Razão e sentimento (parte 2)

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Eda se sentou com um copo grande de café entre as mãos, estava quente e a fumaça leve aquecia a ponta de seu nariz, um médico atravessou a sala e se dirigiu a uma família, minutos depois o som lamentado do choro ecoou pelo lugar.

Eda abaixou o olhar para o copo nas mãos, uma sensação de reconhecimento se formou dentro dela, se sentiu tonta.

Oito anos antes ela esteve sentada do outro lado daquela mesma sala, oito anos antes ela se sentiu exatamente como aquelas pessoas, oito anos antes ela se quer poderia se imaginar sentada ali novamente.

A noticia boa?

Desta vez a pessoa pela qual esperava notícias estava viva.

Serkan se sentou ao seu lado e lhe entregou um sanduiche.

- Não estou com fome Serkan.

- Eu disse que em algum momento você teria que comer. – Ele tomou o café de suas mãos. – Está abatida e fraca se continuar se recusando a comer, vou ser obrigado a te visitar em um dos quartos daqui. – Beberricou o café. – Nossa isto está horrível.

Ela o encarou.

- Não pode falar mal do meu café.

- É péssimo! – ela mordeu o sanduiche a contra gosto – Cleveland, quem diria. – Falou sorrindo.

Eda o encarou.

- Nunca passou pela minha cabeça que você fosse de Ohio.

- Você não conversa muito com a Ceren, não é? – ele torceu o rosto.

- Antes de você, apenas profissionalmente na verdade.

- Ela fala com muito orgulho da cidade natal... Sempre.

- E quanto a você?

- Eu gosto daqui, principalmente no inverno. – falou com a voz fraca.

- Sente falta de estar aqui?

- As vezes, morei aqui a minha vida toda..., mas não é a mesma coisa agora.

- Por causa do seu pai?

- Também. – Desviou o olhar dele. – Eu estava sentada bem ali quando recebemos a noticia da morte da minha mãe. – Havia um homem de meia idade sentado na cadeira que ela acabava de apontar. – Não esperava voltar para este mesmo hospital, ainda mais para... – suspirou.

- Para visitar seu pai!

- É! – cobriu o sanduiche. - Eu tinha acabado de fazer dezoito anos, eu estava meio perdida quanto a faculdade, ela vivia me dizendo que não precisava apressar as coisas porque no momento certo tudo se resolveria. – Apertou os nós dos dedos – estávamos voltando de um jantar com alguns dos amigos dela, um deles queria que ela concordasse em expor alguns de seus quadros na galeria dele, seria a primeira vez desde que eu nasci.

- O que aconteceu?

- Ela tinha bebido um pouco, me pediu para dirigir... – inspirou. – Estava chovendo.

- Vocês bateram? – os olhos dela se encheram.

- Eu... disse que não era uma boa ideia, eu não era uma boa motorista. – Serkan apertou seus dedos nos dela. – Ela insistiu... - puxou o ar -  eu ainda consigo ouvir a voz dela no banco ao lado, consigo ver a expressão no rosto dela, ela estava tão feliz... Um carro na contramão, invadiu a nossa pista eu não consegui desviar.

-Sinto muito. – disse baixo.

- Eu sai com um corte superficial na testa e uma lesão pelo cinto de segurança, ela passou quatro dias em coma induzido antes de...

- Não precisa me contar... – Eda sentiu o estomago revirar. – Parece difícil estar aqui.

- Seria ainda mais se eu estivesse sozinha...

Ele assentiu com um gesto, rodeou os ombros dela com o braço, fazendo com que ela apoiasse sua cabeça em seu obro, então depositou um beijo sobre os fios escuros.


Meia hora depois uma enfermeira veio até eles para avisar que poderiam entrar para vê-lo.

Ele tinha sido transferido para um quarto conjunto, mas no momento era o único paciente ocupando o espaço.

Eda havia comprado flores e as colocou em um vaso ao lado da cama, ele ainda estava sedado.

- Vejo que a senhora seguiu meu conselho e descansou ontem. – O médico acabava de entrar com seu estetoscópio pendurado envolta de seu pescoço. – Como estão?

- Bem. – Eda se afastou da cama quando ele se aproximou. – como ele está?

O Doutor se calou por um tempo, verificando o monitor cardíaco.

- Bom, pelos exames dessa manhã não tenho notícias tão animadoras quanto gostaria de ter para vocês.

Se virou para eles.

- O lado direito não responde a incentivos, não vimos reflexos e tem uma possibilidade de que a fala tenha sido afetada também.

Eda reprimiu os lábios tentando afastar a vontade de chorar.

- Você entende o que isso quer dizer? – o medico a questionou.

- Ele tem chances de recuperação?

- Não posso ter uma afirmação quanto a isso. - Estudou o rosto dela - Seu pai já passa dos quarenta, a recuperação vai depender única e exclusivamente dele. Mas precisa entender que é um processo que levará tempo, não vai acontecer em dias ou daqui a duas semanas. – Fez uma pausa – O estilo de vida que ele levou até aqui será um fator importante no processo, mas o fator psicológico será o maior aliado, ele vai precisar de todo o apoio.

A mente dela girou, o pai sempre foi saudável. Praticava atividades físicas enquanto ela crescia, se alimentava bem, sempre teve bons hábitos, e vivia pegando no pé dela para que se alimentasse de maneira correta. 

Mas aparentemente nada disso pareceu ser o suficiente para ele. 

O médico deixou o quarto.

Eda se sentou ao lado dele tomando as mãos nas suas, estavam frias.

Passou um tempo calada, estudando o rosto dele, parecia- se mais com o seu pai agora do que horas atrás.

Ela ficaria ao seu lado, ficaria ao seu lado o tempo que fosse necessário, ficaria enquanto ele precisasse dela.

Não teria sentimentos egoístas dessa vez, não viraria as costas para ele de novo.

Dois anos atrás ela deveria ter tido uma atitude mais madura em relação a ele, não deveria ter fugido com a desculpa de que estava cansada de viver como a sombra de alguém, mas dois anos atrás ela não tinha o amadurecimento que tinha agora, dois anos atrás ela permitiu que a tristeza por perder algo que julgava importante interferisse em suas atitudes.

Hoje ela não faria isso!

Seu coração bateu forte quando viu a figura do homem distraído olhando pela janela.

Dois anos atrás ela perdeu a tutela e proteção de seu pai por egoísmo.

Agora parecia perto de perder o afeto daquele homem por amor.

Não parecia certo ter que abrir mão de um para estar próxima á outro.

Os dois únicos homens capazes de despertar sentimentos profundos nela, se abrigavam em lados opostos.

Conseguiu escutar a voz de Ceren em sua cabeça "está apaixonada por ele".

 Ela tinha razão.

E isso, era uma droga! 

Acaso perene |✅| [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora