Oásis - Noart

03- É agora que você me paga o favor

SINA, WASHINGTON D.C.

Acordei com Délia me chamando, tranquei a porta do meu quarto depois do jantar, já que saí correndo antes da foto oficial. Joalin tem razão, algumas coisas mudam de acordo com a idade, no meu caso eu tomei a decisão de não fazer papel de ridícula aparecendo nas fotos da família do presidente, onde qualquer cego vê que eu e minhas irmãs não queríamos estar ali.

— Já vou- joguei o cobertor para trás e me arrastei até a porta, Délia entrou e jogou um chapéu de praia na minha cara— o que é isso?

— Você vai tomar sol com o filho do governador- ela recolheu meus desenhos pelo chão, abriu minha janela e entrou no closet.

— Não me lembro de ter recebido um convite- me joguei na cama e afundei o rosto no travesseiro.

— Claro que não lembra, saiu pro banheiro e nunca mais voltou!

Sorri lembrando da cara da minha mãe quando me viu saindo, ela sabia que eu não voltaria mais para aquele jantar. Já tivemos outros momentos como aqueles, diversos caras já foram no escritório do meu pai e depois me chamaram para conhecê-lo. Eu aceito muita coisa, ditam as minhas roupas, os lugares onde eu devo ir, mas namoro não. Faço questão de brigar por poder tomar ao menos uma decisão na minha vida.

Délia separou a minha roupa, graças à Deus era um vestido mais confortável e mais bonito do que o da noite anterior. Essa mulher cuida de mim desde que nasci, ela é mais minha mãe do que a outra que carrega esse título. Amo minha eterna babá, mas sei que ela jamais amoleceria as coisas para que eu pudesse fazer algo politicamente incorreto.

— E se eu aproveitar que vou no jardim e pular a grade?- sentei na cama e Délia riu— é um bom plano!

— Claro que é- debochou ela— os seguranças lá fora não são nada perto de você, pode ir.

— Um dia eu vou- sorri imaginando o momento em que eu conseguiria minha liberdade— e vou levar você comigo!

— Para onde vamos?- Délia sentou na ponta da cama se envolvendo na minha loucura.

— Austrália.

— Por que?

— É bonito, e longe do meu pai- ela riu.

— Se arrume logo e desça para tomar café, nós vamos para o Kansas ainda hoje.

— Ah, verdade. Nem acreditei no que o meu pai disse, achei que ele estivesse bêbado.

— Acabei de avisar os jatinhos que nós vamos viajar hoje, seu pai com certeza não estava bêbado.

Então era aquilo mesmo, eu realmente tinha decidido algo naquela casa, era realmente inacreditável. Me arrumei rapidamente com o vestido branco soltinho e curto, um chapéu de palha e meus materiais para desenhar. Desci e fui para o jardim de trás, mas a voz de Délia me fez voltar para a sala.

— Vocês vão ficar no jardim da frente- ela disse sorrindo— vai logo, antes que sua mãe mude de ideia!

Corri até a entrada, bati na porta duas vezes e os seguranças abriram para mim. O dia estava lindo, a cidade lá fora era barulhenta, mas eu amava. Corri até as grades do portão, não tinha ninguém exatamente ali naquela rua, mas já era alguma coisa poder ver o lado de fora tão de perto.

— Maria!- Alex gritou parada na porta, bufei e voltei para lá— o Bailey veio te fazer compainha hoje, vocês podem tomar sol por um tempinho aqui e depois entrem, certo filha?- afirmei balançando a cabeça.

— Oi!- Bailey me abraçou.

Ele usava uma camisa de algum time de futebol e bermuda, as roupas condiziam com o clima quente. Sentei em uma das cadeiras de descanso no canto da casa e o garoto sentou ao meu lado. Bailey começou a falar enquanto eu desenhava, ele tem dezoito anos, adora o que está fazendo na faculdade e joga futebol.