A morte

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Certa vez, Francis Bacon disse, "Os homens receiam a morte pela mesma razão por que as crianças têm medo das trevas: porque não sabem do que se trata.", isso descrevia bem o que Jungkook sentia naquela noite.

Jungkook estava tentando dormir, a imagem de Yoongi chorando quieto, não saia de sua mente, eles não foram ao funeral porque não houve um, a família Min tinha uma tradição de cremar os corpos quando havia alguma morte.

Ele se revirava na cama, não conseguia dormir por nada, fechava os olhos, cantou uma música, contar carneirinhos, nada adiantava, mas depois de longas horas ele foi vencido pelo cansaço.

Seus pensamentos estavam tão atordoados que não dormiu por muito tempo, Jungkook acordou gritando depois de um terrível pesadelo. Seu pai apareceu rapidamente na porta de seu quarto.

- Filho?

- Pai! Pai eu... eu... - Jungkook estava ofegante e com medo.

- Hey... está tudo bem.. - o pai dele sentou na cama e o tomou no braços.

- Pai... eu... eu não quero que você morra... - Jungkook começou a chorar.

- Meu anjo, meu amor, eu estou aqui, não vou morrer.

- Eu tive um pesadelo.... é.... horrível... - Jungkook mal conseguia falar. - O Yoongi.. ele.. ele nem falava... o pai dele... morreu...

O pai dele o abraçou forte, Jungkook chorava sem parar, não sabia descrever ao certo o que sentia, não sabia nomear as sensações que vinham de seu coração, mas sentia medo, muito medo.

- Filho, olhe aqui para mim.. escute. - O pai dele o olhou - A morte pode ser terrível, feia, devastadora e muitas vezes, ela pode ser injusta. Eu posso sentar aqui e dizer que isso é o ciclo natural da vida, mas isso todo mundo diz, é uma forma de consolo, uma explicação simplista para algo que não entendemos.

- Mas porque?

- Por que o ser humano é egoísta filho.

- Egoísta? Como assim pai?

- Eu não estou de dizendo que todo mundo quer morrer, mas somos nós, os vivos, que sofremos. Sofremos com o fim, sofremos com o rompimento, sofremos com a separação. Não queremos deixar a pessoa partir.

- É porque a pessoa faz falta! - Jungkook limpou as lágrimas.

- Sim, a pessoa faz muita falta, e por isso somos egoístas, porque não queremos sentir falta, queremos a pessoa pra sempre ao nosso lado, para que nós não soframos. - a voz do pai dele era calma.

- Somos ruins por isso?

- Não filho. Mas.... a vida acaba, uma hora tudo tem um fim, eu sei que sempre tentamos prolongar as coisas ao máximo, mas a verdade é que somos mimados, queremos tudo do nosso jeito. O ser humano é assim.

- Quando eu vi o Yoongi, ele parecia não estar ali, sabe? Era como se só o corpo dele estivesse ali.

- Cada um tem um jeito de lidar com a morte, alguns negam, outros choram sem parar, algumas pessoas demoram para entender... cada um tem um jeito de organizar isso dentro de si.

- O Yoongi vai ficar bem? O que eu faço pra ajudar ele?

Jungkook estava confuso e um pouco apavorado, o pai dele mexeu no cabelo dele e enxugou suas bochechas.

- Yoongi vai precisar de tempo filho. Ele vai precisar de apoio, sim, mas vai precisar de tempo para digerir tudo isso. Não o pressione, não o cobre, deixe ele viver o luto dele. Talvez ele fique irritado, ou chorão, talvez ele queira se isolar ou talvez dê a louca nele e saia beber em festas. Ele vai ter um jeito de lidar com isso e é bom que vocês respeitem o momento dele.

- Certo... Eu só estou...

- Confuso?

- Com muito medo, pai.

- Medo de que? De não saber lidar com Yoongi?

- Medo de te perder.. - Jungkook voltou a chorar.

- Meu filho, eu estou aqui, agora com você. Eu sei que não fui o melhor pai do mundo e com certeza não vou ganhar o título de pai do ano mas, independente de qualquer coisa, orientação sexual, namorados, amigos, festas, bebidas, escola, faculdade, independente de tudo, eu sou e sempre vou ser seu pai, em vida e em morte, e nada e nem ninguém pode mudar isso.

- Eu sei pai... - Jungkook chorava descontroladamente.

- Estou aqui meu amor, estou aqui.

Jungkook chorava sem parar, o pai dele ficou ali o aninhando, como seu bebê. Um bebê que acordou a noite, depois de um pesadelo, um bebê que só queria colo e um pouco de carinho.

- O que você acha, da gente descer, comer bolo e depois jogarmos aquele jogo seu? - o pai dele o olhou.

- Que bolo? Qual jogo? - Jungkook limpou os olhos.

- Tem bolo de cenoura com cobertura de chocolate lá embaixo. E podemos jogar aquele jogo de fazer casas, aquele que tem a família.

- The sims?

- Esse mesmo. O que acha?

- Quem fez o bolo pai?

- Sua mãe.

- Eu quero! - Jungkook sorriu. - Mas, não tá tarde?

- Você vai contar pra sua mãe?

- Não..

- Então vamos!

Jungkook se levantou e foi lavar o rosto, estava inchado de tanto que ele chorou, seu pai o esperava na porta, era a primeira vez, desde que Jungkook era criança, que ele e seu pai faziam algo juntos.

Eles desceram e pegaram o bolo, Jungkook disse que café combinaria e eles fizeram café de madrugada. Comeram quase metade do bolo sozinhos e beberam uma garrafa toda de café.

Jungkook pegou seu notebook enquanto seu pai tirou os papéis de cima da mesa de centro da sala, que era onde ele trabalhava a noite. Eles sentaram no chão e começaram a jogar, o pai de Jungkook não era muito bom em fazer casas e ele se divertia com o desastre que ficava o lar de seus sims.

A mãe de Jungkook acordou com a risada alta dos dois, ela parou na ponta da escada e viu eles rindo e se divertindo, na cozinha estava a vasilha com o metade do bolo e as xícaras sujas.

Ela não disse nada, nem se aproximou muito, era quase quatro da manhã e os dois estavam na sala rindo como se estivessem só no mundo deles, a mãe dele sorriu e voltou para cama, deixou eles terem um momento tão precioso de pai e filho.

Conectando.. -- JiKookOnde histórias criam vida. Descubra agora