Um.

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Inaê narrando.

Minha vida nunca foi das mais fáceis, vocês me entendem? Desde sempre, fui criada sem meus pais. Na verdade, fui abandonada no pé do morro, e se não fosse dona Conceição, eu nem sei se estaria viva agora. Bom, eu nem estaria né? Não faço ideia de quem seja meus pais, e nem faço questão de saber. Me largaram a míngua quando ainda era um bebê.
Não foi a vida que eu pedi a Deus, mas não posso reclamar né? Tenho saúde, e apesar de ser um emprego super desagradável, mas, digno.
Moro no morro do alemão, não tenho amizades, e prefiro continuar assim.

Conceição: menina, você precisa sair um pouco dessa casa. - disse, me analisando.
Inaê: Não, mãe. - resmunguei, mudando os canais. - Aqui nenhuma presta, só pilantragem.
Conceição: Você está enganada, viu mocinha? - olhei pra ela, erguendo uma sobrancelha. - Tudo bem, algumas sim.
Inaiê: Todas né, mãe? - ela revirou os olhos, e eu ri fraco.
Conceição: Tem é que curtir, só fica enfurnada nessa casa. - neguei, e ela respirou fundo. - Vamos a sorveteria? - olhei pra mesma, apreensiva.
Inaê: E eu posso negar? - ela fechou a cara, e eu ri. - Vamos, enjoada.
Me levantei, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo, ajeitei minha roupa e calcei minha havaiana, peguei um dinheiro e desci.
Apesar de morar em uma favela, nossa casinha era incrível. E eu nem sabia de onde minha mãe arrumava dinheiro, não éramos ricas, mas nunca passamos fome. Eu trabalhava mesmo por pura diversão (mentira, só pra reclamar do serviço mesmo), hahahaha.
Saímos de casa, não era algo muito comum, só dona Conceição que vivia batendo perna.
Mas pra mim, 19 anos na cara, se eu saí ali umas 4 a 5 vezes foi muito.
Eu parecia um peixe fora d'água, e o pessoal, ah, eles faltavam me comer pelos olhos.
Grazi: E aí, tia. - chegou uma moreninha, com os cabelos enroladinhos, linda que só. - Só roletando por aí. - riu, abraçando minha mãe e eu encarei as mesmas. Logo em seguida, a garota me olhou. - Oi linda! - eu acenei com a cabeça.
Conceição: Não é todos os dias que minha criança quer andar por aqui. - minha mãe riu, e eu dei um sorriso fraco.
Grazi: Um desperdício não querer andar por aqui, linda do que jeito que é. - eu gargalhei.
Inaê: Não é minha vibe ficar andando por aqui. - neguei. - Prefiro ficar em casa mesmo, quietinha. - Começaram a conversar iguais tagarelas, neguei e fui obrigada a interromper. - Vocês não sentem calor? Meu Deus. - as duas riram e me puxaram pra sombra.

[...]

Grazi: Menina, como eu não te conheci antes? - me encarou, tomando seu sorvete. - Caraca tia, e eu aqui precisando de amizade. - fez careta.
Conceição: Grazi, essa minha filha só quer ficar dentro de casa.
Inaê: Em minha defesa... - minha mãe me interrompeu.
Conceição: Não tem defesa, Inaê. Hoje mesmo eu falei pra você sair. - eu prendi o riso. - Parece louca, aquelas guria psiquiatra.
Inaê: Mãe... - ela deu de ombros.
Grazi: Meu irmão vai fazer o baile hoje. - disse despreocupada, encarei a mesma. - Que foi?
Inaê: Seu irmão é... - procurei as palavras, e a mesma riu.
Grazi: O dono dessa joça.. - resmungou. - VT, aquele insuportável. - disse, exausta.
Inaê: Não vou não. - falei na lata, e minha mãe me olhou. - Ah não, mãe.
Conceição: Se não gostar, Graziela te trás de volta. - a garota na hora concordou, neguei, mas concordei.
Pagamos o sorvete e fui com minha mãe pra casa.
Grazi já tinha pego meu número, iríamos marcar tudo certinho pelo WhatsApp. Não tava muito afim, mas se eu não fosse, era perigoso minha mãe dá um treco.

[...]

21:00 PT

Grazi: Porque você não sai logo? - gritou, do outro lado da porta. Eu ainda me olhava no espelho. Tanto tempo que eu não me arrumava, que eu ficava me estranhando. - Bora logo, Inaê.
Inaê: Fiquei estranha. Não gostei. Acho que nem vou mais. - Disse nervosa, me encarando.
Grazi: Eu vou derrubar essa porra. - Disse estressada. - Deve que ficou parecendo uma bolsa da Chanel e fica de conversinha. - gargalhei.
Abri a porta e a mesma me olhou pasma.
Inaê: Eu disse que tava feio. - bufei. Grazi me deu dedo.
Grazi: Tô dizendo, parece uma bolsa da Chanel, misturado com um salto da Louboutin. - neguei, rindo. - Lindíssima. Agora vamos, quero beber muito.
Peguei uma bolsinha de lado, coloquei meu celular, minhas chaves e meu cartão.
Descemos e minha mãe logo elogiou a gente.
Pedi a bênção, e me despedi dela. Saímos e logo dei de cara com um Corolla.
Grazi: Entra aí, minha gata. Bora logo. - disse, dando a volta.
Inaê: Isso é seu? - falei surpresa, ela me olhou e concordou. - Nossa.
Grazi: Pro meu irmão, isso é de menos. - fez careta. Eu ri.
Ela acelerou e fomos pra quadra onde tava rolando o baile.
Ela estacionou o carro, desligou o mesmo e logo descemos. Se eu soubesse que ali seria o começo de uma história maluca, eu realmente, não teria ido.

Entre nós: Amor e crime.$2 Onde histórias criam vida. Descubra agora