Eu não acredito que isso aconteceu.A principal regra de coisas para não fazer é: nunca, em hipótese nenhuma, transar com seu colega de apartamento. E agora acabei de quebrar essa regra e, sinceramente, não me arrependo nem um pouco.
Deitado de bruços na cama (agora em meu quarto) o cheiro de shampoo impregnava o ar, o que dava uma sensação boa de familiaridade. Estou apenas de calças e meias, que infelizmente dessa vez não tem nenhuma estampa de ovos fritos ou arco-íris. Acabei de sair do banho, com os cabelos úmidos grudados na testa e pescoço, onde as marcas estavam ainda com um vermelho arroxeado bem visível, e uma toalha semi-molhada jogada em cima do meu abdômen desnudo.
Eu deveria estar feliz, não é? Acabei de descobrir que Win me amava, nos beijamos e logo após fizemos coisas bem impróprias no sofá da sala. Era o que eu desejava fazer esse tempo todo, desde que admiti para mim mesmo estar apaixonado por ele, e finalmente havia acontecido. Mas, então, por que me sinto como sendo o pior ser humano do mundo?
Win amava Sarawat, mas não o Bright.
Passei as mãos pelo meu rosto, enfim me dando conta que essa mentira estava indo longe demais e que aos poucos fui perdendo o controle de quem eu realmente era. E agora, se eu falasse a verdade, Win iria ficar arrasado. Ele iria me odiar. E o pior de tudo, eu estaria fazendo ele sofrer, e eu nunca poderia me perdoar se isso acontecesse, assim como Win também não.
Me levantei depressa, sentindo um incômodo na região do quadril, mas que não era forte o suficiente para me fazer ter que tomar um analgésico. Olhei o céu meio nublado pela janela, que mesmo estando com algumas nuvens cinzentas, parecia estar bem menos frio do que nos últimos dias. Peguei uma camisa e vesti, deixando de lado o uso de blusa e rapidamente calcei os tênis.
Precisava sair um pouco daqui e espairecer, talvez ligar para Anthony não seja uma má ideia. O som do chuveiro ligado do outro lado do corredor me deu coragem, Win estava tomando banho e se eu desse sorte, chegaria em casa antes que terminasse. Mas, por via das dúvidas, peguei um post-it amarelo e escrevi um recado breve, colando-o na porta entreaberta do meu quarto.
Ainda bem que estou sem blusa. O dia estava bem quente, tanto que nem parecia que faltava uns bons meses para o verão. As pessoas passavam nas ruas com a mesma pressa de sempre, óculos de sol tinha virado um item essencial, e ninguém dava à mínima para o mundo ao seu redor. Tudo estava igual (exceto pela parte dos óculos).
Andei poucas quadras, segui pelo leste e cheguei a uma praça quase vazia. Árvores altas com folhas alaranjadas faziam sombra sobre a grama verde-musgo, crianças brincavam de pular em cima das pilhas de folhas mortas e cães passeavam com seus donos. Fui até uma das árvores, apoiei as costas contra o tronco e peguei o celular no bolso da calça.
Digitei o número de Anthony, meu cérebro fazia tudo sem hesitar, como se de alguma forma eu tivesse apertado um botão e o colocado no piloto automático. Respirei fundo, Tony atendeu, e eu simplesmente não sabia por onde começar.
- Bright?- ele perguntou, desconfiado.
- sim, sou eu - respondi tenso, e falei a única coisa que me passou pela cabeça - não posso mais fazer isso…
- espera, isso o que?- Tony deu uma risada nervosa, e logo percebi que ele tinha ficado preocupado.
- Win me ama, e eu não posso mais continuar mentindo para ele - expliquei firmemente, sentindo um nó se formar na minha garganta, como sempre acontecia quando parava para pensar nesse assunto.
Um silêncio se formou, não havia o que ser dito, ou talvez não houvesse absolutamente nada que pudesse ajudar agora. Só ficamos em silêncio. Meu coração batia rápido, as pernas ficaram bambas e a ansiedade praticamente me engoliu de vez.
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Desconstruindo Detroit
RomanceUma noite chuvosa, um táxi amarelo e uma mala com somente o essencial e seu violão. Era tudo isso que Bright tinha ao embarcar rumo para o lugar mais longe possível de suas aflições em Nova York e, principalmente, da sua banda. Detroit era como uma...