Amar é ato falho?

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Win Metawin

Por que eu me sentia estranho?

Desde ontem na piscina, minha cabeça anda meio fora órbita, repleta de pensamentos e dúvidas sobre tudo isso. Ter Sarawat tão perto de mim naquele momento foi estranho. Não havia ninguém alí, e eu poderia tocá-lo e o observar a vontade mas, algo me impedia. Uma voz na minha cabeça não parava de dizer que aquilo era errado.

Vocês são dois homens, sussurrava na minha mente, toda vez que eu me aproximava demais para perto dele, ou quando o encarava por mais tempo do que deveria. Debaixo d'água, em meio a uma noite fria e com só nós dois lá, sozinhos, tudo era possível e impossível ao mesmo tempo.

Tive que várias vezes me lembrar de que precisava voltar a superfície para respirar, quando tudo que eu desejava era poder ficar para sempre submerso, sem medo de nada. Em um mundo onde ele estivesse comigo e que aquela maldita voz na minha cabeça não existisse. Numa realidade alternativa onde meu passado não voltasse a me atormentar todas as madrugadas. Sem tréguas.

E quando o frio se tornou insuportável, subimos de volta para o apartamento, correndo feito loucos pelas escadas de emergência para que ninguém nos visse. Rindo um da cara do outro, vez ou outra quase tropeçando nos degraus. Mas havia sido divertido.

Não contive um sorriso ladino ao voltar a lembrar de como tinha sido (principalmente da parte onde acabei derrubando-o na piscina) e só notei que estava sorrindo quando Sarawat me encarou, com uma expressão curiosa conforme fazíamos nosso rotineiro caminho para a cafeteria.

- está pensando em quê?- ele perguntou.

- sobre quando você vai admitir que amou aquelas meias de ovos fritos!- menti, também o encarando.

- nunca!- Wat bradou, cruzando os braços, daquele jeito dramático típico dele - agora admite logo seu ato falho de hoje de manhã!

- ato falho?- repeti, um pouco confuso e também bastante curioso. e tenho quase certeza que nunca ouvi isso em toda minha vida.

- sim, você tomou iogurte e jogou o potinho na pia e a colher no lixo, e depois ficou parado com o cérebro travado!- ele deu risada, enfiando as mãos nos bolsos da calça - óbvio que percebi!

- então me diga que você também nunca fez isso antes!?- eu respondi num tom acusador.

- claro que sim, mas foi um pouco diferente!- Wat admitiu, sorridente - já faz um tempo, eu havia pedido pizza e quando o motoboy veio entregar ele falou "tenha uma boa refeição" e respondi "você também".

- isso não foi ato falho, foi burrice mesmo - zombei, dando uma risadinha ao ver a expressão irritada que ele automaticamente fez.

- idiota!- ele me deu um empurrão leve no braço, mas logo voltou a dar risada junto comigo.

E ficamos nessa conversa aleatória, sobre atos falhos e lapsos de burrice que já passamos antes. Contei da vez que sem querer fiquei distraído com o celular e acabei trocando os potes de geleia no supermercado, e levei um de groselha, o que acabou me deixando internado no hospital com reação alérgica (nunca mais faço compras sem verificar os produtos antes).

Sarawat, por sua vez, falou como tinha conseguido fazer a proeza de tentar fazer uma pegadinha com um amigo, colocando laxante em uma das latas de Coca Cola, mas acabou se confundindo na hora de entregar o refrigerante e tomou a lata errada. Resultado? Bom, não queira saber!

Chegamos na cafeteria não muito tempo depois, e fomos cada qual para seu próprio canto, focando nas nossas tarefas e em não perder a paciência com Emily, que falava sem parar sobre a garota que conheceu aqui no café naquele dia chuvoso. E fiquei frustrado que mesmo até ela - sem ofensas, Emily - havia encontrado alguém.

Desconstruindo DetroitOnde histórias criam vida. Descubra agora