Razão e sentimento (parte 3)

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Ela estava apaixonada por ele.

Tinha acabado de se dar conta, talvez já soubesse e apenas estivera adiando o óbvio.

Estava apaixonada por ele, no entanto, agora não fazia ideia de como lidaria com isso.

Precisava analisar a situação.

Ele havia estado com ela nos últimos quatro dias;

Esteve presente quando o pai abriu os olhos;

Esteve presente quando o desespero dele tomou conta dela;

Esteve presente quando o estado dele se agravou à dois dias atrás;

E estava presente agora quando ele se encontrava estável novamente.

Mas ele não ficaria para sempre, não poderia ficar.

Ela percebeu isso à três dias atrás, quando seu pai tentou sorrir ao vê-la.


Viu os olhos dele transbordarem quando segurou sua mão, como conseguiu ficar dois anos longe do olhar atento dele?

Aquele homem a conhecia melhor que qualquer outra pessoa sobre a face da terra.

Agora Serkan acabava de deixar o quarto em uma ligação importante com Nova York, seu pai apertou sua mão sobre a mão esquerda dele.

- Seu na... morado? – Perguntou com a voz arrastada.

Eda apenas sorriu.

- Ele pare... ce bom.

- Ele é! – Algo triste tomou conta dela, Ele era realmente bom.

Irritantemente bom, tiranamente bom, arrogantemente bom.

E ela tinha se apaixonado idiotamente por ele. – Mas não vai dar certo!

Ela viu a confusão no rosto dele.

- Ele é um daqueles que você vivia dizendo pra eu ficar longe. – Ele apertou sua mão – você sabe, bonito e arrogante.

Riu baixinho. – E ainda é advogado, eu trabalho pra ele.

- Seu che...fe? – Eda assentiu.

- Primeiro erro!

Ele tentou sorrir, o coração dela se partiu.

Serkan voltou para o quarto, dois pares de olhos o encararam.

- Era o Engin!

- Outra audiência?

- Sim, mas eu...

- Serkan... – Ela se levantou. – Não pode ficar adiando o seu trabalho desse jeito.

- O Engin pode cuidar de tudo.

- Eu sei que sim, mas ele não é você!

- Não vou te deixar sozinha. – Baixou o tom de voz se aproximando dela.

- Eu não vou ficar. – Ele a encarou – eu já falei com as meninas e Fifi vem amanhã, ela tem horários mais flexíveis.

- Por que não me disse?

- Porque você iria dizer não novamente. – Ele colocou as mãos nos bolsos.

- Eu diria porquê...

- Porque não quer que eu fique sozinha, e agora eu não vou ficar. – Buscou os olhos dele. – Mas não poderemos adiar para sempre, você precisa voltar para Nova York e eu...

- Talvez tenha um jeito...

- Vamos conversar lá fora? – ele assentiu. – Eu já volto. – Sorriu para o pai.

Fechou a porta atrás de si, ouviram o auto falante convocando médicos a seus destinos, Eda se virou para ele.

- Você atrasou quatro dias da sua vida por mim, não dá para atrasar mais isso...

- Eu não atrasei minha vida Eda, você precisava de mim.

- E você ficou, mas agora seu trabalho precisa de sua atenção. – Ela levou a mão a testa e logo a deslizou pelos cabelos esbarrando em seu rabo de cavalo. – Meu pai está estável, eu estou bem na medida do possível, Fifi estará aqui amanhã, você tem uma vida em Nova York.

- Eu te disse que talvez...

- Não tem um jeito, você vai e eu vou ficar.

- Talvez possamos transferi-lo.

- Não podemos, o plano dele é estadual e por mais que ele receba alta daqui a cinco ou seis dias. Existirão outras despesas médicas. – Respirou fundo – Meu apartamento não tem estrutura para recebe-lo nessas condições, pelo amor de Deus meu prédio nem tem elevador.

- O meu tem! – Ele se aproximou dela.

- Não! – baixou o olhar. – Não, posso te pedir isso.

- Você não está pedindo.

- Eu não aceitaria isso, o meu pai não aceitaria isso!

- Por que? – ele ergueu o queixo dela – A uma semana você enfiou um cachorro na minha casa...

- Um cachorro que você nem deu um nome Serkan, aquele é seu espaço. – Suspirou – A vida dele está aqui.

- E quanto a sua?

- Eu não vou... não vou por minhas necessidades na frente das deles agora, não vou deixá-lo.

- E quanto a nós? – Eda sentiu o ar sumir de seus pulmões, seus olhos arderam, seu estomago se revirou.

- Nós sabíamos dos riscos.

- Os riscos de trabalharmos juntos.

- Bom, agora são os riscos de estarmos em estados diferentes.

Esse era um daqueles momentos em que sua vida encontra uma bifurcação, dois caminhos para dois futuros diferentes.

A questão era que não existia a possibilidade voltar para Nova York com ele, porque ela não teria estruturas para cuidar do pai lá, o plano da empresa não iria cobrir as despesas em outro estado, o apartamento dela não atendia as necessidades atuais dele e nem dispunha de espaço, ela não teria tempo de cuidar dele se tivesse que trabalhar em dois empregos para pagar uma sessão semanal de fisioterapia, quando ele provavelmente ira precisar de no mínimo três.

Ela não poderia aceitar a ajuda dele, porque isso significava que seria dependente dele. E por melhores que fossem as intenções, aquele era um passo muito grande para o relacionamento prematuro deles.

Ele teria que assumir responsabilidades não apenas com ela, mas também com o pai, o pai dela, a responsabilidade dela.

Ela daria um jeito, lidaria com isso, cuidaria de tudo. Mesmo que significasse estar longe dele.

Então era isso, Serkan Bolat voltaria para Nova York.

E Eda Yldiz voltaria para casa, para Cleveland, Ohio.

- Veja pelo lado positivo. – Lutou para manter as lágrimas longe dos olhos quando encontrou os dele, estavam escuros, tumultuados. – Vai finalmente se ver livre do desastre que eu sou.

Tentou sorrir.

Ele não.

- Acontece que não era isso que eu queria. – Serkan se virou no corredor se distanciando dela, parou na metade do caminho, o coração dela deu um salto. Ele precisava ir ou ela não conseguiria dizer adeus a ele de novo. – Ele se chama Sirius.

Então lhe deu as costas, e ela o observou partir sem conseguir conter o nó em sua garganta se apoiou junto a parede, sentindo seu corpo fraco demais para se manter de pé, escorregou até o chão, afundou o rosto entre as mãos.

- Sirius... - disse baixo para si mesma.

Sentiu como se tivessem acabado de lhe arrancar o coração.

A outra ponta de seu fio vermelho tinha acabado de partir. 

Acaso perene |✅| [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora