Era madrugada e o sono ainda não tinha chegado, apesar do meu corpo estar exausto. Foi um dia estressante e extremamente desgastante, mas no fim valeu a pena conseguir dar pelo menos um pouco de esperança para eles. Apesar de que meu plano não fosse cem por cento à prova de falhas.
O quarto está bastante escuro, mas minha visão se acostumou o suficiente para que pudesse distinguir os contornos dos móveis, banhados pela luz fraca da Lua. Não dormi junto com Win esta noite, dei uma desculpa qualquer para ele e me tranquei em meu próprio quarto, esperando que as paredes do cômodo conseguissem esconder minha vergonha. Como eu poderia ficar perto dele sem me sentir culpado por estar o enganando tão descaradamente?
As mentiras são como estrelas, elas sempre vão aparecer. E, se isso for mesmo verdade, as minhas mentiras formam uma galáxia.
Me viro pela milésima vez na cama, sem conseguir fechar os olhos. Abraço o cobertor com força, sentindo o cheiro de amaciante misturado com o perfume de Win, que já havia dominado todas as minhas roupas, assim como o meu também agora dominava as dele. Pego meu celular, que deixei guardado debaixo do travesseiro, para caso alguma emergência acontecesse (nunca se sabe).
Digitei a senha e desbloqueei, e quase fiquei cego com o brilho da tela. Meu Deus, parece que minha retina pegou fogo! Depois de me recuperar dos olhos terem entrado em combustão espontânea, verifico minhas notificações e redes sociais rapidamente. Não tem nada de muito interessante para fazer ou ver, como sempre.
Notificação nova.
Prendo a respiração, imaginando quem poderia ter tentado me ligar à uma hora dessas. Mas para minha surpresa não era Anthony ou alguém da banda. Era minha mãe.
- alô, mãe?- retorno a ligação depressa, tomando cuidado para não falar muito alto.
- oi filho, desculpe por ligar tão tarde…- ela diz, e percebo que senti muita saudade de ouvir a voz dela por todo esse tempo.
- não precisa se preocupar, ok? Aconteceu alguma coisa? Você e o pai estão bem?- pergunto, ficando preocupado. Ela não ia simplesmente me ligar durante a madrugada do nada, sem ter um bom motivo.
- estamos todos bem, só me deu vontade de ouvir sua voz, filho - ela sussurra a última parte, e fico feliz imediatamente - já faz um tempo que não nos falamos.
- sinto muito por isso, andei ocupado com uns assuntos e não tive muito tempo livre - certo, agora voltei a me sentir ser a pior pessoa do mundo. Quem diabos é que não tem um pouquinho de tempo para conversar com a própria mãe?!
- sei bem como deve ser uma correria a vida de um guitarrista - ela dá risada, e entro num vai e vem de ficar feliz por ouvi-la rir e ficar triste por não estar sempre ao lado dela. Solto um suspiro - o que aconteceu, Bright? Te conheço bem para saber que você está mal…
- acabei mentindo para uma pessoa muito especial para mim, e se eu contar a verdade, ela vai me odiar para sempre - murmurei, me sentando na cama, encarando a completa escuridão. E então faço o que qualquer pessoa sensata faria: peço um conselho para minha mãe - o que eu faço agora, mãe?
- espere um pouco e conte a verdade para a pessoa quando você se sentir pronto - ouço com atenção, como sempre fiz ao receber um conselho dela - mas o quanto antes você contar, melhor.
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Desconstruindo Detroit
RomanceUma noite chuvosa, um táxi amarelo e uma mala com somente o essencial e seu violão. Era tudo isso que Bright tinha ao embarcar rumo para o lugar mais longe possível de suas aflições em Nova York e, principalmente, da sua banda. Detroit era como uma...