Promete?

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Aquilo havia sido uma má ideia.

Estar rodeado de tantas pessoas que falavam todas ao mesmo tempo me deixava atordoado, e a cada instante a claustrofobia ameaçava fazer uma visita. Ouvir meu nome verdadeiro ser pronunciado sem parar, seguido por elogios e comentários sobre a apresentação fazia meu cérebro querer ter um treco.

Em meio a toda aquela multidão, logo perdi Anthony de vista, e só o simples fato de tentar sair dali se provou ser quase impossível. Talvez fosse por todas as doses de álcool que bebi ainda à pouco, mas as minhas pernas simplesmente não se moviam como deveriam, me deixando cravado no mesmo lugar apesar de querer sair correndo dali o mais rápido que desse.

Senti uma mão agarrar meu pulso com firmeza, apertando minha pele com uma força notável, imediatamente fazendo com que os músculos das minhas pernas voltassem a trabalhar. Ser arrastado para longe da multidão por seja lá quem fosse era uma das opções que eu nem sequer tinha pensado, mas até que deu bem certo no final das contas.

Fui puxado para fora do bar, saindo pela porta dos fundos para evitar chamar a atenção de mais alguém. Estava bastante escuro do lado de fora, o vento frio soprava contra mim e a rua era iluminada pela luz fraca dos postes, de um jeito que não pude ver exatamente o rosto de quem havia acabado de me salvar da morte pelas mãos de uma dúzia de fãs enlouquecidos. 

- obrigado - murmurei um pouco rouco.

- não agradeça…- a resposta soou fraca. Aquela voz me era familiar, terrivelmente familiar.

A mão dele ainda segurava meu pulso, seu toque ia se afrouxando conforme os minutos passavam, e então eu o reconheci. A quase total ausência de luz não me impediu de ver seu rosto, ou de sentir o cheiro característico de seu perfume que despertou em mim algo muito próximo do pânico.

Então esse é o momento em que tudo dá errado? É agora que o karma vem pagar sua imensa dívida comigo? Se for, por favor, acabe logo com isso. Win não parecia feliz, triste ou muito menos bravo. Tentar decifrar seus pensamentos agora era tão complicado que acho que nem o professor Charles Xavier conseguiria. E por um instante agradeci por estar escuro, assim ele não conseguiria enxergar o quão desesperado estou.

- você não vai dizer nada?- Win perguntou, e o som dos ponteiros do relógio contavam os segundos para isso terminar de virar um desastre - quem você realmente é?

- eu não sei - digo em um sussurro. Pode até ser uma resposta meio ruim, mas é a verdade. Já faz um bom tempo que me perdi e não sei mais como encontrar a mim mesmo - desculpe…

- só me diz que isso é uma pegadinha - ele deu uma risada nervosa, daquelas que damos quando a situação tem tudo para piorar e nosso cérebro tenta acreditar que deve ser mentira.

- bem que eu queria que fosse - tento forçar um sorriso, que sai tão torto e esquisito que rezo mentalmente para que ele não tenha visto.

- Bright Vachirawit - Metawin falou, sua voz tão fria como o vento que uivava pelas ruas de Detroit - esse é seu nome de verdade, não é?

Como vou ignorar aquela pergunta? Como posso dizer que sim, esse é meu nome, sem piorar cada vez mais as coisas? Aproximo minha mão até o rosto dele, o tocando com delicadeza, deslizo meus dedos lentamente pelos seus cabelos escuros, indo até sua bochecha. Quero ter certeza que ele é real, e não um fruto das minhas mentiras. Uma lágrima solitária escorre por sua face, e a enxugo com o polegar. 

Meus próprios olhos começam a marejar, o medo e a incerteza se transformam em um enorme oceano de lágrimas que tento conter. 

- Win, ainda sou eu… sou o seu Wat - falo trêmulo, o desespero aos poucos tomando conta de mim. 

Desconstruindo DetroitOnde histórias criam vida. Descubra agora