Estava sendo uma primavera fria, uma camada tímida de neve cobria tudo de branco ao redor.
Fina demais para prender os pés, mas frio o bastante para te congelar os dedos.Mas não era um problema para ela, seu corpo estava semi anestesiado, estava enfrentando sua própria tempestade de neve.
Seus olhos se prenderam nas crianças correndo na rua, suas roupas sendo cobertas pela fina camada que caia do céu.
Uma delas abriu a boca apanhando os flocos que derretiam imediatamente.
Uma risada alta chegou aos seus ouvidos, sentiu o coração acelerar e pela primeira vez em dias sentiu vontade de sorrir, mas não sorriu, tão rápido quanto o som alegre atingiu seus ouvidos se dissipou.
Fechou as cortinas, seu ritual matinal tinha terminado.Esbarrou em um quadro ao deixar o quarto a boca do seus estômago se apertou ao ver a imagem, porque ela ainda guardava isso?
Desceu as escadas, teve um vislumbre de uma garotinha sorridente com um lápis na mão acenava para ela no canto da sala, era a lembrança de uma Eda que foi feliz ali.
A Eda de agora sentia que já não pertencia mais aquele espaço.
Seu pai estava na cozinha assobiando Can't Help Falling in Love enquanto cortava frutas para o café. Restavam poucos rastros do tempo que havia passado em uma cama.
Ela se sentou à mesa capturando uma maçã entre as mãos.
Os olhos arderam quando o pai assobiou "Some things are meant to be".Quatro meses desde a última vez que o viu.
Quatro meses desde que sentiu os braços dele em volta de seu corpo.
Quatro meses desde que seu coração se partiu.
Quatro meses que vinha adiando o inevitável.Passou as mangas do casaco sobre os olhos, suspirando fundo quando seu pai se virou em sua cadeira.
- Tudo bem querida?
Concordou com a cabeça, sabia que se tentasse falar sua voz embargada a entregaria, não queria deprimir mais ninguém com seu estado.
Já bastava ela.- Vai ao estúdio hoje?
Negou.- Emre disse que você vai expor logo.
- Eu... Na próxima semana se correr tudo bem.
- Você deve estar muito feliz com isso. - espetou uma banana com o garfo - depois de todo seu esforço.
- Eu estou! - muito feliz.
Estava conformada, algo bom estava acontecendo.
Tinha encontrado algo em que era realmente boa, e o mais irônico de tudo é que era algo que fez durante toda a vida.Nos últimos meses vinha se dedicando a pintura, passava a maior parte do tempo trancada com tintas e telas.
Cuidar do pai em tempo integral exigiu muito dela, e hoje vendo a recuperação dele viu o quanto tinha válido a pena.Ela estava feliz em vê-lo bem, conseguia fazer a maior parte das coisas sozinho, apesar da cadeira de rodas, sua mão ia melhor que sua perna atualmente.
Sentia que ele ainda precisava dela e ela não o abandonaria.
Não de novo.Mas no meio da loucura dos últimos meses, tinha perdido algo importante para ela.
Tão importante quanto o pai.
Tinha perdido a chance de estar com o homem que amava.
O pai de seu filho, um filho que ele ainda nem sabia que existia.As ligações haviam parado a quarenta e cinco dias.
Ela não o julgava, por que continuaria ligando para alguém que nunca o atendia?
Ainda não sabia como dizer a ele.Serkan tinha deixado sua vida.
Mas insistia em ficar em seu coração.Seu telefone tocou.
Uma ponta de esperança passou por ela, mas logo foi embora.
Por que ela não ligava para ele?
Porque era uma covarde.Ceren insistiu, seu humor não estava bom hoje.
*- Ligou para ele? - ouviu a respiração contra o telefone.
- Não!
- Você sabe que vai precisar falar com ele em algum momento.
- Eu sei... Eu só não estou pronta ainda.
- Eda... Ele precisa saber.
- Acha que eu não sei disso? - o pai a olhou, ela se levantou em direção a sala.
- Vai esperar até a criança nascer e aí dizer que deixaram na sua porta?
- Claro que não... - calçou as botas saindo para a varanda. - ele não me liga mais.
- É claro que não, você não o atende!
- E o que você quer que eu diga a ele ?
- Ah sei lá, talvez "eu estou bem e você? A propósito eu estou esperando um filho seu..."
- Ceren! Eu vou dizer tá... Mas não é algo que eu possa fazer por telefone.
- Eda, ele está sofrendo também. - suspirou - jantamos com ele ontem.
- Se quer me fazer sentir culpada parabéns.
- Não é isso... É só que isso tem uma solução simples.
- Qual Ceren?
- Conversem! Conte a verdade a ele. *Eda suspirou, ela estava certa não dava mais para esconder, não queria mais esconder isso dele.
Ela tinha desistido dele primeiro.
Não poderia priva-lo da escolha de ser pai.
Não poderia priva-lo de participar disso.
Mesmo que à quilômetros de distância um do outro, mesmo que não fossem estar juntos, mesmo que ele a odiasse depois de ter omitido dele.Ele tinha que saber.
Ela iria dizer a ele!
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Acaso perene |✅| [Em revisão]
FanficEda Yldiz tem 26 anos, três boas amigas e um histórico trabalhista desastroso. Depois de diversas tentativas frustradas em empregos mal pagos, e da sua última experiência como garçonete ela resolve que é hora de mudar. Precisa de um emprego que aj...