Win MetawinA madrugada tinha sido inquieta.
Me virava na cama de um lado para o outro, o sono tinha fugido e parecia que ia demorar para voltar, se é que voltasse. A luz azulada fraca que vinha da janela iluminava o quarto, mas mesmo na quase escuridão total, eu conseguia distinguir o contorno de cada um dos móveis em meio a penumbra. O apartamento estava quieto e deveria ser mais ou menos duas ou três e meia da madrugada, e o frio começava a ficar mais intenso.
Numa situação comum, com certeza eu estaria pensando em Hana nesse exato momento, me remoendo internacionalmente por ter deixado as coisas acabarem daquele jeito. Estaria com raiva por ela ter mentido para mim. Com mágoa por ter sido traído quando meus sentimentos por ela eram verdadeiros. E, principalmente, com vergonha.
Vergonha de mim mesmo. Por ter sido insuficiente o bastante para que Hana tivesse que procurar o amor nos braços de outro cara. Eu era um total inútil e deveria estar escrito trouxa na minha testa.
Mas numa situação comum eu estaria pensando dessa forma (e talvez até mesmo tivesse chorado um pouco). Porém meu cérebro não tinha espaço livre para me culpar pelo que não tinha feito ou ficar com raiva de alguém, nem mesmo tentar imaginar as coisas que poderia ter acontecido. Porém não pensava nisso. Meu cérebro estava ocupado em pensar nele. Sarawat.
Ele estava no quarto ao lado, com apenas uma parede e um oceano de possibilidades separando nós dois. Mas que não tinha sido suficiente para impedir que ele tentasse me animar quando meu dia estava uma merda. E muito menos ter a ideia idiota de fazer um piquenique no meio da sala.
Tá, até que foi bem divertido, eu admito.
Desde que ele chegou aqui em casa, a rotina mudou muito. Sempre preparo o café da manhã (eu não comia nada de manhã, só bebia uma xícara de chocolate quente), separo uma muda de roupa limpa para ele vestir depois do expediente, ficamos conversando durante o jantar e já me acostumei a dar boa noite para ele todos os dias.
Eram coisas bobas, meros detalhes que ninguém perceberia. Mas era bem claro que minha vida tinha mudado quando o conheci. Até mesmo a cafeteria mudou. Mais uma pausa para o almoço foi adicionada, um novo uniforme foi feito e um crachá com o nome "Sarawat" ficava guardado numa gaveta na sala dos funcionários.
- é, acho que algumas coisas ficaram mesmo meio diferentes - falei para mim mesmo, me revirando pela enésima vez naquela maldita cama.
Fechei os olhos, e esperei que o sono viesse quando quisesse vir, o que aconteceu meia hora depois. E caí num cochilo leve.
Eu estava num sono ótimo, com um sonho onde eu era um empresário bem-sucedido e dono de uma rede de fábricas de brinquedos adultos (não me pergunte o porquê de eu ter tido esse sonho). Mas isso não durou muito, pois logo ouvi uma voz que eu reconheceria em qualquer lugar sussurrar:
- acorda estorvo!- murmurou.
Resmunguei um me deixa em paz e virei na cama para o lado oposto, voltando a dormir.
- vai me fazer ter que te acordar? É sério?- disse com um tom indignado, mas um pouco risonho.
- nem ouse fazer isso!- respondi ainda meio grogue, outra vez me ajeitando, cobrindo minha cabeça até o topo com o cobertor. Falei com a voz um pouco abafada - te jogo do prédio se me encher o saco!
Ficou silêncio por um tempo, o que me fez achar que talvez ele tivesse saído do quarto e ido voltar a dormir ou ficar fazendo sei lá o que. Tive que tirar o cobertor de cima da minha cara, ou ia morrer sufocado. Ainda com os olhos fechados, senti que Wat continuava bem alí. E essa suspeita logo se confirmou.
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Desconstruindo Detroit
RomanceUma noite chuvosa, um táxi amarelo e uma mala com somente o essencial e seu violão. Era tudo isso que Bright tinha ao embarcar rumo para o lugar mais longe possível de suas aflições em Nova York e, principalmente, da sua banda. Detroit era como uma...