Razão e sentimento (parte 1)

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As paredes da sala de espera a estavam deixando agoniada, tinha enfrentado um voo de quatro horas e agora estava sentada esperando por notícias que não chegavam

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As paredes da sala de espera a estavam deixando agoniada, tinha enfrentado um voo de quatro horas e agora estava sentada esperando por notícias que não chegavam.
Serkan envolveu sua mão, ele estava ali.
Estava ali com ela, e queria que ela soubesse disso.
Ele tinha estado com ela desde que terminará a ligação com o hospital.

Ele a segurou;
A guiou;
A levou para casa;
Ajudou a preparar uma mala;
Reservou passagens;
Voou com ela de Nova York até Ohio.

Em plena semana, com um milhão de coisas que ele poderia estar fazendo, ele estava sentado em uma sala de espera segurando sua mão.

Eda sentiu seus olhos pesarem, mas não conseguia fecha-los, o medo não permitia.
Apoiou a cabeça no ombro dele, de maneira quase instantânea metade do peso que vinha carregando nas últimas horas desapareceu.

O médico atravessou a sala e removeu a touca azul de sua cabeça, usava avental cirúrgico.
Ele levou as mãos ao rosto e estudou o ambiente.
- Yldiz, família de Hilal Yldiz.
Eda se levantou o homem se aproximou dela.

- Como está? Sou o doutor Yang.

- Eda Yldiz, como está o meu pai?

- Acabou de passar por uma trombectomia. - Ele suspirou. - Seu pai sofreu um acidente vascular cerebral isquêmico.
A voz do médico ficou distante, o que ele estava dizendo? 

Seu coração se acelerou. 

Serkan a segurou pela cintura.
- Um vaso foi obstruído - a voz dele parecia abafada, ecoando em sua cabeça - com a cirurgia realizamos a desobstrução, mas não sabemos quanto tempo ele ficou sem assistência até ser encontrado.

- Sequelas? - Serkan perguntou.

- Não conseguimos mensurar ainda, mas...

- Mas? - a voz saiu baixa, o médico a olhou.

- Seu pai pode ter perdido autonomia parcial ou total do corpo. Precisamos esperar até que ele acorde para que possamos avaliar qual caminho tomar.

- Ele pode se recuperar, certo?

- Mais de 60% dos casos apresentam recuperações consideráveis, com a assistência correta...

- Eu quero vê-lo.

- Ele está sedado, vai ser transferido para o quarto amanhã.

- Ela não pode... – Serkan iniciou, mas foi interrompido pelo médico.

- Não há muito que vocês possam fazer hoje, aconselho que leve sua esposa para casa, você poderá vê-lo pela manhã.

- Eu quero vê-lo... - Apertou os olhos doloridos - hoje!
O médico os estudou por alguns segundos.

- Ela só precisa de alguns minutos. – Serkan insistiu.

- Não é permitido visitas, vão ter que vê-lo através do vidro.
Eda concordou, o médico os guiou pelos corredores.

Seu pai estava sedado, entubado e sozinho.
Sozinho em uma sala fria e impessoal.
Um lugar no qual ela nunca imaginou vê-lo.

Não lembrava o homem alegre que havia lhe ensinado a nadar durante o verão em que completou seis anos, tão pouco se assemelhava ao homem que dançava com ela pendurada sobre seus pés na sala de estar, não era o mesmo que lhe apresentou a diversidade das cores, mas ainda era seu pai.
O pai que tinha sofrido um acidente vascular cerebral.


Desde quando seu pai saudável e vivaz havia desenvolvido distúrbios?
Em algum momento antes deste dia ele havia se sentido mal?
Teria visto os sintomas?
Se ela estivesse ali, teria evitado?


Serkan tocou suas costas, ela respirou fundo se apressando para secar a lágrima que acabava de rolar pela maçã do rosto.

- Acho melhor irmos, você precisa descansar.

- Eu não quero ir! - sussurrou com o olhar preso no vidro que os separava.

- Eda! Vamos voltar pela manhã, já é tarde você precisa dormir. - Ela o olhou, ele não demonstrava sinais de cansaço. – Vai precisar estar bem amanhã. Por favor! – insistiu.

Piscou os olhos que começavam a arder e então aceitou a mão dele que a guiou para fora do hospital.

Ele havia conversado com o médico antes que deixassem o prédio, ela não estava ciente do que conversaram, mas o viu entregar um cartão enquanto esperava.

Ele estava tomando as rédeas das mãos dela, e momentaneamente ela agradeceu por não estar sozinha, por ele estar ali.


Serkan havia reservado um quarto de hotel próximo ao hospital para que ela pudesse estar mais tranquila.

Eda se sentou na cama e o estudou abrir sua mala.

- O que está fazendo? – perguntou com a voz arrastada, ele ergueu o rosto em um gesto rápido para olha-la.

- Procurando algo quente para você usar. – Ele parou por alguns segundos – eu poderia jurar que tinha posto um suéter de lã vermelho aqui.

- Eu tirei. – Ele suspirou – Aquilo pinica e eu odeio.

- Não colocou nada no lugar? – procurou na mala. – Não tem nada quente aqui.

- Tudo bem! – se levantou – eu posso usar este. – Tocou o tecido que usava desde que deixou Nova York algumas horas atrás.

- Olha. – Tocou os ombros dela – por que você não toma um banho enquanto eu desço até a loja do hotel e compro algo para usarmos? – ela olhou em volta.

- Ai meu deus, você não tem uma mala. – Levou as mãos ao rosto.

- Vou providenciar alguma coisa. – Um sorriso surgiu no canto de sua boca.

- Serkan Bolat vai fazer compras em uma loja de hotel?

Ele revirou os olhos.

- O que eu posso dizer? – tocou a testa dela com os lábios. – Eu sou um homem muito versátil.

O primeiro sorriso dela o deixou feliz. – E toda essa versatilidade vai providenciar algo para você comer.


Serkan voltou ao quarto depois de quase uma hora, encontrou uma Eda de cabelos molhados e olhos distantes sobre a cama.

Deixou as sacolas no sofá e se concentrou nela.

Secou seus cabelos.

Vestiu seu corpo com a coisa mais quente que encontrou na loja.

Um suéter de lã.

Pelo menos não era vermelho.

O serviço de quarto entregou a comida.

Massa, Eda adorava massa.

A deixou comendo e sumiu no banheiro.

Saiu alguns minutos depois, ela ainda estava sentada, o prato quase intocado.

- Você não comeu nada.

- Não estou com fome. – Se levantou voltando para a cama.

- Tudo bem, mas vai precisar comer em algum momento. – Ela apenas concordou, então se deitou.

Ele apenas a observou por alguns instantes, estava triste.

Sabia que não falava com o pai, sabia que tinha sentido falta dele e agora sabia que ela se sentia culpada.

Ocupou o espaço vazio ao seu lado a cobrindo com seu corpo, a sentiu tremer sob seus braços no instante em que eles a envolveram, o som dos soluços alcançou seus ouvidos ele a puxou mais para perto de seu peito.

- Ele estava sozinho! – disse entre um soluço e outro. – Eu deveria estar lá.

- Eda, não é culpa sua.

- Eu fui tão egoísta.

- Não tem como saber se ter estado lá teria feito alguma diferença.

- Eu teria prestado atenção, ele não...

- Eda, não tem como prever esse tipo de coisa. – Ergueu o rosto dela para si. – São um conjunto de fatores que não se pode controlar, você ter estado aqui não mudaria o que aconteceu.

Ela piscou, os cílios molhados.

- Eu poderia ter encontrado ele antes.

- Você não tem como saber disso... – afastou as lágrimas que recomeçavam a cair, ela apertou o rosto contra seu peito. – Tenta dormir um pouco. – A abraçou mais forte. – Eu vou ficar bem aqui.

- Obrigada! – Sussurrou contra o peito dele. 

Acaso perene |✅| [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora