Resiliência (parte 1) ❣️

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A tinta azul em seu pincel marcou a tela escorrendo pelo espaço em branco iluminado pela luz que atravessava a janela.
As vozes das crianças na rua enchiam seu quarto.
Estava ali a tempo demais, quase três horas seguidas e nada, nada além de pinceladas vazias.

Estava frustrada, sua mente exaurida.
Quanto tempo fazia desde que deixará Nova York?
Ah sim;
Uma semana;
Sete dias;
168 horas,
10080 minutos;
604800 segundos.

Tinha acabado de entrar na décima sétima semana, ainda esperando que o telefone tocasse, mesmo que na madrugada e como consequência vinha tendo péssimas noites de sono.
O que era ruim, porque precisava dormir.
Então passava o dia com sono, e não conseguia se concentrar na única coisa que aliviava seu estresse.

Estava desperdiçando suas tintas com telas vazias enquanto sua mente se fixava em uma única coisa...

Ele tinha desistido dela?

- Querida! - seu pai parou a porta estudando-a por cima do cavalete. - Não vai comer? Já é quarta vez que te chamo.

Bateu sua bengala recém adquirida contra a parede chamando sua atenção.

- Sim... Só quero terminar isso!

- Já está aí a tempo demais, termine depois de comer.
Fitou o rosto preocupado dele se dando por vencida.

- Certo! Vamos comer...
O seguiu pelo corredor aguardando até que ele alcançasse o primeiro andar.

- Qual o cardápio de hoje?

- Caçarola.

- A senhora Jones anda caprichando nas receitas essa semana, né? - piscou para ele se sentando.

- Bom, ela deve sentir pena de mim por ter que comer a sua comida!
Uma risada alta escapou dela.

- Na minha opinião, ela não está interessada apenas em te alimentar.

- O que quer dizer? - perguntou preenchendo um prato.

- Você sabe! - estendeu as mãos aceitando o prato que ele acabava de servir. - Vocês parecem próximos.

- Ela é uma boa vizinha!

- E divorciada...

- Querida!

- Okay, não falo mais do assunto... - Levou o garfo a boca.

- Ótimo!

- Mas acho que deveria convidá-la ao menos para dividir com você uma das refeições que ela te manda.

- Eu prefiro dividir com você. - ele a estudou - você precisa comer...
A mastigação dela se tornou lenta.

Não tinha contado a ele ainda, estava esperando o momento certo que nunca chegou.
Mas talvez tivesse acabado de chegar.
Soltou o garfo sobre o prato buscando os olhos dele.

- Pai! - se concentrou nela.- tem uma coisa que eu preciso te contar, sobre mim.

- Tudo bem, estou ouvindo. - apoiou os cotovelos sobre o tampo da mesa de madeira coberta por uma toalha repleta de maçãs.

- Okay, eu... Aconteceu uma coisa. - limpou a garganta - na verdade tá acontecendo ainda... É que... - Fechou os olhos procurando as palavras.

" Pai! Estou grávida! "
"Papai, estou esperando um filho do meu chefe!"
" Pai você será avó! "
É com certeza a última.

Pigarreou reiniciando a frase. - Pai, eu... Você.

- Está grávida! - Eda pareceu se engasgar com a própria saliva.
Tomou um pouco da água em seu copo e se voltou para ele.

Acaso perene |✅| [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora