Faça as pazes ou morra tentando!

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Tudo parecia correr em um ritmo diferente. O mundo parecia ser um lugar desconhecido e inexplorado. O vento soprava fraco contra mim, fazendo meu cabelo ficar um pouco mais bagunçado do que o habitual, minha ansiedade atingiu um novo nível e tento não pensar em tudo que pode dar de errado. Apesar da minha mente conseguir criar infinitas possibilidades para isso acabar bem mal.

O que estava passando pela minha cabeça quando eu tive essa idéia? Qual é a probabilidade de Tony querer me ajudar depois de eu ter brigado com ele por um motivo tão besta? Ele tentou me aconselhar tantas vezes que até perdi a conta, e em troca fui um péssimo amigo e só acabei piorando as coisas. Nesse caso, por que ele iria querer dar à mínima para meus problemas agora? Por que ele ainda iria ligar para minha existência?

Me sentei em um banco na calçada de frente para a avenida, vendo os carros passarem depressa, observando as pessoas seguirem seus próprios rumos e a vida correr despreocupada com o que acontecia.

- Anthony…- murmurei.

Não obtive resposta, apesar de conseguir escutar a respiração dele do outro lado da linha. 

- eu sei que você está aí - insisti, firmemente.

Outra vez sem resposta. Certo, Tony provavelmente me odeia, e dessa vez ele tem toda razão. Respirei fundo, pensando em uma solução.

- me desculpa, tá - decidi apelar para a frase mais óbvia de todas, numa última tentativa - sei que tenho sido um amigo merda, e também sei que você tinha razão esse tempo todo, o que é bem mais difícil de admitir do que achei que seria…

esperaeu tenho o que?- Anthony perguntou com um tom meio arrogante. Revirei os olhos, mas sem conseguir conter um sorriso.

- você tem razão!- resmunguei, sabendo que ele com certeza deveria estar adorando tudo isso.

não consegui escutar direito - ele deu risada - será que  para repetir um pouco mais alto?

- VOCÊ TEM RAZÃO, ANTHONY!- gritei o mais alto que consegui, sem me preocupar se as pessoas ficariam me encarando e iriam me achar super maluco, eu não me importaria, achem o que quiserem! 

quase fiquei surdo agoramas valeu a pena!- Tony gargalhou, voltando a ser o mesmo melhor amigo que conhecia - bomme conta o que aconteceu.

Contei tudo resumidamente, prestando atenção nos detalhes importantes. E conforme ia passando as novidades uma por uma, percebi que muitas coisas tinham acontecido em tão pouco tempo que era até de se espantar. E nessa troca de informações, Tony confirmou minhas suspeitas. Minha falta na banda tinha sido maior do que pensei ter sido.

Parece que tentar achar um guitarrista que consiga memorizar todos os acordes de mais de cinco músicas em menos de um dia (além de saber tocar quase toda a discografia da AC/DC de côr) é bem complicado. 

Mas isso não ajudou muito em me fazer se sentir melhor no quesito talento. Isso só significava que eu estava prejudicando ainda mais a banda, o que de certa forma justificava o porquê deles estarem tão desesperados à minha procura. Parece que toda vez que tento fugir de um problema, acabo sem querer criando outros milhares.

Não dava para fingir que simplesmente não era da minha conta. Era impossível deixar de se importar, de imaginar o que eles poderiam estar pensando de mim nesse momento. O que será que eles achavam da minha atitude? Talvez Anthony tenha acertado ao dizer que sou egoísta. Viajei para longe dos meus problemas, deixei o meu futuro nas mãos das probabilidades e larguei qualquer responsabilidade que poderia ter. 

Desconstruindo DetroitOnde histórias criam vida. Descubra agora