Faculdade? Trabalho?
Nunca precisei me preocupar com nada disso na vida, assim que assinei meu primeiro contrato com a gravadora. O ensino médio já era difícil o suficiente para me fazer detestar a ideia de passar mais quatro anos preso numa sala de aula, e também por ter certeza de não ser inteligente o bastante para conseguir passar num vestibular ou conseguir uma bolsa de estudos. Então, sem chances!
Além de não possuir absolutamente nenhuma idéia do que fazer da vida, e sem saber direito se tocar violão pode ser dito como um talento, eu tinha um leque bem limitado de opções. Meus pais tentaram me convencer de tentar encontrar a universidade certa e achar algo no qual eu gostasse de fazer (para eles, ser músico jamais daria futuro).
E depois de tantas idas e vindas, questionamentos e horas sem dormir pensando no futuro, aqui estou eu, no meio de uma cidade estranha, com pessoas estranhas e trabalhando numa cafeteria ao lado do garoto que gosto - que também é estranho - e parando para pensar, acho que até gosto desse meu "desfecho".
Estava uma noite fria, com o céu limpo e uma Lua cheia brilhante. Deveria ser onze e quarentena da noite, e faz não mais do que dois minutos que eu e Metawin estamos andando em silêncio pelo pequeno jardim ao redor do prédio.
Arbustos cuidadosamente podados ladeavam os postes de luz e bancos de pedra pelo caminho, que estava completamente deserto exceto por nós dois. Depois do jantar, eu sugeri que fôssemos dar uma volta do lado de fora do prédio, já que de jeito nenhum conseguiria suportar o silêncio dentro daquele apartamento. Mas pelo menos não era pior estando ao ar livre.
- como está o livro? Em qual parte está agora?- Win perguntou de repente. Esse era quase o nosso assunto oficial de conversas: livros. Durante o tempo que ficávamos juntos no balcão durante a pausa para o almoço de Emily, era sobre isso que falávamos o tempo todo.
E foi graças a isso que descobri que ele já havia lido todos os livros da saga Harry Potter e O Senhor dos Anéis, e que planejava começar a ler O Hobbit em breve. Também leu vários livros de terror, Amityville e O Menino que Desenhava Monstros eram alguns deles.
- ficou bem interessante agora, a Lou está tentando fazer Will mudar de idéia sobre aquilo tudo - dei um sorriso animado, lembrando das melhores partes do livro - fez uma lista com as coisas que poderiam o ajudar a ver o lado bom de viver, e achei muito legal.
- você acha que o amor pode mudar realmente o pensamento de uma pessoa?- ele questionou, curioso.
- depende, sabe?- parei e pensei um pouco - se uma pessoa está na situação como Will, infeliz e desacreditado, acho pouco provável. Ou talvez não, pode ser que até mude.
- não quero dizer sobre isso - Win deu uma risada baixa, me encarando, os olhos brilhando com a luz da Lua - eu quero dizer: o amor pode fazer a pessoa perceber que o que ela achava estava errado esse tempo todo?
- onde você quer chegar com isso?- perguntei, ficando um pouco preocupado se pareci grosso ou rude, mas Win não se incomodou nem um pouco. Ele apenas sorriu.
- sei lá, nem eu faço idéia - sussurrou.
- por que você ainda continua aqui em Detroit?- eu falei, o olhando fixamente em meio a quase total escuridão - passei tempo suficiente ao seu lado para notar que você pode e merece conhecer o mundo. Então, por que vive aqui?
Ele ficou em silêncio, talvez sem saber como responder a minha pergunta, que por sinal tinha sido bem intrometida. Mas não me importei. Eu queria mesmo saber aquilo. Win era dedicado, inteligente e, diferente de mim, ele tinha tudo para ter um futuro perfeito.
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Desconstruindo Detroit
RomanceUma noite chuvosa, um táxi amarelo e uma mala com somente o essencial e seu violão. Era tudo isso que Bright tinha ao embarcar rumo para o lugar mais longe possível de suas aflições em Nova York e, principalmente, da sua banda. Detroit era como uma...