19- Estamos falando sobre corpos

2.3K 269 263
                                    


NOAH, KANSAS.

Ela não parava de chorar agarrada em minha cintura. Aquilo estava acabando comigo e não havia nada que eu pudesse fazer, além de segurar sua mão e acariciar sua perna. Precisei revezar a atenção entre Sina e a estrada, o caminho para o lago onde íamos não era muito longo, mas estava parecendo uma eternidade.

Quando finalmente chegamos, desci da moto e ajudei Sina a descer também. Ela desceu e me abraçou de novo, deitei sua cabeça em meu peito e fiz carinho em seu cabelo. Apesar de querer entender o que acontecera, eu sabia muito bem que Sina não conseguiria me explicar, já que não podia parar de chorar.

— Vamos para o Alabama- ela disse depois de tossir, ainda chorando— lá nós vamos poder cuidar das nossas margaridas. Eu posso... Eu posso ajudar suas irmãs a perderem o medo das borboletas. Eu só preciso sair daqui Noah, não quero mais passar por isso.

— Passar pelo que?- segurei seu rosto, seu nariz estava vermelho, assim como os olhos e as bochechas.

Seus braços estavam expostos, e sua camisa preta e folgada não era capaz de esconder os leves arranhões em seu braço. Ela deve ter percebido minha preocupação, pois segurou meu rosto e me forçou a olhar para ela de novo.

— O que fizeram com você?

— Eu me machuquei sozinha, fiquei nervosa e só percebi quando já tinha feito. A questão não é essa, eu só preciso de...- parou para tomar fôlego, Sina estava nervosa demais e aquilo estava me preocupando.

Eu nunca soube o que fazer nessas situações, mas pareceu que tomei a decisão certa quando segurei sua mão e coloquei em cima do meu coração. Sina respirou fundo e sorriu fraco, ainda com as lágrimas caindo dos seus olhos. Beijei sua testa, depois seus lábios, sua bochecha molhada e a ponta do seu nariz. Quando senti que ela estava mais calma, segurei seu rosto entre as minhas mãos e a beijei mais profundamente. As mãos da loira foram parar em meus ombros, enquanto as minhas estavam em sua nuca e sua bochecha. Beijar ela era o meu remédio, e pelo visto, Sina pensava o mesmo.

Ela sentia o mesmo que eu.

— Eu só conseguia pensar em você, quando tudo estava acontecendo naquela casa eu só... só queria que você estivesse comigo- Sina afastou sua boca da minha e me abraçou— eu não quero voltar Noah, quero ir para o Alabama com você.

— Eu sei- suspirei— eu também quero, mas nós precisamos pensar direito, planejar tudo...

— Isso vai demorar?

— Não vai. Preciso resolver uma coisa antes, e depois nós vamos ter paz- sorri, mesmo que Sina não pudesse ver. A ideia de ter meu sonho realizado me deixou muito feliz.

Ela levantou a cabeça e sorriu para mim, limpei de novo suas lágrimas e dei um selinho em sua boca. Se antes eu estava preocupado com o último surto que o Josh havia tido, mas naquele momento, ali com ela, eu só sentia paz.

— Você pode ficar aqui um pouco?- passei os dedos em seu cabelo claro— aquele chalé ali atrás será nosso daqui a pouco.

— Verdade?- ela olhou para trás e sorriu ao ver a pequena construção— como?

— Eu conheço um cara- ela revirou os olhos e eu ri.

— Vou esperar ali no lago, ok?- balançei a cabeça concordando e ela se afastou.

Apoiei o corpo em uma árvore e disquei o número de um conhecido, ele me devia alguns favores então eu pedi seu chalé emprestado. Enquanto eu esperava ele se lembrar onde tinha deixado a chave reserva, eu prestava atenção no que Sina fazia. Seus pés chutavam as pedras no chão enquanto ela balançava o corpo, parecia tão desnorteada. Talvez eu não fosse a pessoa mais indicada para ajudá-la, mas faria o meu melhor.

Oásis - NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora