01- Como se nós fôssemos pessoas normais.

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SINA, WASHINGTON D.C.

Alguns me chamar de ingrata, outros de tímida e, às vezes, nojenta. Como se ser filha do presidente dos Estados Unidos fosse uma tarefa fácil... Minhas irmãs parecem gostar, Joalin e Savannah aproveitam tudo o que podem e o que não podem, elas têm os garotos aos seus pés e suas amigas fazem tudo o que elas mandam. As duas podem ter dezesseis e dezessete anos, mas agem como verdadeiras manipuladoras quando querem.

Sou a ovelha negra. Escuto música alta no quarto, não vou para eventos sociais e quando vou, não me esforço nem um pouco para ser a filha perfeita que meus pais querem que eu seja. Gosto de ler, mas odeio qualquer coisa que envolva política. Gosto do meu quarto, tenho uma cama enorme e macia, um tapete confortável e vários matérias para que eu possa desenhar e pintar. Tenho tudo o que preciso, menos o que mais quero:

Liberdade.

Quase todos os dias, sento na minha janela, olho para Washington aos meus pés e por alguns minutos eu me esqueço de quem eu sou, ou quem as pessoas querem que eu seja. Isso não dura muito tempo, os seguranças no jardim e na porta da casa sempre me mandam pra dentro. Não posso sair, não posso ir ao jardim, faço faculdade em casa já que minha mãe diz que as pessoas da minha idade são horríveis. Eu tenho dezenove anos, li nos livros que essa é a melhor fase para se viver. Menos quando você estuda Ciências Contábeis, nesse caso, a sua vida é um verdadeiro inferno.

— Venha jantar Maria- Délia, a doce e simpática mulher que cuida de mim e das minhas irmãs, abriu a porta do meu quarto.

— Quem chegou aí?- deixei meu lápis e meu caderno no pé da cama e levantei.

— A família do governador, eles vão acompanhar vocês na refeição- Délia me educou mais do que meus pais, ela me cuidou e deu colo quando eu precisei, e ainda faz isso— coloque o vestido verde e desça, vou ficar com você- ela sorriu antes de sair novamente.

Délia e eu temos um pensamento que nos fortalece: se eu fizer o que a minha mãe quer, terei mais tempo de paz e gastarei menos saliva. Eu estava cansada de me sentir presa, e realmente estar presa. Nunca me deram espaço para tomar decisões nem para sonhar, porquê meus pais sabem que se me deixarem ser livre e seguir meus próprios desejos, eu ficaria bem longe da Casa Branca. Tenho planos. Seria lindo se não fosse proibido.

Na verdade, tudo na minha vida é proibido. Conhecer pessoas, namorar pessoas, conversar com pessoas. Meu círculo social é restringido a pessoas que meus pais conhecem, rapazes filhos dos funcionários dos meus pais ou filhos de amigas da minha mãe que, olha só, são casadas com os funcionários dos meus pais.

— Sininho!- Joalin e Savannah entraram no carro e se jogaram na minha cama.

As duas vestiam peças longas da mesma cor que a minha, verde capim-limão, que nós deixava parecendo verdadeiros aipos ambulantes. Afastei meus desenhos das minhas irmãs, elas não estavam nem um pouco preocupadas com eles, já que não paravam de reclamar e choramingar como duas crianças.

— Estou parecendo um couve-flor!- Sav levantou e bateu o pé no chão.

— Couves-flor são pequenos, e você não é pequena- ri sozinha, já que Joalin continuou emburrada— vamos acabar com isso logo- puxei as mãos das duas.

— Tenho dezessete anos, achei que com essa idade eu poderia escolher entre me vestir como uma pessoa normal ou uma vagem.

Como se nós fôssemos pessoas normais- falei enquanto ria da comparação feita por Joalin.

Descemos as escadas, cruzamos todo o sala o enorme até chegarmos na sala de recepção. Todos os cômodos daquela casa eram enormes, mesmo que meu pai só usasse o escritório, minhas irmãs viviam na sala de cinema, Alex trocava de minuto em minuto os jarros de flores da sala de estar e eu nem saia do meu quarto.

Oásis - NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora