Consequências (parte 2)

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Estava claro.
Sentiu dificuldade em abrir os olhos, não se lembrava de ter ido dormir.
Lembrava de estar na exposição e de...
A sim...

As lembranças voltaram, sua cabeça latejou, ouviu o estômago roncar.
Algo lambeu seu rosto.
Ergueu a cabeça.
- Sírius? - a voz sonolenta se arrastou.

- Acordou! - se exaltou virando na cama. - Como se sente?

Como tinha ido parar na cama dele?
Como estava de ressaca sem ter posto uma gota de álcool na boca?

- Como cheguei aqui?

- Você desmaiou, não se lembra?
Negou.
- Está se sentindo bem?

- Bem... Minha cabeça dói um pouco.

- Estresse! - Ela balançou a cabeça - Não se lembra de ter virado uma taça de espumante em cima da Selin?
Disso ela lembrava.
E lembrava de estar com raiva dele também.

- Ela me provocou.
Ele apertou os olhos nela.
Sirius apoiou a cabeça contra sua barriga.
Inconscientemente as mãos foram para cabeça dele. - Culpa sua!

- Claro! - Suspirou se levantando.

- Aonde vai? Não terminei de brigar com você.

- Quer que eu fique para brigar comigo?
Ela assentiu.
Ele cruzou os braços.
E logo deixou o quarto.

Encarou o cachorro apoiado confortavelmente em sua barriga.
Como ele tinha crescido tanto?

- Perdão! - sussurrou se levantando.
Rápido demais!
Passado a vertigem o seguiu pelo corredor.

- Você me vestiu?
Assentiu.
- Com que Direito?

- É sério? - se virou para ela. - Você está grávida, tem uma criança no seu útero, uma que eu coloquei aí, e quer saber com que direito eu troquei sua roupa?

Ela passou por ele batendo os pés irritada, Sirius a seguiu.

- Me diz uma coisa, nesses meses você se sentiu no direito de trocar a roupa de mais alguém? - sumiu na cozinha.

Se apressou atrás dela
- Do que está falando agora?

- Não sei, é só uma curiosidade... Sua sócia estava muito a vontade com você ontem!

- Está com ciúmes? Da Selin?

- Eu não tenho ciúmes Serkan Bolat eu só estou interessada em saber em que tipo de ambiente meu filho vai crescer.

- Filha!

- Que seja!

- Nesse caso eu também deveria perguntar que tipo de relacionamento você desenvolveu com aquele tal de Emre...

- Um relacionamento profissional!

- Ele não pareceu te olhar profissionalmente.

- Ah porque de profissionalismo você entende bem, não é?

- Isso foi baixo Yldiz!

- Tão baixo quanto você deixar aquela cobra se rastejar até a minha exposição.
Ele travou o maxilar.

- Já falamos sobre isso.

- É já falamos. - abriu a geladeira. - a propósito, já falamos de tudo menos do que vamos fazer agora. - fechou a geladeira - Por que diabos você guarda bananas na geladeira?

- Vamos conversar sobre o que vamos fazer então, mas antes você me deve um pedido de desculpas.
O olhar dela caiu para a banana em suas mãos.

- Você sabe que eu não fiz o que fiz por maldade ou intensão de te ferir, não sabe?
Ergueu o rosto para ele.

- Ainda assim feriu! - desviou o olhar - eu te pedi para ficar, e você decidiu sozinha que era melhor anular nós dois, ainda assim eu te liguei todos os dias mesmo depois que parou de me atender.
Te enviei mensagens que nem sei se chegou a ler e se chegou a ler torna ainda pior porque mais uma vez você decidiu me ignorar.
Então você pega algo assim - apontou para a barriga dela. - e decide de novo sozinha, que era melhor esconder de mim.

- Eu já disse que eu não fiz intencionalmente.

- É você disse, e eu tô tentando entender Eda... Porque eu entendo que sua vida não estava fácil, eu entendo cada pedra que teve que arrastar sozinha, mas foi escolha sua. - afundou as mãos nos cabelos. - Eu nunca tinha deixado alguém chegar tão perto de mim como você chegou.
E isso me assustou tanto, porque quanto mais eu tentava te afastar, mais perto você chegava, você me conheceu mais em poucos dias do que qualquer outra pessoa na minha vida em anos.
Se tornou íntima, me transformou em algo novo, me tornou vulnerável e depois não ficou para ver.

- Serkan...

- Você sabe o que eu senti quando soube por outros sobre seus quadros?  Eu fiquei tão feliz, tão orgulhoso de você e então eu lembrei que não estaria lá para ver isso, porque mais uma vez você me anulou.
E então você aparece no meu escritório, e eu não consigo nem sentir raiva de você porque eu senti tanta sua falta que tudo que eu queria era poder te abraçar.

Um soluço escapou dos lábios dela.
As lágrimas correram pelo rosto.

- E aí eu descubro que mais uma vez você me anulou, da única coisa que eu nunca imaginei ter, porque eu nunca acreditei que fosse capaz de sentir qualquer coisa por alguém que pudesse chegar a se multiplicar algum dia.
As lágrimas molharam  olhos dele.

- Me desculpa! - disse entre soluços, a voz embargada pela culpa. - Eu... Eu não queria que as coisas fossem desse jeito. Eu não quis te anular, eu estava sozinha, confusa e com medo.
Aconteceu tudo tão rápido, nós dois, meu pai, a gravidez, eu... Eu só não consegui processar as coisas corretamente a tempo.
Eu estava sufocada Serkan!
E tudo que eu queria era te atender, e responder suas mensagens, porque droga... Eu sentia tanto a sua falta. Mas eu sabia que no instante em que eu escutasse a sua voz eu não conseguiria te dizer adeus de novo. - a voz estava trêmula, assim como seu corpo. - E eu não tinha o direito de te pedir para ficar, porque a sua vida está aqui. - respirou fundo.- E eu ainda não tenho!
Então me desculpe por ter sido tão egoísta. - levou as mãos ao rosto molhado. - E agora, eu te pergunto, o que vamos fazer ? Porque tudo o que eu não quero é que você se sinta anulado de novo, eu só quero que saiba que é parte disso, porque isso é parte de você também.

O silêncio permaneceu entre eles, apenas os olhos falaram.

Dor;
Ressentimento,;
Medo;
Saudade;
Desejo;
Amor;
Esperança.

Ela buscou o ar que havia perdido minutos antes.
E então passou por ele se detendo na metade do caminho.

- Eu preciso pegar um avião. - ele não se virou.- me ligue quando decidir o que fazer.

Acaso perene |✅| [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora