Não sou bom em lidar com rejeição. Sendo sincero, acho que não sei lidar com nenhum sentimento. Preciso sempre expressá-lo de alguma forma, seja chorando, gritando, reclamando ou ouvindo música até pegar no sono. Porém, simplesmente não faço ideia do que fazer agora.Numa situação dessas, eu estaria deitado no meu quarto, com os fones de ouvido no último volume, clicaria em alguma playlist aleatória e esperaria que tudo melhorasse. Mas o que você faz quando seus próprios pensamentos gritam mais alto do que a música?
Depois que Win saiu, não me levantei do sofá. As minhas pernas estavam sem forças e dificilmente me levariam para algum lugar. Fui idiota em fazer aquela pergunta, achando ser o momento certo para arriscar tudo. E eu arrisquei. E em troca recebi absolutamente nada. Nem ao menos um sim ou não. Win fugiu, assim como eu fiz tantas vezes, e me deixou aqui acompanhado da minha ansiedade.
Ainda meio desnorteado, tentei me levantar e andei até meu quarto. Aos poucos ele ia deixando de ser apenas um quarto de hóspedes e ia se tornando cada vez mais meu. Os pôsteres de bandas que colei nas paredes dias atrás, o violão largado em um canto perto da janela, a cama sempre desarrumada e a escrivaninha repleta de papéis rabiscados com anotações. Tudo isso fazia esse lugar se parecer mais comigo. E eu adorava isso.
Procurei pelo meu celular no meio dos cobertores e lençóis, e torci para que ainda tivesse bateria (sempre esqueço de o colocar para carregar). Não liguei para Anthony, diferente do que teria feito quando tenho algum problema. Ele provavelmente deveria estar ocupado e o incomodar agora era a última coisa que eu queria.
Abri o contato de Emily, respirei fundo tomei coragem e mandei uma mensagem.
Preciso da sua ajuda, foi tudo que escrevi. E menos de um minuto depois ela ficou online, visualizou a mensagem e três pontinhos surgiram na tela. Ela estava digitando.
Claro, pode vir aqui em casa. Ela enviou, seguido do endereço de onde morava e um emoji de sorrisinho. Mas não consegui sorrir de volta. Larguei o celular sobre a cama e fui trocar de roupa. Vesti uma calça jeans e calcei os tênis, ainda usando a minha meia de ovos fritos.
E como não achei nenhuma camisa limpa, e nem morto que eu ia sair publicamente usando essa camisa das Tartarugas Ninja (que também usava como pijama) resolvi procurar por uma limpa no guarda-roupa de Win e "pegar emprestado".
Não sei se existe uma regra universal que proíbe que outras pessoas mexam nas coisas de outras sem a permissão delas, mas se existe, eu acabei de quebrá-la. Remexi nas gavetas do quarto de Win e tentei encontrar algo decente para usar. Encontrei uma camisa do Beatles escondida no fundo da gaveta, junto com outros papéis que pareciam estar lá a bastante tempo.
- bom, isso aí vai ter que servir - murmurei, vestindo a camisa e vendo que ela era exatamente do meu tamanho. Ainda bem!
Emily já devia estar me esperando, então fiz questão de não demorar muito. Peguei a chave reserva, tranquei a porta e fui rumo à casa dela. O endereço não ficava muito longe, só a três quadras de distância. Bastava só andar um pouco até a avenida, atravessar, virar a esquerda, seguir por duas quadras, virar a direita e Tcharam! Chegamos.
Estar na casa de Emily é como ter sido teleportado para outra dimensão. Uma dimensão nerd. Todas as prateleiras da sala estão lotadas Funko Pop e action figures de super-heróis, desenhos animados, animes e personagens que nunca vi na vida. Fotos e pôsteres de games ocupam quase todas as paredes, e a mesinha de centro ostenta uma miniatura do Trono de Ferro de Game of Thrones que achei bem legal.
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Desconstruindo Detroit
RomanceUma noite chuvosa, um táxi amarelo e uma mala com somente o essencial e seu violão. Era tudo isso que Bright tinha ao embarcar rumo para o lugar mais longe possível de suas aflições em Nova York e, principalmente, da sua banda. Detroit era como uma...