aquela noite tão fria. Com muita insistência de Pym também coloquei um colar, que era muito mais pesado do que realmente parecia.
Caminhei até a sala de jantar e sentei na minha cadeira designada, ao lado de Lancelot e Merlin. Os dois me lançaram olhares quando entrei na sala. Merlin parecia sentir orgulho, enquanto Lancelot parecia fascinado. Todos os outros ao longo da mesa também pareciam felizes de estar lá, e eu me sentia muito realizada com a presença de todos.
Cumprimentei à todos, e começamos a conversar e comer. Pym e Merlin eram unânimes em dizer que eu parecia uma verdadeira rainha. Arthur já estava rapidamente alterado pela bebida, e deve ter proposto pelo menos 4 brindes diferentes para mim, apenas trocando a ordem das palavras. Percival e Enid brincavam o tempo inteiro, tentando deixar o jantar menos entediante para eles. Ao meu lado, Lancelot dava os olhares e sorrisos mais significativos que eu podia reconhecer. Apesar de quase todos saberem que estávamos juntos, tentávamos ser discretos.
Depois do jantar, todos nos levantamos e fomos até o Grande Salão. Os músicos começaram a tocar, e eu e Lancelot finalmente conseguimos algum tempo sozinhos. Enquanto todos dançavam ou riam pelo salão, nos sentamos em uma mesa no canto, e ficamos conversando um pouco.
- Chega até a ser estranho... eu lembro que todas as minhas festas de infância consistiam em eu e Pym roubarmos pão doce para comer em cima de uma árvore, longe das outras crianças. Mas agora temos até três travessas disso aqui, é surreal.
Ele soltou um riso, permanecendo com um sorriso em seus lábios. Eu adorava vê-lo sorrindo, e quando era eu que provocava, me sentia melhor ainda.
- Você sente falta da vida na sua aldeia? - ele perguntou.
Pensei por alguns segundos. Eu sabia o que eu sentia, mas na hora que dissesse, provavelmente embaralharia tudo o que eu tinha a dizer.
- Eu meio que estou aceitando como as coisas aconteceram. Em alguns pontos da minha jornada, pude escolher o que fazer. Se tivesse continuado na aldeia, provavelmente teria sido forçada a me casar com um velho desconhecido e já teria 4 filhos, isso se ainda estivesse viva. Eu gosto de poder lutar pelo meu povo... e bem, tudo isso me guiou até você. - disse, sem conter o sorriso.
Assim que uma nova música começou, andamos até o centro do salão. Ele depositou um beijo na minha mão, e passou a me conduzir na dança. Nesses momentos era como se todas as pessoas ao nosso redor sumissem e ficássemos apenas nós dois, guiados pela música. Girávamos, às vezes ele me levantava no ar, e ficávamos a maior parte do tempo com nossos corpos quase colados. Era romântico, provocativo e animador ao mesmo tempo, o que me fazia apreciar tanto esses momentos.
Uma música mais calma e suave começou a tocar. Me lembrei de Lughnasadh, quando dançamos juntos pela primeira vez. A segurança, encantamento e atenção da primeira vez não tinham mudado nada. Me sentia mais feliz do que nunca em seus braços, mas me perguntava se ele também sentia o mesmo.
- Eu te faço feliz? - perguntei.
- Mais do que você pode imaginar. - ele disse, sorrindo.
Passei mais algum tempo pensativa. Por um lado, eu era totalmente aberta com ele sobre os meus sentimentos. Por outro lado, ele nunca disse se me amava de volta. Talvez fosse algo idiota considerando o quão diferentes nossas personalidades podiam ser, mas ainda era algo em que eu me pegava pensando algumas vezes ao longo do dia.
- Eu tenho algum pedaço do seu coração? - perguntei.
- Não só um pedaço, como ele inteiro, querida. Sei que você espera que eu te diga o quanto eu te amo de volta. - ele disse, pousando sua mão no meu rosto - Mas palavras não significam muita coisa. Eu também te amo, e espero que você sinta isso ao longo dos seus dias.
Me aproximei do seu rosto e nos beijamos. Ficamos algum tempo bem próximos, até ouvirmos alguém se aproximar. Era Esquilo. Nos afastamos, então, e fomos dar atenção ao garoto.
- Vocês estão namorando? - o garoto perguntou.
- Sim, Percival. Estamos. - Lancelot respondeu, com um sorriso no rosto.
- Ah... entendi.
O garoto saiu um pouco cabisbaixo, andando para fora do salão. Eu não tinha ideia do que se passava na sua cabeça, por mais que quisesse saber. Lancelot o seguiu, e antes dos dois saírem do salão, ouvi gargalhadas da parte deles. Meu coração se aqueceu, sabendo que Esquilo nunca mais havia ficaria desamparado: mesmo que eu não entendesse o que se passava pela sua cabeça, Lancelot entendia.
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Hurricane | Nimulot
FanfictionLancelot, antes um guerreiro dos Paladinos, se junta à Nimue e seus aliados. Mas, será que a ligação de ambos poderá sobreviver à guerra que libertará os feéricos? Atenção: é necessário ter terminado de assistir a série "Cursed - A Lenda do Lago" p...