amor faz Test-Drive?

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Agora sim eu estraguei tudo!

A maioria das pessoas iriam ficar felizes após beijar quem tanto gostavam, e com certeza iriam agir como se fosse a coisa mais simples do mundo, e sem dúvidas não estariam quase tendo um colapso nervoso como eu obviamente estava prestes a ter nesse momento.

Minhas mãos tremiam, as pernas pareciam gelatina e aos poucos eu começava a perceber a besteira que havia feito. Eu tinha acabado de beijar o Win, o garoto que dividia o apartamento e que me ajudou assim que cheguei na cidade (e pela qual acabei admitindo estar apaixonado). Havia o beijado, movido pela raiva e ciúmes, e nem sequer parei para pensar nas consequências.

Ele nunca mais ia querer olhar na minha cara outra vez, e não o culpo por isso. Meu cupido deve estar rindo de toda essa desgraça e todos os meus ancestrais sem dúvida estão se contorcendo de vergonha por eu ser tão covarde. Mas, apesar de eu querer pegar uma das naves do Elon Musk e ir embora da Terra, não conseguia parar de me perguntar o que Win deve estar pensando agora.

Entretanto, rapidamente minha mente foi para outro assunto: como seria as coisas dali em diante?

E, como qualquer pessoa sensata faria nessa situação (ou com um QI absurdamente baixo), eu escolhi fugir outra vez.

Dei a desculpa de estar morrendo de dor de cabeça para Matthew, e isso surpreendentemente pareceu ser suficiente para o convencer de me deixar voltar para casa e descansar pelo restante do dia. Fiquei mal por ter mentido para ele mas, agora, eu tinha problemas muito maiores para me preocupar.

- Bright, espera - ouvi a voz de Emily me chamar assim que saí do banheiro, após tirar o uniforme. Ela correu até mim, olhando discretamente ao redor para ver se ninguém tinha lhe escutado dizer meu verdadeiro nome.

- o que foi?- perguntei tranquilo, agindo como se eu não tivesse acabado de beijar Metawin e ferrar com tudo - aconteceu alguma coisa?

- sim, aconteceu que você acabou de fazer aquilo e está fugindo feito um idiota!- ela respondeu, sensata como sempre.

-eu não chamaria isso de fugir, e sim de dar uma saída com estilo!- dei um sorriso fraco, pensando que, se eu fizesse uma piada com a situação, talvez meu cérebro acreditasse que não fosse nada grave.

- eu estou falando sério, você já é bem crescido para conseguir lidar com isso, certo?- Emily retrucou, mas logo sorriu, talvez percebendo o estado de pânico que eu estava - mas tudo bem você querer um tempinho, ok?

- a um segundo atrás estava me chamando de medroso, e agora está toda compreensiva? Essa sua dualidade às vezes me surpreende!- dei risada, encarando-a com uma expressão irônica.

-me deixa em paz, chato!- ela me deu um tapinha leve no ombro, também dando risada - olha, vai para casa, descansa e tenho certeza que tudo vai acabar bem!

- vai acabar bem mal, você quer dizer, né?- suspirei profundamente, enfiando as mãos nos bolsos da calça.

- ser pessimista não ajuda em nada!- ela cruzou os braços, fingindo estar brava - tenho que voltar para o trabalho antes que o Matthew venha descontar do meu salário. Qualquer coisa me manda mensagem!

E então eu estava livre para finalmente ir embora. Saí pela porta dos fundos, e segui pelo caminho habitual até o prédio. Era esquisito estar lá sem Win para conversar, andar sem pisar nas linhas da calçada e rir das bobagens que fazíamos. Ele era estranho, tinha manias que eu não compreendia e possuía lá suas peculiaridades mas, talvez, fosse por isso que Win me chamava tanto a atenção. Ele não seguia padrões, era como queria ser, e não tinha medo disso.

Desconstruindo DetroitOnde histórias criam vida. Descubra agora